Israel e o Crescimento do Antissemitismo 'Cristão'

Parte 3: O Cristo Pré-Encarnado

Autor: Jeremy James, 27 de março de 2015.


A Teologia da Substituição depende em parte da crença falsa que Cristo não teve contato algum com os filhos de Israel antes de encarnar em forma humana. Isto cria uma aguda separação entre o Antigo Testamento e o Novo Testamento, sugerindo que se o Novo substituiu o Antigo, então a igreja substituiu Israel.

É mais fácil manter essa falsa dicotomia se todas as teofanias relacionadas com Cristo no Antigo Testamento forem ignoradas. O caminho usual de fazer isto é interpretar essas teofanias como obra de um anjo ou "mensageiro" de Deus.

Felizmente, a Bíblia nos diz como evitar essa armadilha. Em Apocalipse, João ficou tão extasiado com a sabedoria e esplendor do anjo que falava com ele, que duas vezes tentou adorá-lo, mas em ambas as ocasiões foi repreendido pelo anjo, que lhe disse para adorar somente a Deus:

"E eu lancei-me a seus pés para o adorar; mas ele disse-me: Olha não faças tal; sou teu conservo, e de teus irmãos, que têm o testemunho de Jesus. Adora a Deus; porque o testemunho de Jesus é o espírito de profecia." [Apocalipse 19:10].

"E eu, João, sou aquele que vi e ouvi estas coisas. E, havendo-as ouvido e visto, prostrei-me aos pés do anjo que mas mostrava para o adorar. E disse-me: Olha, não faças tal; porque eu sou conservo teu e de teus irmãos, os profetas, e dos que guardam as palavras deste livro. Adora a Deus." [Apocalipse 22:8-9].

A partir disto, como sabemos que os anjos não permitem que alguém os adore e que somente Deus deve ser adorado, podemos seguramente inferir que, em qualquer ocasião em que um mensageiro dos céus é adorado, ele não pode ser um anjo. Além disso, se ele não pode ser um anjo e somente Deus deve ser adorado, então o "mensageiro" precisa ser divino. (Os anjos não são divinos, mas apenas seres criados.) Vejamos alguns exemplos.

Quando Josué estava prestes a iniciar sua campanha de conquista da terra de Canaã, recebeu a garantia divina que o exército do Senhor estaria com ele e com os filhos de Israel em todo o tempo:

"E sucedeu que, estando Josué perto de Jericó, levantou os seus olhos e olhou; e eis que se pôs em pé diante dele um homem que tinha na mão uma espada nua; e chegou-se Josué a ele, e disse-lhe: És tu dos nossos, ou dos nossos inimigos? E disse ele: Não, mas venho agora como príncipe do exército do SENHOR. Então Josué se prostrou com o seu rosto em terra e o adorou, e disse-lhe: Que diz meu senhor ao seu servo? Então disse o príncipe do exército do SENHOR a Josué: Descalça os sapatos de teus pés, porque o lugar em que estás é santo. E fez Josué assim." [Josué 5:13-15].

O homem que se identificou como "príncipe do exército do Senhor" era divino. O lugar em que ele estava era santo e Josué caiu com seu rosto em terra e o adorou. Ele não poderia ter sido o Pai, pois este "habita na luz inacessível; a quem nenhum dos homens viu nem pode ver" [1 Timóteo 6:16]. Tampouco é o Espírito Santo, que nunca é descrito como um homem ou com um líder dos anjos. Portanto, a pessoa divina precisa necessariamente ser Cristo, que revela o Pai ao homem:

"Deus nunca foi visto por alguém. O Filho unigênito, que está no seio do Pai, esse o revelou." [João 1:18].

Embora vários anos tinham transcorrido desde que os israelitas entraram e conquistaram a Terra Prometida, eles ainda não tinham cumprido a ordem do Senhor de destruir totalmente as tribos cananitas e seus altares pagãos. O capítulo 2 de Juízes registra um evento muito raro — uma teofania diante de uma grande número de pessoas — em resposta a essa falha:

"E subiu o anjo do SENHOR de Gilgal a Boquim, e disse: Do Egito vos fiz subir, e vos trouxe à terra que a vossos pais tinha jurado e disse: Nunca invalidarei a minha aliança convosco. E, quanto a vós, não fareis acordo com os moradores desta terra, antes derrubareis os seus altares; mas vós não obedecestes à minha voz. Por que fizestes isso? Assim também eu disse: Não os expulsarei de diante de vós; antes estarão como espinhos nas vossas ilhargas, e os seus deuses vos serão por laço. E sucedeu que, falando o anjo do SENHOR estas palavras a todos os filhos de Israel, o povo levantou a sua voz e chorou." [Juízes 2:1-4].

