O Príncipe Que Há de Vir

(The Coming Prince)

Sir Robert Anderson

(1841-1918)

PREFÁCIO PARA A DÉCIMA EDIÇÃO

O Príncipe Que Há de Vir esteve esgotado por mais de um ano; parecia desaconselhável reimprimi-lo durante a guerra. Mas a guerra aparentemente fez aumentar o interesse pelas profecias de Daniel; como cresceu a procura por este livro, foi decidida a publicação de uma nova edição sem maior demora. Não que estas páginas contenham quaisquer teorias sensacionais sobre o "Armagedom". O "lugar chamado em hebreu Armagedom" não está situado na França nem em Flandres, mas na Palestina; e o futuro da terra e do povo da aliança será a questão principal na grande batalha que será travada naquela planície histórica.

Os estudantes das profecias estão aptos para se tornarem aderentes de uma dentre duas escolas rivais de interpretação. O ensino dos "futuristas" sugere que esta dispensação cristã é um branco total no esquema divino da profecia. Os "historicistas" desacreditam as Escrituras reduzindo o significado de palavras simples, de modo a encontrar o cumprimento delas na história. Evitando os erros de ambas as escolas, este volume está escrito no espírito do dito de Lord Bacon, que "As profecias divinas floresceram e germinaram realizações ao longo de muitas épocas, embora a altura ou plenitude delas possa pertencer a certa época." E esta Guerra Mundial está sem dúvida dentro da abrangência da profecia, embora não seja o cumprimento de qualquer Escritura em especial.

Muitos anos atrás minha atenção foi dirigida a um volume de sermões escritos por um rabino judeu da Sinagoga de Londres, no qual ele procurou desacreditar a interpretação cristã de certas passagens messiânicas. Ao lidar com Daniel 9, ele acusou os expositores cristãos de distorcerem, não somente a cronologia, mas também as Escrituras, em seus esforços de aplicarem a profecia das Setenta Semanas ao Nazareno. Minha indignação com tal acusação deu lugar à angústia mental quando o curso do estudo para o qual ele me levou me trouxe provas que aquilo de modo algum era um libelo sem base. Minha fé no Livro de Daniel, já abalada pela infiel cruzada alemã da "Alta Crítica", foi assim mais solapada. Decidi então encarar o estudo do assunto com determinação para aceitar sem reservas não somente a linguagem das Escrituras, mas as datas padrão da história, conforme confirmadas pelos nossos melhores cronologistas modernos. [1]

O seguinte é um breve sumário dos resultados da minha investigação com relação à grande profecia das "Setenta Semanas". Comecei com a suposição, com base na leitura rápida de muitas obras padrão, que a era em questão tinha referência aos setenta anos do cativeiro de Judá e que deveria terminar com a vinda do Messias. Mas logo fiz a surpreendente descoberta que isso era errôneo. O cativeiro durou somente sessenta e dois anos; e as setenta semanas relacionavam-se a um julgamento totalmente diferente das Desolações de Jerusalém. Além disso, o período "até o Messias, o príncipe", como Daniel 9:25 diz de forma tão clara, não era setenta semanas, mas 7+62.

A falha em distingüir entre os vários julgamentos da Servidão, do Cativeiro, e das Desolações, é uma fonte de erros no estudo de Daniel e dos livros históricos das Escrituras. É estranho que a distinção seja ignorada não somente pelos críticos, mas pelos cristãos. Por causa do pecado nacional, Judá foi levado à servidão a Babilônia por setenta anos, mas isso foi no terceiro ano do rei Jeoiaquim (606 AC). Todavia, o povo continuou obstinado em seus pecados; e em 598 AC, o julgamento muito mais severo do Cativeiro caiu sobre ele. Na primeira captura de Jerusalém, Nabucodonosor deixou a cidade e sua população sem maiores danos, seus únicos prisioneiros foram Daniel e outros cadetes da casa real. Mas nessa segunda ocasião, ele deportou a massa de habitantes para a Caldéia. Entretanto, os judeus ainda permaneceram impenitentes, a despeito das advertências divinas por intermédio de Jeremias em Jerusalém, e de Ezequiel entre os exilados; e após um lapso de mais nove anos, Deus trouxe sobre os judeus o terrível julgamento das "Desolações", que foram decretadas para durarem setenta anos. Assim, em 589 AC, o exército babilônio novamente invadiu a Judéia e a cidade de Jerusalém foi devastada e queimada.

