Uma Viagem à Índia — Para Aprender a Verdade Sobre o Hinduísmo e Yôga

Autora: Caryl Matrisciana.

Treze anos tinham se passado desde que minha família saiu da Índia. Agora, eu estava dentro de um avião para uma viagem de retorno para lá. Eu estava entusiasmada e cheia de memórias nostálgicas. Será se eu iria reencontrar os velhos amigos com quem eu tinha perdido o contato ao longo dos anos? Será se alguma coisa mudou?

Eu estava viajando com um pequeno grupo internacional de especialistas em seitas. Tínhamos recebido um auxílio financeiro que permitiu ao nosso grupo de pesquisadores viajar pela Índia, para conhecer alguns gurus e seus ashrams (NT: Centros de Estudo do Hinduísmo, normalmente em um ambiente rural e sob a direção espiritual de um guru).

Calcutá

Nosso avião pousou em Calcutá, a antiga capital do Império Britânico na Índia e a cidade em que nasci — eu estava emocionada. Mas, meu entusiasmo estava temperado com medo e apreensão: eu sabia que a Índia que iria encontrar nas próximas semanas era muito diferente do país da minha juventude.

Desta vez eu experimentaria as dificuldades de viver uma vida asceta com gurus e seus discípulos, um estilo de vida tão desconhecido para mim quanto para meus companheiros de viagem.

Nosso plano era examinar vários gurus conhecidos no Ocidente. Iriámos entrevistá-los, entrevistar seus discípulos, tentando obter uma compreensão básica de seus ensinos, para poder então educar melhor nossas várias organizações em nossos países de origem.

Eu antecipava as dificuldades, pois sabia que muitos gurus se escondem em localidades remotas, bem no interior da Índia. Eu sabia que as dietas e as atividades religiosas hindus acompanhantes seriam árduas e extenuantes. Além do desgaste espiritual, haveria também um preço a pagar em nossos corpos físicos. Os desapontamentos que eu esperava certamente não seriam nada em comparação com a realidade que eu logo iria encontrar.

O nome da cidade de Calcutá deriva da temível deusa Kali, a contraparte feminina do deus masculino Xiva (ou Shiva). Ambos retratam morte e destruição, e a cidade claramente reflete isso. Kali também tem o título benigno de "Mãe do Amor". Calcutá, ou Kali-ghat, "os passos de Kali", incorpora todas as complexas contradições da combinação do deus-deusa hindus. Calcutá é uma das maiores cidades do mundo, com uma população de cerca de 13 milhões de habitantes. Os portos e indústrias fazem da cidade um centro importante do comércio no Oriente.

A primeira coisa que me impressionou quando desembarquei no agitado aeroporto de Calcutá, foi a tremenda confusão resultante da superpopulação. Estar no meio de uma multidão de pessoas foi uma sensação da qual eu tinha praticamente me esquecido, após passar tantos anos no Ocidente.

Eu me lembrei de uma conversa com um amigo indiano que tinha visitado os EUA. Ele comentou sobre as ruas vazias. "#&151; Onde estão todas as pessoas?" Ele perguntava em admiração? "#&151; Vejo casas com caros estacionados do lado de fora, lojas abertas, escritórios e restaurantes... mas onde estão as pessoas?" Esta pergunta pode parecer peculiar para aqueles que não tiveram a experiência de caminhar no meio de uma multidão na Índia.

Meus pensamentos foram logo inundados com outras lembranças desagradáveis. Além do empurra-empurra, tivemos de lidar com o furto e a mentira — aspectos quase esquecidos de minhas memórias de infância.

Com a rápida lembrança dos necessários instintos de sobrevivência, fiz esforços imediatos de vencer a corrupção do "sistema". Infelizmente, não fui rápida o suficiente para proteger nosso grupo do primeiro "criminoso".

Uma das pessoas na nossa equipe foi enganada por um indivíduo que dizia ser um porteiro. Nosso ingênuo companheiro de viagem tinha feito um depósito antecipado. Sem hesitação, o impostor colocou nossas malas em um veículo de transporte de bagagem. Ele então o dirigiu pela rua até pontos desconhecidos.

Como sou fluente na língua hindi, fui incumbida da operação de resgate. Eventualmente, alcancei o ladrão e mandei que ele devolvesse a bagagem no lóbi do aeroporto. Ele fez isso, mas, é claro que perdemos o depósito. Ele afirmava obstinadamente que não tinha recebido pagamento algum. Após esse incidente, rapidamente aprendi a ficar atenta.