Aqui, "o anjo do Senhor" identifica-se com o ser divino que tirou os israelitas do Egito e os levou à Terra Prometida. Ele também se identifica com o ser divino que fez a aliança com os pais deles — Abraão, Isaque e Jacó — e que prometeu expulsar os cananitas se os filhos de Israel fossem obedientes à Sua palavra.

Esse mensageiro divino é Cristo, "o anjo do Senhor" (observe o artigo definido). Nesta teofania histórica diante dos líderes das tribos de Israel, o anjo do Senhor, o Cristo Pré-Encarnado, esmigalhou os dentes da Teologia da Substituição quando disse as seguintes maravilhosas palavras: "Nunca invalidarei a minha aliança convosco.".

Quando Adão caminhava no Jardim do Éden com Deus, estava caminhando com o Cristo Pré-Encarnado. Quando Caim cometeu seu crime terrível, foi o Cristo Pré-Encarnado quem veio até ele e proferiu aquelas palavras solenes sobre seu destino. Abraão falou face a face com o Cristo Pré-Encarnado quando este veio à sua tenda na companhia de dois anjos (que também assumiram forma humana). O anjo do Senhor — o Cristo Pré-Encarnado — também apareceu a Agar quando ela estava em aflição no deserto e grávida de Ismael. Ela até mesmo se dirigiu ao anjo do Senhor como Deus:

"E o anjo do SENHOR a achou junto a uma fonte de água no deserto, junto à fonte no caminho de Sur. E disse: Agar, serva de Sarai, donde vens, e para onde vais? E ela disse: Venho fugida da face de Sarai minha senhora. Então lhe disse o anjo do SENHOR: Torna-te para tua senhora, e humilha-te debaixo de suas mãos. Disse-lhe mais o anjo do SENHOR: Multiplicarei sobremaneira a tua descendência, que não será contada, por numerosa que será. Disse-lhe também o anjo do SENHOR: Eis que concebeste, e darás à luz um filho, e chamarás o seu nome Ismael; porquanto o Senhor ouviu a tua aflição. E ele será homem feroz, e a sua mão será contra todos, e a mão de todos contra ele; e habitará diante da face de todos os seus irmãos. E ela chamou o nome do SENHOR, que com ela falava: Tu és Deus que me vê; porque disse: Não olhei eu também para aquele que me vê?" [Gênesis 16:7-13].

O anjo do Senhor, o Cristo Pré-Encarnado, falou a Abração desde o céu e lhe disse para poupar seu filho Isaque, que já estava sobre o altar do sacrifício (Gênesis 22:11-22). Ele também apareceu a Moisés na sarça ardente (Êxodo 3:2) e o liderou dali para frente, falando com ele frequentemente — "face a face, como um homem fala com seu amigo" — e instruindo-o em todas as questões relacionadas com o bem-estar e libertação de Seu povo escolhido.

O anjo do Senhor apareceu a Balaão e foi visto até mesmo pela jumenta dele (veja Números 22). É notável que o Cristo Pré-Encarnado não se confinou aos filhos de Israel, mas apareceu também a certos gentios, como Agar e Balaão.

Ele até mesmo falou com Agar uma segunda vez quando Sara a expulsou com seu filho Ismael, cerca de 16 anos mais tarde. Quando ela estava quase morrendo de sede, "o anjo do Senhor" falou com ela desde o céu — os termos "o anjo de Deus" e "o anjo do Senhor" são usados algumas vezes intercambiavelmente — e fez uma promessa relacionada com Ismael que somente Deus poderia fazer: "Farei dele uma grande nação." [Gênesis 21:18].

O anjo do Senhor apareceu a Gideão junto ao carvalho de Ofra. A princípio ele é referido como "o anjo do Senhor" e, depois, como o próprio Senhor:

"Então o SENHOR olhou para ele, e disse: Vai nesta tua força, e livrarás a Israel das mãos dos midianitas; porventura não te enviei eu?" [Juízes 6:14].

