Desvendando a Agenda Interfé Global

Autor: Carl Teichrib, Forcing Change, Edição 8, Volume 1.

O pluralismo religioso não é um conceito novo, mas fez um tremendo avanço nos últimos dez anos. Esse desenvolvimento não ficou confinado nas igrejas somente, mas agora também envolve a política e a economia internacionais e as principais estruturas sociais.

Em edições anteriores da Forcing Change, vários aspectos desse movimento foram expostos, incluindo o vínculo com o ambientalismo. Entretanto, este artigo atual, que está dividido em duas partes, oferece uma janela singular para o crescente poder da agenda interfé global e de seus significados mais profundos.

Cada vez mais, esse pluralismo sócio-religioso se torna perceptível em programas e ações locais, incluindo as funções da comunidade, a política e as agendas da "justiça" econômica. Tudo isto terá um impacto nas igrejas, desde as congregações locais até as juntas denominacionais nacionais e se tornará cada vez mais visível nos campos seculares, como a educação pública e nos locais de trabalho. Isto já está acontecendo atualmente.

Como mencionado, este artigo é constituído de duas partes: a seção inicial, "Um Exame Interno", detalha minhas observações ao participar de um evento inferfé em Saint Petersburg, na Flórida, em 2001. Uma ênfase especial é colocada naquilo que deve ser observado com relação ao impacto da agenda inter-religiosa no nível mais local e discernível.

A segunda parte é uma análise do Parlamento Mundial das Religiões, que se reuniu em Barcelona, em 2004. Embora eu não tenha comparecido a esse evento, as informações de Inteligência sobre o encontro nos dão um interessante resumo do "quadro grande" do programa interfé global, incluindo seus vínculos com as questões de governança econômica.

Um Exame Interno

11 a 14 de janeiro de 2001, St. Petersburg, Flórida.

Para quem vive no "cinturão da neve", Saint Petersburg, na Flórida, pode ser um lugar maravilhoso em meados de janeiro. A brisa salgada do Golfo do México e o calor do sol criam um ambiente perfeito para uma fuga dos rigores do inverno. Todos que vivem acima do "Paralelo 40" sabem disso. Assim, não foi surpresa descobrir que um dos primeiro eventos interfé do ano ocorreria na ensolarada cidade de St. Pete, como ela é afetuosamente chamada.

Iniciando em 11 de janeiro e terminando no dia 14, ativistas interfé vindos de lugares tão distantes quanto a Coreia e a Grã-Bretanha se reuniram em St. Petersburg para participarem da conferência "Religiões em Diálogo: Passando do Conflito para a Confiança". Realizado na Igreja Unitariana-Universalista situada no centro da cidade, o propósito do evento era criar uma visão comum e uma estratégia cooperativa para avançar a agenda interfé para o ano 2001 e além.

A princípio, parecia que a conferência seria um fracasso — menos de 50 pessoas tinham comparecido. Mas, embora o tamanho do grupo desse a aparência de insignificância, muitos daqueles que compareceram estavam envolvidos nos níveis mais altos do trabalho interfé global. Na verdade, três das cinco principais organizações interfé no mundo estavam representadas por seus diretores.

Aqui está a relação dos líderes-chave no movimento interfé presentes e as organizações que eles representavam:

- Marcus Braybrooke, diretor do Congresso Mundial das Fés (WCF, de World Congress of Faiths) e considerado um dos autores mais prolixos no tema interfé. Ele também é considerado por muitos o homem mais influente e de maior conhecimento no movimento interfé. O WCF está sediado na Grã-Bretanha. O Sr. Braybrooke também é um patrono do Centro Interfé Internacional, em Oxford. O WFC era um dos copatrocinadores do evento.

- Richard Boeke, presidente do WCF; também reside na Grã-Bretanha.

- Allan Race, editor da publicação do WCF intitulada World Faiths Encounter. Ele também é um curador do Centro Interfé Internacional.

- Andrew Clark, secretário-geral da Associação Internacional da Liberdade Religiosa (IARF, de International Association of Religious Freedom), também sediada na Grã-Bretanha. Essa associação era a segunda copatrocinadora do evento.

- Doris Hunter, diretora da IARF nos Estados Unidos.