O próximo pequeno incidente (ou última demonstração de ingenuidade) foi um percurso de táxi deliberadamente alongado desde o aeroporto. Como eu me lembrava vagamente das cercanias e pude colocar o taxista na rota correta, poupamos o custo adicional de sermos conduzidos por toda a cidade. Mas, o que dizer das ruas de Calcutá pelas quais passamos? Os barracos feitos tábuas, panos de saco e trapos invadiam as calçadas e chegavam até as ruas.

Quando o taxista parou por um momento em um semáforo, consegui dar uma olhada no interior mal iluminado de alguns daqueles "lares". Fiquei horrorizada, após todos aqueles anos, ao ver a quantidade de pessoas que moravam ali dentro. Irmãos e irmãs amontoados como coelhos em uma gaiola. Vi uma criança magricela vestida com trapos e com excremento de vaca aplicado em seus cabelos. Ela estava tentando tranquilizar um bebê que chorava. Ela o abraçava e acariciava, com um sorriso em seu rosto suave, porém triste.

Como puderam os buscadores espirituais ocidentais para quem eu tinha falado na Inglaterra, Europa e EUA negligenciar tanta tragédia? Como eles puderam passar por cima disto para enfocar a "sabedoria e amor" do Oriente? Eles não conseguiram ver que foram a mesma indiferença e loucura da religião da Índia, sua assim-chamada sabedoria e amor, que criaram essa óbvia agonia para os pobres e a cruel apatia dos ricos?

Bastava eles terem atentado para os ubíquos mendigos. Como membro de uma das principais profissões ali, cada mendigo pertence a um mestre. Ele recebe um território específico, onde coleta dinheiro para seu dono. Em troca, ele recebe um espaço em algum barraco para dormir e uma parca refeição ocasional.

Alguns desses párias sem-teto sofrem de doenças terríveis. Outros foram intencionalmente mutilados por seus mestres. Algumas crianças são mutiladas logo ao nascer, para despertar compaixão dos possíveis doadores das esmolas.

De partir o coração são também as prostitutas indianas. De acordo com um estudo comissionado pelo governo, existem três milhões de prostitutas no país, muitas das quais na faixa de 12-15 anos. [1] As meninas e adolescentes são frequentemente recrutadas por agenciadores que percorrem as aldeias rurais, fazendo promessas irrealistas de ganhos financeiros para os pais que vivem na pobreza. A prostituição masculina também está crescendo no país.

Em Mumbai (também conhecida como Bombaim), existe uma rua malfamada em que as meninas e adolescentes são mantidas atrás de grades de ferro. As gaiolas expõem adolescentes com pouca roupa e muita maquiagem. Algumas são extraordinariamente bonitas. Outras, têm no máximo dez anos de idade. Muitas foram surradas e torturadas para que se submetessem. [2].

Como os indianos de classe social mais elevada lidam com toda essa loucura cultural? Eles tentam fugir do assunto e fazem o que qualquer ocidental faz quando fica estressado — eles vão para o cinema!

A Índia tem a maior indústria cinematográfica do mundo, que ultrapassa de longe o número de filmes produzidos nos EUA, e existem mais de 13.000 cinemas no país. A cada três meses, um bilhão de pessoas na Índia compra ingressos para ir ao cinema. [3] Até nas regiões mais pobres do país, as pessoas preferem ficar sem comer do que deixar de ir ocasionalmente ver os astros do cinema indiano.

Em um país pobre em que ainda há pessoas passando fome, alguns filmes custam aos seus produtores dezenas de milhões de rúpias. O controverso filme Gandhi causou furor nos círculos culturais e da moda indianos. Um terço do orçamento de 9 milhões de libras esterlinas britânicas foi pago pelo governo indiano. [4]. Esse é o tipo de prioridade política que existe na Índia.

Enquanto isso, a propaganda para atrair turistas apresenta estatísticas impressionantes acerca das realizações alcançadas pelo país. Mas, essas reportagens deixam de tratar os problemas mais sérios da nação.