Quando o anjo do Senhor apareceu a Manoá (pai de Sansão), Manoá lhe pediu para confirmar que ele era o mesmo homem que tinha aparecido anteriormente à sua mulher. Ele respondeu, "Eu sou." Esta é a grande declaração de assinatura da deidade de Cristo no Novo Testamento. Mais tarde, Manoá lhe perguntou qual era Seu nome, ao que Ele respondeu: "Por que perguntas assim pelo meu nome, visto que é maravilhoso?" [Juízes 13:18]. A palavra hebraica para "maravilhoso" nesta sentença também significa "segredo". Mas, maravilhoso é um dos nomes dados ao Messias em Isaías 9:5.

Cristo é o maravilhoso Eu Sou, o Redentor de todos os que colocam sua confiança Nele, o anjo do Senhor que "acampa-se ao redor dos que o temem e os livra". [Salmos 34:7].

O anjo do Senhor apareceu a Jacó em um sonho:

"E disse-me o anjo de Deus em sonhos: Jacó! E eu disse: Eis-me aqui." [Gênesis 31:11].

Ele percorreu o deserto, acompanhando os filhos de Israel:

"E o anjo de Deus, que ia diante do exército de Israel, se retirou, e ia atrás deles; também a coluna de nuvem se retirou de diante deles, e se pôs atrás deles." [Êxodo 14:19].

Ele falou ao profeta Elias:

"Mas o anjo do SENHOR disse a Elias, o tisbita: Levanta-te, sobe para te encontrares com os mensageiros do rei de Samaria, e dize-lhes: Porventura não há Deus em Israel, para irdes consultar a Baal-Zebube, deus de Ecrom?" [2 Reis 1:3].

Ele especificou o local para o Templo do Senhor em Jerusalém, na eira de Ornã, o jebuseu:

"E Deus mandou um anjo a Jerusalém para a destruir; e, destruindo-a ele, o SENHOR olhou, e se arrependeu daquele mal, e disse ao anjo destruidor: Basta, agora retira a tua mão. E o anjo do SENHOR estava junto à eira de Ornã, o jebuseu. E, levantando Davi os seus olhos, viu o anjo do SENHOR, que estava entre a terra e o céu, com a sua espada desembainhada na sua mão estendida contra Jerusalém; então Davi e os anciãos, cobertos de sacos, se prostraram sobre os seus rostos... Então o anjo do SENHOR ordenou a Gade que dissesse a Davi para subir e levantar um altar ao SENHOR na eira de Ornã, o jebuseu." [1 Crônicas 21:15-16,18].

Ele destruiu o vasto exército assírio, que estava acampado nas proximidades de Jerusalém:

"Então saiu o anjo do SENHOR, e feriu no arraial dos assírios a cento e oitenta e cinco mil deles; e, quando se levantaram pela manhã cedo, eis que todos estes eram corpos mortos." [Isaías 37:36].

Foi quase certamente o Cristo Pré-Encarnado quem apareceu a Daniel às margens do grande rio Hidequel:

"E levantei os meus olhos, e olhei, e eis um homem vestido de linho, e os seus lombos cingidos com ouro fino de Ufaz; e o seu corpo era como berilo, e o seu rosto parecia um relâmpago, e os seus olhos como tochas de fogo, e os seus braços e os seus pés brilhavam como bronze polido; e a voz das suas palavras era como a voz de uma multidão." [Daniel 10:5-6].

O profeta Isaías foi levado à presença do Cristo Pré-Encarnado em uma visão:

"No ano em que morreu o rei Uzias, eu vi também ao Senhor assentado sobre um alto e sublime trono; e a cauda do seu manto enchia o templo. Serafins estavam por cima dele; cada um tinha seis asas; com duas cobriam os seus rostos, e com duas cobriam os seus pés, e com duas voavam. E clamavam uns aos outros, dizendo: Santo, Santo, Santo é o SENHOR dos Exércitos; toda a terra está cheia da sua glória." [Isaías 6:1-3].

E o profeta Ezequiel teve uma visão similar:

"E por cima do firmamento, que estava por cima das suas cabeças, havia algo semelhante a um trono que parecia de pedra de safira; e sobre esta espécie de trono havia uma figura semelhante a de um homem, na parte de cima, sobre ele. E vi-a como a cor de âmbar, como a aparência do fogo pelo interior dele ao redor, desde o aspecto dos seus lombos, e daí para cima; e, desde o aspecto dos seus lombos e daí para baixo, vi como a semelhança de fogo, e um resplendor ao redor dele." [Ezequiel 1:26-28].