Agora, tanto a "Servidão" quanto o "Cativeiro", terminaram com o decreto de Ciro, em 536 AC, que permitiu o retorno dos exilados. Mas como a linguagem de Daniel 9:2 diz tão claramente, os setenta anos das "Desolações" é que foram a base da profecia das setenta semanas. E o início desses setenta anos foi o dia em que Jerusalém foi sitiada — o décimo mês, no nono ano de Zedequias — um dia que desde então tem sido observado com um jejum pelos judeus em todos os países. [2 Reis 25:1] Daniel e o Apocalipse indicam definitivamente que o ano profético tem 360 dias. Além disso, esse era o ano sagrado do calendário judaico; e, como é bem conhecido, era o antigo ano das nações orientais. Setenta anos de 360 dias contêm exatamente 25.200 dias; e, como o dia do Ano Novo judaico dependia da lua equinocial, podemos atribuir o 13 de dezembro como "a data juliana" de 10 do mês dez de 589. E 25.200 dias contados desde a data terminada em 17 de dezembro de 520, que foi o vigésimo quarto dia do nono mês, no segundo ano de Dario, da Pérsia — o mesmo dia em que os fundamentos do segundo templo foram lançados. [Ageu 2:18-19].

Aqui está algo para colocar os críticos e os cristãos para pensar. Um decreto de um rei persa era considerado de origem divina, e qualquer tentativa de prejudicar seu cumprimento era geralmente tratada com pronta e drástica punição; apesar disso, o decreto que autorizou a reconstrução do templo, emitido pelo rei Ciro no auge de seu poder, foi estorvado por dezessete anos por pequenos governadores locais. Como isso aconteceu? A explicação é que até o último dia dos setenta anos das "Desolações" expirassem, Deus não permitiria que uma pedra fosse colocada sobre outra no monte Moriá.

Portanto, removendo de nossas mentes todas as meras teorias sobre este assunto, chegamos aos seguintes fatos precisamente confirmados:

  1. O início das Setenta Semanas foi a emissão do decreto para restaurar e reconstruir Jerusalém. [Daniel 9:25]
  2. Nunca houve mais de um decreto para a reconstrução de Jerusalém.
  3. Esse decreto foi emitido por Artaxerxes, rei da Pérsia, no mês de nisã, no vigésimo ano de seu reinado, isto é, em 445 AC.
  4. A cidade foi realmente construída consoante esse decreto.
  5. A data juliana de primeiro de nisã de 445 foi 14 de março.
  6. Sessenta e nove semanas de anos — isto é, 173.880 dias — considerados desde o 14 de março de 445, terminaram em 6 de abril de 32 DC.
  7. Esse dia, no qual as sessenta e nove semanas terminaram, foi o dia fatídico em que o Senhor Jesus Cristo entrou montado em um jumento em Jerusalém, em cumprimento à profecia de Zacarias 9:9; quando, pela primeira e única ocasião em toda sua jornada terrena, Ele foi aclamado como "Messias, o Príncipe, o Rei, o Filho de Davi".

E aqui novamente precisamos continuar com as Escrituras. Embora Deus não tenha em parte alguma registrado a data de nascimento de Cristo em Belém, nenhuma data na história, sacra ou profana, está fixada com maior definição que essa do ano em que o Senhor iniciou Seu ministério público. Faço referência, é claro, a Lucas 3:1-2. Digo isso enfaticamente, por que expositores cristãos têm persistentemente buscado definir uma data fictícia para o reinado de Tibério. A primeira Páscoa do ministério do Senhor foi, portanto, em nisã do ano 29; e podemos fixar a data da Paixão com absoluta certeza como nisã do ano 32. Se autores judeus ou infiéis colocam-se para confundir e corromper a cronologia desses períodos, não estaríamos surpresos. Mas é a expositores cristãos que devemos essa maligna obra. Felizmente, porém, podemos apelar para os esforços de historiadores e cronologistas seculares em busca de provas da precisão divina das Escrituras Sagradas.

O ataque geral ao livro de Daniel, discutido brevemente no "Prefácio Para a Quinta Edição", é tratado mais completamente na reedição de 1902 do livro Daniel in the Critics´s Den (Daniel na Cova dos Críticos). O leitor entrará ali uma resposta aos ataques da Alta Crítica a Daniel com base na filosofia e na história, e verá também que os críticos são refutados por suas próprias admissões com relação ao cânon do Antigo Testamento.