A Índia é o sétimo maior país do mundo em extensão territorial e o segundo mais populoso, com 1,2 bilhão de habitantes. [5]. Todavia, apesar de seu tamanho, um conjunto espetacular de recursos naturais e crescimento econômico devido às indústrias tecnológicas em desenvolvimento, a Índia é apenas a décima-segunda maior economia no mundo. [6]. Embora o país esteja crescendo economicamente, a desnutrição, a falta de oportunidades educacionais e a pobreza generalizada ainda são extremamente elevadas: quase metade das crianças está abaixo do peso ideal para suas idades [7]; existem 17 milhões de crianças trabalhadoras na Índia; menos da metade das crianças entre 6-14 anos vão para a escola; mais de uma de cada três mulheres e mais de 60% das crianças indianas são anêmicas. [8].

Ashrams na Índia

O primeiro ashram que nosso grupo visitou foi o Sivananda Ashram, em Monghyr. Também conhecido como Escola Bihar de Yôga, foi fundado em 1964 pelo swami tântrico Satyananda Saraswati. Quando chegamos ali, os funcionários exigiram que pagássemos antecipadamente as exorbitantes diárias de acomodação. Consentimos, pois estávamos cansados e famintos e sem energia para reclamar dos altos custos. Tivemos uma cansativa viagem de trem durante a noite desde Calcutá. Jamalpur Junction, a estação de trem mais próxima do ashram, estava localizada a cerca de 10 km de distância. Para tornar as coisas piores, desembarcamos ali início da madrugada.

O guarda da estação nos advertiu a não nos aventurarmos para fora da estação. "— Vocês serão assaltados ou assassinados", ele declarou. Ele disse que o Estado de Bihar era um dos mais violentos de toda a Índia. Nosso gentil amigo achava que seria melhor ficarmos na plataforma da estação até o amanhecer. Fizemos isto, junto com centenas de outros passageiros.

Cansados, mas agradecidos pelo sábio conselho, nós nos acomodamos para uma longa noite de vigília. Os corredores estavam ocupados por pessoas que dormiam junto às suas bagagens. O único lugar que pudemos encontrar para sentar foi o imundo e pouco iluminado restaurante da estação. Ele estava muito longe dos limpos e higiênicos restaurantes da minha infância, dos quais eu me lembrava vividamente.

Um garçom apareceu, vestindo o mesmo uniforme de três décadas atrás. Parecia que o uniforme não era lavado desde aquele mesmo tempo! Seu turbante vermelho desbotado e o cinto de tecido em volta de sua cintura refletiam tristemente os anos de deterioração. Quase não era discernível que sua túnica cinza e manchada era originalmente de cor branca. Suas luvas, antes um símbolo colonial de limpeza, eram igualmente imundas; as pontas dos dedos expunham unhas manchadas de graxa.

Olhei para o rosto dele e perguntei em língua hindi: "— Há quantos anos trabalha na estação de trem?"

"— Desde que eu era criança", ele sorriu orgulhosamente. "— Desde o tempo do raja britânico." Os olhos dele olharam para o passado e se encheram de tristeza com a lembrança. "— As coisas mudaram muito." Ele olhou ao redor, movendo seu braço lentamente como se estivesse apontando para alguma coisa. Ele olhou para o desgastado uniforme que ainda vestia com um elemento de orgulho, contraiu os ombros e repetiu: "— As coisas mudaram". Em seguida, suspirou e sorriu resignado: "— O que gostaria de pedir, Mehemsahib? Seu minúsculo lápis quase sem ponta estava pousado sobre um bloco de anotações já muito rabiscado.

Quando amanheceu, pegamos nossas malas e chamamos o homem do riquixá. Ele nos levou até cerca de 1,5 km da comunidade Sivananda. Caminhamos o restante do caminho.

As acomodações no ashram eram esparsas; as tarefas espirituais eram árduas. Todos os discípulos eram ocidentais que tinham de trabalhar muito pela sua estadia. Eles faziam as tarefas mais manuais — limpar os lavatórios, descascar os legumes, varrer o chão. Todos os trabalhos que os servos intocáveis da minha família faziam em minha juventude eram feitos pelos residentes que moravam ali. Quaisquer indianos presentes eram presumivelmente auxiliares do guru. Ele exerciam responsabilidades mais "elevadas". Os ocidentais consideravam seu trabalho como serviço religioso. Isto se enquadrava na categoria de Karma Yôga, o yôga do "trabalho altruísta" realizado para fins de "evolução espiritual".