A identidade do anjo de Deus também é revelada no Novo Testamento, quando Paulo declara:

"Porque esta mesma noite o anjo de Deus, de quem eu sou, e a quem sirvo, esteve comigo." [Atos 27:23].

Paulo também confirmou que Cristo foi o protetor sobrenatural do povo hebreu durante a peregrinação no deserto, "a pedra era Cristo".

"E beberam todos de uma mesma bebida espiritual, porque bebiam da pedra espiritual que os seguia; e a pedra era Cristo." [1 Coríntios 10:4].

O autor da epístola aos Hebreus também identifica o Deus de Moisés com a pessoa de Cristo:

"Pela fé Moisés, já nascido, foi escondido três meses por seus pais, porque viram que era um menino formoso; e não temeram o mandamento do rei. Pela fé Moisés, sendo já grande, recusou ser chamado filho da filha de Faraó, escolhendo antes ser maltratado com o povo de Deus, do que por um pouco de tempo ter o gozo do pecado; tendo por maiores riquezas o vitupério de Cristo do que os tesouros do Egito; porque tinha em vista a recompensa." [Hebreus 11:23-26].

Os cristãos que estão perplexos com a continuidade da posição de Israel no plano santo de Deus precisam refletir com muita oração sobre estas passagens citadas acima, pois elas revelam que Cristo estava trabalhando entre o povo hebreu desde a antiguidade, guiando seu destino e protegendo-o de seus inimigos.

Algumas vezes Ele se revelou aos seus servos em forma humana, embora ainda não tivesse encarnado humanamente. Ele estava preparando Israel para o tempo quando Ele assumiria carne humana e habitaria entre eles — como Emanuel (um nome que significa "Deus Conosco")!

Alguns dos anjos também apareceram em forma humana, mas nem um deles subsequentemente nasceu depois em carne humana. Cristo teve de assumir a forma humana em carne, para se tornar plenamente humano, de modo a pagar a dívida pelo pecado por nós. Ele somente poderia morrer em nosso lugar vivendo perfeitamente, como nós deveríamos ter vivido, e assumindo nosso lugar na cruz. Para fazer isso, Ele precisou ter uma natureza perfeitamente humana.

Da mesma forma, para podermos viver com Ele na eternidade, também precisamos ter corpos humanos eternos, corpos de ressurreição, exatamente como Ele tem agora — "Mas de fato Cristo ressuscitou dentre os mortos, e foi feito as primícias dos que dormem." [1 Coríntios 15:20].

Toda vez que os israelitas foram atrás de outros deuses para servi-los, eles estavam rejeitando o Senhor. Toda a história de Israel foi uma história de desobediência e idolatria, com curtos períodos de reconciliação e restauração. A rejeição deles a Cristo em Sua forma encarnada, como Jesus de Nazaré, foi prefigurada pela rejeição a Ele muitas vezes anteriormente em sua forma pré-encarnada.

Além disso, exatamente como o Senhor Deus os buscou e restaurou após cada uma de suas muitas rebeliões causadas pela dura cerviz e ao coração obstinado deles contra Sua autoridade e santidade, assim também Ele os buscará após esta atual rebelião, que é a pior de todas.

Cada rebelião trouxe punição e a punição que o Senhor está agora infligindo sobre Seus filhos — por mais prolongada, dolorosa e severa que esta tenha sido — ela também terá um fim. Quando eles finalmente se arrependerem e O invocarem dizendo — Baruch haba b'shem Adonai! (Bendito o que vem em nome do Senhor) — Ele virá imediatamente em seu auxílio.

Apesar da severidade das punições aplicadas, o Senhor nunca permitiu que os inimigos de seu povo o destruíssem. Satanás já quis muito tempo atrás matar até o último deles, mas não recebeu permissão para fazer isto. Da mesma forma como eles estão debaixo do julgamento de Deus, assim também estão debaixo de Sua proteção. O anjo do Senhor ainda está com eles.

Leia aqui a Parte 4: O Reaparecimento do Antissemitismo "Cristão"


Autor: Jeremy James, artigo em http://www.zephaniah.eu
Data da publicação: 17/4/2015
A Espada do Espírito: https://www.espada.eti.br/israel-3.asp