- Jim Kenney, diretor internacional do Conselho para um Parlamento Mundial das Religiões (CPWR, de Council for a Parliament of the World’s Religions) – o grupo que organizou o Parlamento das Religiões em 1993 e 1999. O Sr. Kenney também é um curador do Centro Interfé Internacional. O CPWR está sediado em Chicago, nos EUA.

Das cinco grandes organizações interfé globais, somente a Conferência Mundial Sobre Religião e Paz (sediada em Nova York, EUA) e a Iniciativa das Religiões Unidas (sediada em San Francisco, EUA) não estavam oficialmente representadas, embora alguns dos participantes e ouvintes da conferência tinham exercido papeis em ambos esses grupos ausentes.

Outros participantes incluíam:

- Dr. Hal French, professor titular no Departamento de Estudos da Religião, na Universidade da Carolina do Sul, e autor de Zen and the Art of Anything.

- Dr. K. L. Seshagiri Rao, editor-chefe da Encyclopedia of Hinduism (Enciclopédia de Hinduísmo), e professor titular na Universidade da Carolina do Sul.

- Dr. Spencer Lavan, um ativista interfé de longa data; está envolvido no trabalho interfé em todo o mundo há várias décadas.

Como o evento ocorreu em uma Igreja Unitariana, os unitarianos eram a maioria. Outras comunidades religiosas presentes eram:

- Cristianismo. Em todos os casos, aqueles que representavam o "cristianismo" possuíam uma visão muito liberal da fé cristã. Marcus Braybrooke e sua mulher estavam entre os cristãos presentes. Alguns participantes afirmavam seguir uma forma "enxertada" de cristianismo, como cristão-budista, ou cristão-unitariano. Muitos admitiam terem recebido uma formação cristã na infância. Richard Boeke, que exerceu um papel fundamental em todos os quatro dias, tinha sido no passado pastor de uma igreja da Convenção Batista do Sul dos EUA. Ele agora é um ministro unitariano. Em duas ou três ocasiões ouvi participantes confessarem que tinham sido "salvos" durante uma cruzada evangelística de Billy Graham, mas que "caíram em si" pouco tempo depois.

- Hinduísmo. A representação incluía uma mulher que se "converteu" para o cristianismo quando vivia na Índia para conseguir escapar da variedade legalista e opressiva de hinduísmo praticada por sua família. Depois que se mudou para os EUA e se libertou de sua família hindu "fundamentalista", ela se converteu novamente ao hinduísmo. Ela me disse que se um dia retornar à Índia, voltará a ser "cristã" novamente.

- Budismo. Frank Tedesco, um acadêmico budista e ativista no movimento interfé, integrou o painel na sessão na tarde do sábado. O Sr. Tedesco veio da Coreia especificamente para participar da conferência.

- Nova Era/Wiccanos. Estavam representados no serviço de adoração interfé na noite da quinta-feira. (Lembre-se, este era um encontro religioso e "adoração" estava prevista na programação.) Durante esse período de "adoração", foi realizada uma cerimônia em que um wiccano invocou uma "bênção":

"Eu sou os quatro cantos da Terra, norte, sul, leste e oeste, que delimitam o círculo sagrado em que estamos, prontos para recebermos nossos deuses. Amada Mãe, por muitos nomes e faces és conhecida. Como teu é o nome 'sempre jovem', permita que fiquemos jovens para sempre e cresçamos em nossa fé. Como és uma mãe fértil e sempre generosa, ajuda-nos a colhermos os doces frutos deste encontro — tolerância, compreensão e amor."

Outras comunidades religiosas incluíam:

- Judaísmo. Na noite da sexta-feira fomos liderados em um serviço interfé do Shabbat judaico, conduzido pela Sinagoga Beth Rachamim – que é um grupo de sinagogas formadas por indivíduos declaradamente homossexuais e lésbicas. Em todo o serviço, orações e declarações foram feitas para endossar a opção homossexual deles.

- Teosofia. A Sociedade Teosófica armou uma mesa de exibições e apresentou uma oficina. A fundadora da Sociedade Teosófica foi Helena Blavatsky. Alice A. Bailey foi outra teósofa proeminente. Essas duas mulheres são referenciadas como "Mães do Movimento de Nova Era". A teosofia é uma filosofia ocultista que eleva Lúcifer à posição de libertador da humanidade.

- Indígenas Americanos. Na tarde de sábado, uma tenda foi armada para aqueles que quisessem participar da experiência espiritual da sauna cerimonial indígena.