Dormi em um grande dormitório com cerca de dez outras mulheres. Éramos despertadas às 4 horas da madrugada todos os dias. Algums dos discípulos se reuniam em aulas de meditação, enquanto outros se envolviam em práticas privadas. Em nossa primeira manhã, a garota que dormiu em uma rede ao lado da minha cama me acordou. O relógio despertador dela tinha soado em baixo volume, e ela sentou-se na rede. Ela se colocou em posição de lótus, preparando-se para sua própria variedade de yôga.

Ela ficou sentada imóvel por algum tempo, o suficiente para eu me acomodar e tentar dormir um pouco mais. Em seguida, ela iniciou um zumbido misterioso, em tom baixo e monótono. Ela parecia não respirar e apenas emitia continuamente um tom longo e amedrontador. Aquilo me causou arrepios. Finalmente, quando não consegui mais suportar, levantei-me e fui assistir as atividades matutinas no restante do ashram.

Alguns praticavam neti, a limpeza do nariz com água morna com sal. O pote usado podia conter dois copos de água e tinha um bico comprido. Ele se parecia com uma estranha chaleira. O bico do pote era inserido nas narinas. (Aquilo me pareceu desconfortável.) O devoto inspirava, aspirava, espirrava e tossia. Eles dizem que a prática do neti limpa as membranas no interior do nariz, estimula e fortaleze a área ao redor, o que inclui a região entre as pestanas. Para os hindus, este é um importante ponto de contato para o chakra chamado anja — o terceiro olho.

Perversões físicas são aspectos de Kriya Yôga — o tipo que Gandhi praticava. Talvez isto tenha sido parte da loucura que o levou a aplicar enemas em suas devotas favoritas. Seus estranhos hábitos sexuais o levaram a dormir com mulheres adolescentes nuas em uma tentativa de confirmar seu celibato. E suas extraordinárias perspectivas sobre bem-estar físico o levaram a prescrever pílulas de excremento de vaca para a boa saúde! [9].

Gandhi tinha sido um guru com seu próprio ashram anos antes de se tornar uma personalidade política. Como muitos outros, ele acreditava que Kriya Yôga equilibra as energias psíquicas e desperta os chakras.

Uma moça australiana sentou-se ao lado de um discípulo de neti enquanto eu conversava com ele. Mais tarde naquela noite, ela me fez uma visita inesperada. Sentada sobre um grande tronco de árvore, com minha ração de meio balde de água, eu estava contemplando como lavar o rosto, escovar os dentes, lavar a cabeça e minhas roupas íntimas. Como vou conseguir fazer isto tudo? Eu estava pensando quando ouvi o estalo de um galho por perto. Em alguns segundos, vi alguém sair hesitantemente das sombras.

Reconheci a moça e a convidei a me fazer companhia. Ela aquiesceu. Houve provavelmente um minuto de silêncio. Em seguida, ela reuniu coragem suficiente para dizer timidamente: "— Parece que você veio de outro planeta. Você tem um brilho colorido coloroso e amigável ao seu redor."

Eu tinha aprendido a não rir diante desse tipo de afirmação. Mergulhei o lenço no balde e comecei a passá-lo em meu rosto.

"— Há um tipo diferente de vida em você. De onde você é?", ela perguntou. Acabamos conversando por um par de horas, até as 21h00min, quando o regulamento exigia o silêncio em todo o ashram.

Fiquei sabendo que Premananda tinha somente 21 anos. Ela era discípula de Satyananda há cinco anos, recrutada quando ainda estava na escola. Existem muitas filiais do ashram desse guru em muitos países diferentes. Com que rapidez as diferentes escolas de Yôga estão crescendo em todo o mundo! pensei comigo mesma. Naquela mesma manhã, eu tinha lido uma grande placa ali no ashram que dizia: "Yôga emergirá como uma poderosa força mundial e transformará o curso dos eventos internacionais." [10].

"— Você pratica todos os métodos da Kriya Yôga, como o Amoroli?", perguntei à jovem mulher. Por volta daquela hora, ela confiava em mim. [NT: Amoroli também é conhecida como Terapia da Urina, que consiste em beber urina como uma forma de devoção, ou para fins terapêuticos.].

"— Bem, é algo que devo fazer", ela disse tentando se explicar. "— Mas, o gosto é tão terrível que me deixa enojada."

Pobre moça, pensei comigo mesma. Que dever espiritual medonho! Aqueles pobres devotos tinham de beber urina como parte de sua disciplina iogue. Era ensinado a eles que a urina possui qualidades redentoras.