A maioria dos "erros históricos" em Daniel, que o professor Driver copiou do trabalho de Bertholdt de um século atrás, já foi colocada de lado pela erudição e pesquisa do nosso próprio tempo. Mas, ao escrever sobre o assunto, reconheci que a identidade de Dario, o medo, ainda era uma dificuldade. Desde então, entretanto, encontrei uma solução para essa dificuldade em um verso em Esdras, até então usado somente por Voltaire e outros para desacreditar as Escrituras. Esdras 5 nos diz que no reinado de Dario Histaspis, os judeus encaminharam uma petição ao trono, apelando para o decreto de Ciro que autorizou a reconstrução do templo. As palavras da petição indicam claramente que, de acordo com o conhecimento dos líderes judeus, esse decreto tinha sido arquivado na Casa do Tesouro, em Babilônia. Mas a procura ali foi infrutífera, e ele foi posteriormente localizado em Ecbatana (ou Acmeta: Esdras 6:2). Como então pôde esse documento do governo ter sido transferido para a capital da Média?

A única explicação razoável para esse fato extraordinário completa o círculo de prova que o rei vassalo a quem Daniel chama de Dario, o medo, foi Gobrias (ou Gubaru), que chefiou o exército de Ciro até Babilônia. Como vários autores já observaram, o testemunho das inscrições apontam para essa conclusão. Por exemplo, a tábua dos Anais de Ciro, registra que, após conquistar a cidade, foi Gobrias quem indicou os governadores e prefeitos; cujas indicações Daniel diz que foram feitas por Dario. O fato que ele era um príncipe da casa real da Média e, presumivelmente, bem conhecido de Ciro, que tinha residido na corte dos medos, explicaria o fato de ele ser mantido em tal elevada honra. Foi ele quem governou a Média como vice-rei quando o país foi reduzido ao status de província; e para qualquer um acostumado a lidar com evidências, a interferência parecerá natural que, por alguma razão ou outra, ele foi enviado de volta ao seu trono na província e que, ao retornar a Acmeta, carregou consigo os arquivos de seu breve reinado em Babilônia. No intervalo entre a ascensão de Ciro e a de Dario Histaspis, o decreto do Templo pode ter sido esquecido por todos, exceto pelos próprios judeus. Embora tenha sido uma questão séria prejudicar a execução de uma ordem emitida pelo rei da Pérsia [Esdras 6:11], porém neste caso, como já observado, um decreto divino suplantou o decreto de Ciro e vetou a tomada de decisão com base nele.

A elucidação da visão das Setenta Semanas, como desdobrada nas páginas a seguir, é minha contribuição pessoal à controvérsia a respeito do livro de Daniel. Como o criticismo investigativo ao qual ele foi submetido não conseguiu detectar nele um erro ou uma falha, [2] ele pode agora ser aceito sem hesitação ou reservas. O único comentário depreciativo que o professor Driver pôde oferecer sobre ele em seu Book of Daniel foi que ele é um reavivamento em uma forma ligeiramente modificada do esquema de Júlio Africano e que deixa a septuagésima semana "sem explicação". Mas certamente o fato de meu esquema estar nas mesmas linhas das do "pai dos cronologistas cristãos" cria uma presunção muito forte a seu favor. Assim, longe de deixar a septuagésima semana sem explicação, eu a tratei de acordo com as crenças dos primeiros pais. Eles consideravam essa semana como futuro, vendo que olhavam para o Anticristo nas Escrituras — "uma pessoa individual, a encarnação e concentração do pecado." [3]

R. A.

Notas de Rodapé do Prefácio da Décima Edição

[1] Com relação aos reinados do reis judeus, entretanto, as datas dos meses de Fynes Clinton estão aqui modificadas de acordo com o Mishna hebraico, que era um livro selado para os leitores ingleses quando o Fasti Hellenici foi escrito. Com referência a uma data de importância cardeal, estou especialmente em dívida com o falecido cônego Rawlinson e o falecido Sir George Airey.

[2] Um ponto pode merecer observação em uma nota de rodapé. A tradução da Versão Revisada de Atos 13 parece destruir minha solução do problema confuso dos 480 anos de 1 Reis 6:1. Mas aqui, de acordo com a prática usual deles, e a negligência dos princípios pelos quais os especialistas são guiados ao lidar com evidências conflitantes, os revisores servis seguiram certos dos mais antigos MSS. E o efeito nessa passagem é desastroso. Por que é certo que nem o apóstolo disse, nem o evangelista escreveu, que a posse da terra por Israel esteve limitada a 450 anos, ou que 450 se passaram antes da era dos juízes. O texto adotado pelos revisores é, portanto, claramente errado. Dean Alford considera-o "como uma tentativa de corrigir a difícil cronologia do verso"; e acrescenta, "tomando as palavras como estão, nenhum outro sentido pode ser dado a elas do que a duração do tempo dos juízes foi de 450 anos." Isto é, como ele continua explicando, a era dentro da qual ocorreu o governo dos juízes. Não é que os juízes governaram durante 450 anos — em cujo caso o acusativo seria usado, como no verso 18 — mas, como o uso do dativo implica, que o período até Saul, caracterizado pelo governo dos juízes, durou 450 anos. Quase não preciso observar a objeção que deixo de levar em conta a servidão mencionada em Juízes 10:7-8, Essa servidão afetou apenas as tribos que viviam além do Jordão.