- Humanismo. O Humanismo foi apresentado como uma das "religiões" (ou deveria ser anti-religiões?) e recebeu um espaço para uma oficina na tarde do sábado. Embora pareça estranho, a igreja unitariana de St. Petersburg tinha diversos livretos e folhetos que promoviam o humanismo.

- Ativismo interfé do Kashi Ashram. Situado próximo à costa leste da Flórida, está o ashram interfé de Ma Jaya Sati Bhagavati. "Ma", guru desse ashram, misturou diversas tradições espirituais do Ocidente e do Oriente e está envolvida em diversos eventos interfé e atividades organizacionais em todo o mundo. Pelo menos dois de seus seguidores estavam presentes no encontro. [NT: um ashram é um centro, normalmente em um local retirado, para o estudo do hinduísmo sob a direção de um guru.]

- Cientologia. Além de apresentar uma oficina sobre Cientologia, uma equipe de músicos e atores cientologistas fez uma apresentação durante o programa cultural da noite do sábado.

Praticantes de outras religiões também estavam presentes, mas os listados acima (incluindo os unitarianos) eram os mais ativos. É interessante que, embora um bom número de participantes afirmasse ser "cristão", a reação ao "fundamentalismo cristão" foi pouco amigável. Como aconteceu em outros encontros interfé em que estive presente, o cristianismo fundamentalista foi atacado desavergonhadamente. Afirmando ser um modo de "tolerância", o movimento interfé, na realidade, é extremamente intolerante quando religiões como o cristianismo proclamam uma "verdade exclusiva".

Quais "informações de fontes internas" foram dadas neste encontro? Aqui estão elas:

- O Próximo Parlamento Mundial das Religiões. Após o Parlamento Mundial das Religiões da Cidade do Cabo, foi determinado que um parlamento deveria se reunir a cada cinco anos. Devido às circunstâncias, o próximo parlamento não será realizado até 2005, um ano após a previsão. [Nota: O Parlamento conseguiu se reunir em 2004.]. De acordo com Jim Kenney, o CPWR quer anunciar seu próximo evento com um tipo de "Olimpíada" das religiões mundiais. Para este fim, o CPWR quer que as cidades disputem qual delas sediará o evento, de forma muito parecida como acontece com a escolha da cidade-sede para as Olimpíadas.

O Sr. Kenney deixou bem claro que pelo menos dez grandes cidades começaram a fazer propostas para sediarem o próximo parlamento. Entretanto, ele indicou que o CPWR ainda não fez o anúncio oficial para iniciar a disputa. Observe o ímpeto para o próximo parlamento crescer à medida que as cidades competirem para sediar o que está sendo visto rapidamente como um evento inter-religioso da maior importância. Também podemos esperar que outros atores, como empresas, bancos e diversas instituições se alinhem e ofereçam suporte e endossos. Se tudo isto acontecer, e parece provável que vai acontecer, a agenda interfé para os próximos cinco a dez anos será catapultada de uma forma sem precedentes.

- Iniciativa das Religiões Unidas (URI, de United Religious Initiative). A Iniciativa e sua Carta Global de Constituição foram criadas pelo bispo episcopal William Swing, por solicitação das Nações Unidas e de Robert Muller, um funcionário de alto escalão e visionário da ONU.

No encontro em St. Petersburg, foi revelado que os atores historicamente mais estabelecidos do movimento interfé consideravam a Iniciativa das Religiões Unidas como um tipo de ovelha negra na família interfé. Durante os primeiros anos da URI, certas declarações feitas pelo bispo Swing causaram divisão dentro da organização e de outros grupos interfé. Agora que o bispo Swing renunciou ao cargo de diretor (e foi substituído por Charle Gibbs), a comunidade interfé global está pronta para aceitar a URI como um participante respeitável dentro da agenda inter-religiosa global. Observe a URI ganhar proeminência devido ao fato de a liderança do movimento interfé global reconhecer seu lugar como uma parceira global.

- Carta da Terra. Jim Kenney explicou durante uma conversa particular que o movimento interfé está em acordo e trabalha pela aceitação do programa da Carta da Terra, de Mikhail Gorbachev. Muito frequentemente, a Carta da Terra é vista como uma entidade política. Embora essa seja a visão predominante, o Sr. Kenney deixou claro que a plataforma da Carta da Terra transcende a política e se conecta com a agenda interfé.