"— Você sabe o que realmente é a urina?" Ele balançou sua cabeça. "— Bem", tentei explicar, "ela contém os dejetos do corpo. Não há nada na urina que seja necessário outra vez para o corpo. Assim, é óbvio que você fique enojada. E como isto poderá salvá-la?"

Premananda me confidenciou que uma de suas amigas tinha sido instruída a beber a urina do guru. "— Não sei o que faria se isso acontecesse comigo!" Os olhos dela ficaram dilatados quando ela contemplou a possibilidade.

Minha pesquisa tinha mostrado que eles creem que qualquer coisa que toca o corpo do guru é santa, desde a poeira em seus pés até seus pratos sujos após uma refeição. Beber a água do banho do guru é considerado algo que produz iluminação. Se o guru desejar manter relações sexuais, a discípula (ou discípulo) deve olhar para o ato como um degrau para cima em sua escada espiritual. Portanto, eu sabia que beber a urina do guru era uma tarefa devocional de grande significado.

Todos esses detalhes específicos estão descritos no Guru-gita, uma escritura hindu. "Meditem sem cessar na forma do guru", instrui esse antigo documento. Ele também declara:

"Sempre repita o nome dele, cumpra suas ordens, não pense em nada, exceto no guru... Por meio do serviço aos pés do guru, a alma encarnada torna-se purificada e todos seus pecados são lavados e removidos." [11].

Após alguns dias, fomos para o próximo ashram, deixando para trás muitos prisioneiros espirituais. A única coisa que eu podia fazer era orar por aquelas infelizes vítimas. Também agradeci a Deus pela oportunidade de falar com algumas delas. Alguns dos seguidores estavam fechados, como o discípulo de neti. Outros, estavam abertos, como Premananda. O guru dela exigia que seus devotos cortassem os vínculos com o mundo exterior, mas pude incentivá-la a entrar em contato com seus pais. Pude ativar a consciência dela com relação às coisas certas e erradas em algumas de suas práticas. Talvez isto a ajude a reconsiderar seu comprometimento com um deus da Índia.

O Hinduísmo ortodoxo ensina quatro estágios da vida: o estágio de aprendizado da infância, o estágio das responsabilidades conjugais, o estágio das obrigações com a carreira profissional e o estágio da preparação espiritual para a morte, ou como os hindus acreditam, entrar na reencarnação. O propósito tradicional do ashram hindu sempre foi ensinar as pessoas como morrer por meio da meditação do yôga.

O Ocidente Vai Para o Oriente

Foi somente após os anos 1960s, que jovens ocidentais, inspirados pelos The Beatles, começaram a procurar os ashrams na Índia para se sentarem submissamente aos pés dos gurus. Inicialmente, eles usaram as comunidades espirituais como albergues. Os ashrams forneciam acomodação barata para os jovens interessados em explorar seus desejos místicos.

Por volta dos anos 1980s, a presença deles tinha transformado a atmosfera tradicional em muitos ashrams. Junto com os jovens ocidentais vieram crianças e um ambiente mais orientado para as famílias. A chegada dos ocidentais em grandes números também alterou a estrutura dos ashrams: novos requisitos para a vida nos ashrams e a prática do Yôga suplantaram as antigas qualificações Brahmin: independente de sexo, nacionalidade, casta ou credo, todos eram aceitos. Aquilo que antes estava disponível somente para hindus idosos tornou-se disponível para todos.

Embora os ashrams tenham se tornado disponíveis para estrangeiros, a mensagem dos gurus e o propósito do Yôga permaneceram inalterados. As pessoas no Ocidente foram levadas a pensar que Yôga é a arte de viver; mas, para as pessoas no Oriente, Yõga é a arte de morrer.

Muitos dos ocidentais que adotaram a prática do Yõga ajudaram a propagá-lo no Ocidente. Um ocidental que passou tempo em um ashram hindu e que tem uma influência significativa no mundo ocidental é Michael Ray, um professor na Universidade de Stanford. Ray criou o curso "Criatividade nos Negócios", que obteve "grande parte de sua inspiração nas filosofias, misticismo e técnicas de meditação orientais." [12] Ray descreve sua experiência no ashram:

"Participei de um dia intensivo de meditação em um ashram para apoiar um amigo. Enquanto eu estava sentado em meditação naquele ambiente com o qual eu não estava familiarizado, subitamente senti e vi um raio subir desde a base de minha coluna vertebral até o topo da minha cabeça. Aquilo me forçou a reconhecer algo grande dentro de mim... a conscientização da minha própria divindade." [13].