Observe o movimento interfé e o programa Carta da Terra se vincularem mais fortemente na promoção do pluralismo religioso, a servidão à Terra e "ao gerenciamento mundial".

Nota: A Carta da Terra é um documento/plataforma que tem o objetivo de moldar a civilização em torno de princípios que priorizem a Terra e fortaleçam a governança global.

- Associação Internacional da Liberdade Religiosa na América. A IARF é o mais antigo grupo interfé no mundo (ela foi fundada em 1900), mas não tem uma presença forte nos EUA. Um dos resultados previstos após a conferência ser realizada na Flórida era que a IARF solidificaria seus vínculos com os ativistas interfé nos EUA. A IARF tem exercido um papel importante no Japão, na Índia, na Grã-Bretanha e agora planeja fincar raízes mais profundas nos EUA.

- Aliança Mundial de Organizações Interfé. O acontecimento mais importante que resultou do encontro foi que os três organismos globais propuseram uma estratégia de aliança mundial informal. Durante o encontro, eles evitaram chamar essa aliança de "Federação Mundial Interfé", mas, de muitas formas, isso era o que estava sendo discutido. Tudo isso surgiu nas "conversas em torno da mesa do café" — nas discussões informais no refeitório e no saguão. Frequentemente, é nesses locais informais que os verdadeiros planos de ação são desenvolvidos.

Sabendo que essa aliança está tomando forma, as questões essenciais são: qual será a natureza dessa aliança e para aonde ela nos levará? Neste ponto atual, é difícil saber. No mínimo, o CPWR, o Congresso Mundial das Fés, e a IARF trabalharão em conjunto de uma forma muito mais integrada. Uma das sugestões da "aliança" foi criar um banco de dados comum na Internet para a rede inter-religiosa; um passo pequeno, é claro, mas já é um primeiro passo.

À medida que a liderança dos três principais organismos que se reuniram na conferência continuarem a desenvolver essa nova cooperação, os dois outros grupos (a Iniciativa das Religiões Unidas e a Conferência Mundial Sobre Religião e Paz) irão, com toda a certeza, aderir em algum grau. Observe o movimento interfé se tornar mais coeso e uma força mais potente nos níveis nacional e internacional. Somente o tempo dirá como a agenda interfé global poderá impactar nossas vidas.

Onde Tudo Isto Deixa o Cristianismo Bíblico?

- Na igreja: Fique alerta e observe como o movimento interfé está moldando a igreja cristã, tanto localmente quanto em termos denominacionais. Espere pressões ecumênicas e incumbências vindas dos escritórios centrais das denominações para que pastores e líderes das igrejas locais participem de encontros pluralistas. Além disso, espere ver as posições fundamentalistas serem questionadas e desafiadas, especialmente com relação à mensagem exclusivista de Jesus Cristo (João 14:6 é uma passagem que vem rapidamente à lembrança), ao pecado, a questão do julgamento e o papel do evangelismo.

- Política: Fique de olho na legislação dos "crimes de ódio", que é o veículo principal para degenerar a exclusividade religiosa. Observe os líderes civis, especialmente prefeitos, vereadores e secretários municipais, em várias partes do país, tentarem criar novas leis de zoneamento e transformarem quarteirões inteiros no centro das cidades em "áreas de interfé". Além disso, espere ver líderes cristãos proeminentes exercerem funções políticas e cívicas inter-religiosas, dando maior credibilidade à posição pluralista.

- Educação. Mantenha uma vigilância especial sobre as instituições de ensino, tanto cristãs quanto seculares. O movimento interfé/Nova Era reconhece que influenciar a educação em todos os níveis, o que por sua vez molda as mentes dos jovens, é um componente estratégico para fazer avançar a agenda global. Muitas igrejas e escolas cristãs já sucumbiram à filosofia do pluralismo religioso e as escolas seculares também já defendem essa filosofia há muitos anos.

Recriando o Jardim do Éden

De 7 a 13 de julho de 2004, Barcelona, na Espanha, foi o ponto focal para um momentoso evento interfé: o Parlamento Mundial das Religiões de 2004. Embora essa conferência tenha recebido pouquíssima cobertura da mídia, ela foi um grande marco na cronologia dos eventos interfé.

A história do Parlamento Mundial das Religiões pode ser rastreada até mais de cem anos atrás. Em 1893, o primeiro Parlamento Mundial das Religiões se reuniu como parte da Exposição Mundial que ocorreu em Chicago, nos EUA. Milhares de pessoas compareceram e o encontro se tornou um evento inovador na vida religiosa nos EUA, "fazendo a mudança do domínio do protestantismo anglo-saxão para o início de uma sociedade multireligiosa". [1].

Richard Seager, em sua Tese Doutrinária apresentada na Universidade de Harvard sobre o Parlamento de 1893, descreveu essa virada religiosa que ocorreu no país: "No que se refere ao pluralismo religioso nos EUA, uma construção rígida da questão parece sugerir que após o Parlamento havia muitas formas de ser religioso. A pessoa podia ser salva, se autorrealizar, crescer na consciência de Deus, ou se autoesvaziar. Além disso, à medida que o próprio país continuava a perseguir sua missão messiânica, ele era um país sob um Deus modificado. Krishna, Vishnu, o Buda (tecnicamente um não-Deus), a Mãe Divina, e outras deidades tinham sido empurrados para baixo do dossel sagrado da nação, onde se juntaram ao Pai e ao Filho cristãos, a Jeová, ao Deus da Natureza, a Apolo e suas musas..." [2].

Cem anos mais tarde, em 1993, o Segundo Parlamento Mundial das Religiões ocorreu novamente em Chicago. Como o primeiro Parlamento, esse evento atraiu milhares de participantes, que vieram de praticamente todas as grandes e pequenas correntes de pensamento, de filosofia e de persuasão espiritual.

Erwin Lutzer, um bem-conhecido autor e apologeta cristão, compareceu a esse evento com um olhar crítico. Escrevendo sobre aquilo que testemunhou, Lutzer comentou: "Os deuses estão em um rolo compressor e ai daquele que se colocar como um obstáculo para a agenda deles! Com ideais elevados e planos utópicos de unificar as religiões do mundo para o bem comum, esse parlamento se reuniu para derrubar as barreiras que existem na marcha acelerada rumo à unidade." [3].

Armando o cenário para uma colaboração interfé mais profunda, o Parlamento de 1993 aprovou uma diretiva que se tornou um marco: a criação de uma Ética Global.

Misturando diversos aspectos de muitas tradições religiosas, a ideia básica que está por trás da Ética Global é unir todas as religiões em torno de um conjunto central comum de valores éticos e morais. Para este fim, o Parlamento de 1993 foi especialmente significativo, pois o ímpeto por uma Ética Global elevou a cooperação inter-religiosa para um novo patamar. [4].

Em 1999, na véspera do novo milênio, o terceiro Parlamento Mundial das Religiões ocorreu na Cidade do Cabo, na África do Sul. Novamente, milhares compareceram. Entretanto, quando o Parlamento terminou, era evidente que uma nova direção para a cooperação interfé tinha sido formulada. Ao contrário dos dois eventos anteriores, que tiveram uma forte ênfase em unidade religiosa, a conferência na África do Sul produziu uma agenda notavelmente política.

Intitulado A Call to Our Guiding Institutions (Um Chamado Para Nossas Instituições de Direção), o relatório final enfatizava que mudanças centradas nos interesses do planeta Terra precisam ocorrer dentro das instituições religiosas e governamentais, na mão de obra e na indústria, na educação, na ciência, na comunidade política internacional e em outras áreas, como o comércio e a mídia. Foi um chamado para uma "interdependência global" e uma "cooperação robusta dentro da família humana". Tudo isto deveria ocorrer dentro de uma estrutura de compreensão interfé em que o Cristianismo, o Islã, o Budismo, o Hinduísmo e outros caminhos espirituais pudessem se unir em torno do conceito de "um mundo melhor". [5].

Em seguida, houve o Parlamento Mundial das Religiões de 2004.

O número de participantes em Barcelona atingiu o pico de 8.600, com representantes de todos os cantos do mundo e de uma enorme variedade de crenças e práticas religiosas. Organizações interfé proeminentes também estiveram presentes, incluindo a Iniciativa das Religiões Unidas, que tinha aproximadamente 150 de seus líderes globais participando do evento. (A Iniciativa também tinha dois estandes no local da conferência.) [6].