Ray agora diz aos seus alunos que eles podem entrar em contato com suas próprias "pessoas interiores", ou "espíritos-guias", que os guiarão em suas vidas. Desde sua visita ao ashram, Ray transmitiu sua sabedoria oriental para milhares de pessoas por meio de seus livros e seminários.

Até mesmo o Cristianismo tem sido indiretamente afetado por Ray. Em 1982, Jim Collins, um palestrante em conferências cristãs, fez o curso "Criatividade nos Negócios", de Ray. Ele ficou tão inspirado pelo curso que escreveu o prefácio para o livro de 2004 de Ray, The Highest Goal (O Objetivo Mais Elevado). Collins diz que descobriu "o caminho para meu objetivo mais elevado" lendo o livro. Qual é o objetivo mais elevado do qual Michael Ray fala? Sua "própria divindade". Em The Highest Goal, Ray fala abertamente sobre as técnicas de meditação oriental e cita gurus hindus, como Ram Dass, Jiddu Krishnamurti e Swami Shantananda.

O Silêncio: A Única Religião Verdadeira?

A influência do pensamento oriental e do Yôga sobre o Ocidente continua de muitas formas. Em outubro de 2007, a apresentadora de televisão Oprah Winfrey divulgou para seus 50 milhões de telespectadores um livro intitulado Eat, Pray, Love (Comer, Orar, Amar). O livro, escrito por Elizabeth Gilbert, descreve como ela deixou seu marido e o antigo estilo de vida e encontrou aquilo que veio a chamar de a única religião verdadeira: o silêncio. A jornada dela a levou a viajar pelo mundo e, finalmente, ir até a Índia, onde, em um ashram, aprendeu a meditar.

Gilbret explicou que a primeira etapa em sua jornada foi praticar comilança na Itália:

"Eu não teria sido capaz de praticar fisicamente o yôga, a meditação, o rigor do trabalho espiritual. Portanto, fui primeiro para a Itália e comi bastante durante quatro meses." [14].

Da Itália, ela viajou até a Índia, onde aprendeu a meditar:

"Havia alguma coisa com aquele caminho do yôga que realmente teve um apelo para mim — e você faz isso por meio do silêncio e da disciplina da meditação — e realmente quis ir e seguir aquilo de forma total."

"Nada disso funciona sem quietude... Um dos grandes ensinos que aprendi na Índia é que o silêncio é a única verdadeira religião." [16].

Durante seu tempo no ashram, Gilbert teve uma experiência de meditação em que ela diz: "as escamas caíram dos meus olhos e as aberturas do universo me foram mostradas." [17].

É interessante que Gilbert relata uma história de como uma nova amiga na meditação experimentou "cores", "sons", "giros" e "rodopios" durante seus períodos de meditação. [18]. Esta é uma descrição do efeito da Kundalini (que significa "o poder da serpente" no Hinduísmo) experimentado pelos praticantes do Yôga. Eles dizem que a Kundalini está adormecida, enrolada na base da coluna vertebral. Quando é despertada e estimulada a subir pela passagem dentro da coluna, ela em algum momento alcança a união cósmica com o terceiro olho. A jornada da serpente passa pelos chakras, ou centros psíquicos. Os poderes místicos são despertados à medida que a Kundalini avança para cima.. Uma experiência similar levou o místico e sacerdote católico Philip St. Romain a ouvir vozes de outros seres, que ele chamou de seus "orientadores internos". [19].

Eat, Pray, Love esteve na lista dos livros mais vendidos elaborada pelo jornal The New York Times por mais de 200 semanas e já vendeu mais de 10 milhões de exemplares. Infelizmente, uma conhecida autora e palestrante cristã, Anne Lamott, escreveu um endosso para o livro, que está na quarta capa. Lamott é melhor conhecida por seu próprio livro, Traveling Mercies. A respeito de Eat, Pray, Love, ela diz: "Este é um livro maravilhoso, brilhante e pessoal, rico em compreensões espirituais." [20]. Mas, a "compreensão espiritual" do livro de Gilbert é a mesma "compreensão" que os gurus hindus que ensinam Yôga na Índia estão transmitindo para as massas há vários séculos.