Provavelmente, um dos aspectos mais importantes desse parlamento foi a vasta quantidade de redes de relacionamentos que foi formada. Durante toda a semana, os ativistas e as organizações interfé construíram pontes e formaram incríveis parcerias formais e informais com outros grupos e indivíduos de mentalidade similar. O que foi considerado mais importante, é que Barcelona permitiu uma oportunidade para construir com base nas aspirações de cada um dos parlamentos anteriores.

Desde o início até o encerramento, os participantes trabalharam para estabelecerem diversos compromissos políticos, incluindo o papel das comunidades religiosas no tratamento da dívida internacional e da governança financeira, e no apoio aos programas de gestão dos recursos hídricos, que trabalham harmoniosamente em conjunto com a Visão Mundial da Água (um plano de ação para a gestão internacional dos recursos hídricos). [7]. A violência e a tolerância religiosas também foram vistas como uma área importante para a ação política, reconhecendo que as religiões do mundo exercem um papel em moldar as políticas e diretrizes sociais.

Dirk Ficca, diretor-executivo do Parlamento Mundial das Religiões, explicou quais interconexões políticas seriam buscadas de modo a implementar os compromissos feitos durante a semana:

"O Conselho para um Parlamento Mundial das Religiões também desenvolveu um processo para monitorar e apoiar a implementação dos compromissos do Parlamento de Barcelona, incluindo manuais das melhores práticas e uma rede de comunicações baseada na Internet de modo a apoiar e avaliar o impacto sobre os problemas mais urgentes do mundo. Também estamos explorando as parcerias com outros setores da sociedade, como por exemplo, as organizações que trabalham dentro do sistema da ONU, o Banco Mundial e organizações que promovem a responsabilidade social nas empresas." [8].

É aqui que o pneu pega a estrada: um compromisso para impactar a tomada de decisões políticas globais via um lóbi de influência unificado da comunidade religiosa internacional. No fim, trata-se de um plano do homem de recriar o mundo à sua própria imagem.

Considere três declarações históricas do primeiro Parlamento Mundial das Religiões, em 1893:

"Neste dia, o sol de uma nova era religiosa de paz e progresso se levanta sobre o mundo, dispersando as nuvens escuras das disputas sectárias."

"Neste dia, uma nova flor floresce no jardim do pensamento religioso, exalando seu perfume exótico no ar."

"Neste dia, nasce uma nova fraternidade no mundo do progresso humano, para ajudar na construção do reino de Deus nos corações dos homens."

"A era, a flor e a fraternidade trazem um nome. É um nome que alegrará os corações daqueles que adoram a Deus e amam o homem em todas as circunstâncias. Aqueles que ouvem a música alegremente a ecoam de volta para o sol e para a flor."

"É A IRMANDADE DAS RELIGIÕES."

"E é neste nome, que dou as boas-vindas ao primeiro Parlamento Mundial das Religiões." [9; maiúsculas no original].

- "A religião do futuro será universal em todos os sentidos. Ela incorporará todos os pensamentos, aspirações, virtudes e emoções de toda a humanidade, unirá todas as terras, povos, tribos e línguas em uma irmandade universal de amor e serviço; ela estabelecerá sobre a Terra uma ordem celestial." [10].

- "A religião irá então, como agora, elevar o homem acima de sua fraqueza lembrando-o de suas responsabilidades. O objetivo que está diante de nós é o Paraíso. O Éden precisa aparecer." [11].

Considere agora a seguinte declaração do Parlamento Mundial das Religiões de Barcelona de 2004:

"O esforço incansável do Conselho para o Parlamento Mundial das Religiões coloca os líderes religiosos em uma plataforma e nos convoca para cumprirmos os elevados propósitos da religião. Viemos das quatro direções, como ribeiros que se juntam para formar um grande rio. Estamos todos no caminho para o nosso lar, o Oceano do Espírito Divino Único... Que cada um de nós venha disposto a ser imensuravelmente enriquecido pela beleza, profundidade e validade das tradições dos outros. Que em cada encontro possamos encontrar a Divindade uns nos outros." [12]

Nada disso deve vir como uma surpresa para o cristão com discernimento e que seja observador dos assuntos religiosos internacionais. Ao contrário, espere ver mais desse tipo de atividade à medida que os homens procurarem recriar o Éden, criando um paraíso de Nova Era em que a humanidade se assente entronizada — junto com os deuses da natureza.

Como observado na introdução deste artigo, a agenda interfé global tem diversos fatores de influência, incluindo as questões da governança econômica (veja a referência acima ao Banco Mundial). Ainda mais importante é que, embora a abrangência do movimento inter-religioso seja obviamente planetária em sua natureza, é no nível local que o impacto será mais prontamente visível. Como ele afetará o ambiente educacional, o mundo empresarial, o campo cívico e as comunidades religiosas variará de região para região e de cidade para cidade. Mas, o fator de mudança social/religiosa é o mesmo, independente de qual veículo seja usado para fazer avançar a agenda.

Para os cristãos, o campo de batalha mais importante para o pluralismo religioso está na igreja. É aqui que a maior influência para a mudança sutil e negativa pode ser esperada. À medida que as igrejas abraçarem essa tendência interfé, esteja de guarda quando falsas doutrinas e filosofias perigosas começarem a desviar a atenção da mensagem exclusiva e salvadora de Jesus Cristo, da natureza caída do homem, da santidade e justiça de Deus para uma mensagem sobre diversidade religiosa, abertura e projetos espirituais experimentais que façam a ponte sobre o vão que existe entre o "cristianismo" e as outras crenças e práticas religiosas.

É triste dizer, mas isto já está acontecendo agora e a pressão está crescendo para seguirmos descuidadamente este caminho. Em edições futuras, destacaremos algumas dessas áreas problemáticas.

Notas Finais:

1. Marcus Braybrooke, Pilgrimage of Hope: One Hundred Years of Global Interfaith Dialogue (SCM Press, 1992), pág. 41.

2. Conforme citado por Braybrooks, Pilgrimage of Hope, pág. 41.

3. Erwin Lutzer, Christ Among Other Gods: A Defense of Christ in an Age of Tolerance (Moody Press, 1994), pág.11.

4. Veja Joel Beversluis (editor), A SourceBook for Earth’s Community of Religions (CoNexus Press/Council for a Parliament of the World’s Religions, 1993); Marcus Braybrooke, Faith and Interfaith in a Global Age (CoNexus Press/Braybrooke Press, 1998); Peggy Moran and Marcus Braybrooke (editores), Testing the Global Ethic: Voices from the Religions on Moral Values (CoNexus Press/World Congress of Faiths, 1998).

5. Council for a Parliament of the World’s Religions, A Call to Our Guiding Institutions, (1999).

6. United Religions Initiative, URI eUpdate (agosto de 2004).

7. Para maiores informações sobre os programas internacionais de gestão dos recursos hídricos, veja World Water Vision: Making Water Everybody’s Business (Earthscan Publications/World Water Council, 2000).

8. Dirk Ficca, "The Parliament Of The World’s Religions Results In Thousands Of Commitments To Address Religious Violence And Other Urgent Issues Facing The World", http://www.cpwr.org/2004Parliament [acessado em 25 de agosto de 2004].

9. Charles Carroll Bonney, "Words of Welcome", The Dawn of Religious Pluralism: Voices from the World’s Parliament of Religions 1893 (Open Court Publishing/Council for a Parliament of the World’s Religions, 1993, editado por Richard Hughes Seager), págs. 21-22.

10. Merwin-Marie Snell, "Future of Religion", The Dawn of Religious Pluralism: Voices from the World’s Parliament of Religions, 1893 (Open Court Publishing/Council for a Parliament of the World’s Religions, 1993, editado por Richard Hughes Seager), pág. 174.

11. Emil Gustav Hirsch, "Elements of Universal Religion", The Dawn of Religious Pluralism: Voices from the World’s Parliament of Religions 1893 (Open Court Publishing/Council for a Parliament of the World’s Religions, 1993, editado por Richard Hughes Seager), pág. 224.

12. Swami Shuddhanandaa Brahmachari, Parlamento Mundial das Religiões de 2004, artigo "The Needle and Thread" [acessado em 25 de agosto de 2004, http://www.cpwr.org/2004Parliament/news/opiniobrahma.htm]


Autor: Carl Teichrib, artigo original em http://www.forcingchange.org, Edição 8, Volume 1.
Data da publicação: 13/6/2011
Revisão: http://www.TextoExato.net
A Espada do Espírito: https://www.espada.eti.br/agenda.asp