O objetivo de todo o Hinduísmo é escapar do inevitável ciclo de reencarnação, em que a alma passa de corpo para alma, para corpo para alma, repetidamente. O propósito do Yõga é preparar a pessoa para romper o relacionamento entre ela mesma e o mundo físico, em preparação para a morte. O indivíduo é treinado a parar seus processos vitais, parar de pensar, interromper os sentidos, parar de respirar. Os hindus acreditam que a fuga de todo esse ciclo de viver e morrer é por meio do Yôga.

Ao retornar para a Índia após treze anos como uma cristã em uma equipe de pesquisadores, consegui reconhecer o quão complicada e contraditória realmente é a filosofia do Hinduísmo. Por meio do Yôga, o praticante treina a si mesmo para diminuir o ritmo e, eventualmente, fazer parar seus processos vitais. Até mesmo os exercícios respiratórios ensinados em Yôga não têm o objetivo de serem um benefício para a saúde. Eles não foram desenvolvidos para capacitar o indivíduo a respirar de forma mais eficiente, mas para controlar a respiração. O propósito é capacitar o indivíduo a reduzir o ritmo da respiração até um mínimo, de modo a fazê-la parar de forma total algum dia. O dom do Yôga é meramente uma forma de suicídio.

Em contraste com isto, Jesus Cirsto disse que veio para dar vida para aqueles que O seguem. Ele é a antítese da morte — Sua ressurreição é uma poderosa ilustração disto:

"Disse-lhe Jesus: Eu sou a ressurreição e a vida; quem crê em mim, ainda que esteja morto, viverá; e todo aquele que vive, e crê em mim, nunca morrerá. Crês tu isto?" [João 11:25-26].

Notas Finais

1. Upasana Bhat, "Prostitution 'increases' in India" (BBC News, Delhi, 3 de julho de 2006, http://news.bbc.co.uk/2/hi/south_asia/5140526.stm).

2. Robert I. Friedman, "India’s Shame: Sexual Slavery and Political Corruption Are Leading to An AIDS Catastrophe" (The Nation, Vol. 262, No. 14, Nova York, 8 de abril de 1996).

3. Central Board of Film Certification (Government of India, http://www.cbfcindia.tn.nic.in).

4. G. B. Singh, Gandhi: Behind the Mask of Divinity (Prometheus Books, 2004), pág. 76.

5. 'Population of India", http://www.indianchild.com/population_of_india.htm.

6. Lista de países por PIB (nominal): obtida em http://en.wikipedia.org/wiki/List_of_countries_by_GDP_(nominal), The CIA’s World Factbook for 2007.

7. "Work Among Children" (South Asian Council for Community and Children in Crisis, http://www.sac-ccc.org/2006/index.php?option=com_content&task=view&id=16&Itemid=33).

8. Idem.

9. Richard Grenier, "The Gandhi Nobody Knows" (“Commentary", março de 1983, publicada mensalmente pelo Comitê Judaico Americano, Nova York, NY, http://history.eserver.org/ghandi-nobody-knows.txt).

10. Citações de Satyananda Saraswati, acessadas em http://www.7centers.com/10daytransformation.html.

11. Passagens do Gura Gita, acessadas em: http://www.srinannagaru.com/articles/gurugita/gurugita.pdf.

12. Michael Ray, Creativity in Business (Garden City, NY: Doubleday & Co., Inc, 1986, Primeira edição), orelha.

13. Michael Ray, The Highest Goal (San Francisco, CA: Berrett-Koehler Publishers, Inc., 2004), pág. 28.

14. Michael Ray, Creativity in Business, op. cit., pág. 37.

15. Elizabeth Gilbert, citações da página de Oprah Winfrey na Internet: http://www.oprah.com/slideshow/oprahshow/slideshow1_ss_20071005_350/6.

16. Idem.

17. Idem.

18. Idem.

19. Philip St. Romain, Kundalini Energy and Christian Spirituality (Crossroad Pub. Co., 1995), pág. 39.

20. Anne Lamott, na quarta capa de Eat, Pray, Love, de Elizabeth Gilbert.


Autor: Caryl Matrisciana, artigo em http://www.lighthousetrailsresearch.com/blog/?p=17900
Data da publicação: 3/5/2016
A Espada do Espírito: https://www.espada.eti.br/hinduismo.asp