[3] Alford's Greek Test. Prol. to 2 Tessalonicenses, Cap. 5.



PREFÁCIO PARA A QUINTA EDIÇÃO

UMA DEFESA DO LIVRO DE DANIEL CONTRA A "ALTA CRÍTICA"

Este volume tem sido depreciado por alguns porque, segundo se alega, ignora a crítica destrutiva que supostamente levou "todas as pessoas com discernimento" a abandonarem a crença nas visões de Daniel.

A acusação não é de todo justa. Não somente são algumas das principais objeções dos críticos respondidas nestas páginas, mas ao provar a autenticidade da grande profecia central do livro, a autenticidade do todo é estabelecida e a ausência de um capítulo especial sobre o assunto pode ser explicada. A prática, comum demais na controvérsia religiosa, de fazer uma representação parcial das visões dos oponentes, em vez de aceitar as próprias afirmações deles, nunca é satisfatória e raramente é justa. Além disso, não havia um tratado disponível no lado dos críticos, que fosse conciso o suficiente para possibilitar a base para uma breve digressão, e ainda assim suficientemente completo e confiável para garantir que fosse aceito como adequado.

Essa falta, porém, foi desde então suprida pelo livro Introduction to the Literature of the Old Testament, do Professor Driver, [1] uma obra que incorpora os resultados da assim-chamada "Alta Crítica", conforme aceita pelo sóbrio julgamento do autor. Ao mesmo tempo em que evita as malévolas extravagâncias dos racionalistas alemães e de seus imitadores ingleses, ele não omite nada que a erudição possa apresentar justamente contra a autenticidade do livro de Daniel. E, se os argumentos hostis que ele menciona puderem ser mostrados como furados e inconclusivos, o leitor poderá destemidamente aceitar o resultado como "o fim da controvérsia" sobre o assunto. [2]

Aqui está a tese que o autor se dispõe a estabelecer:

"Diante dos fatos apresentados pelo livro de Daniel, a opinião que ele é a obra do próprio Daniel não pode ser sustentada. A evidência interna mostra, com um rigor que não pode ser resistido, que ele deve ter sido escrito não antes de 300 AC, e na Palestina; e é no mínimo provável que foi composto sob a perseguição de Antíoco Epifânio, em 168 ou 167 AC."

O professor Driver organiza suas provas em três divisões:

  1. Fatos de uma natureza histórica;
  2. A evidência da linguagem de Daniel; e
  3. A teologia do livro.

Na primeira divisão ele enumera os seguintes pontos:

(a) "A posição do livro no cânon judaico, não entre os profetas, mas na coleção de escritos diversos chamados de Hagiógrafo, e entre os últimos desses, próximo a Ester. Embora pouco de definitivo seja conhecido com relação à formação do cânon, a divisão conhecida como "Profetas" foi sem dúvida formada antes no Hagiógrafo; e tivesse o livro de Daniel existido naquele tempo, é razoável supor que teria sido classificado como a obra de um profeta e teria sido incluído entre os anteriores."

(b) "Jesus, o filho de Siraque (escrevendo em cerca de 200 AC), em sua enumeração dos israelitas de fama, c. 44-50, embora mencione Isaías, Jeremias, Ezequiel, e (coletivamente) os doze profetas menores, é silencioso com relação a Daniel."

(c) "Que Nabucodonosor sitiou Jerusalém e transportou os vasos sagrados no 'terceiro ano do reinado de Jeoiaquim (Daniel 1.1), embora não possa, estritamente falando, ser desaprovado, é altamente improvável; não somente é o livro dos Reis silencioso, mas Jeremias, no ano seguinte (Jeremias 25, etc.) fala dos caldeus de uma maneira que parece implicar distintamente que eles ainda não tinham sido vistos em Judá."

(d) "Os 'caldeus' eram sinônimos em Daniel com a casta dos sábios. Esse sentido 'é desconhecido na linguagem assírio-babilônia e, sempre que ocorre, foi formado após o fim do império babilônio, e é assim um indício da composição pós-exílio do livro' (Schrader)."...

(e) "Belsazar é representado como rei de Babilônia; Nabucodonosor é citado em todo o Capítulo 5 (versos 2,11,13 e 22) como seu pai."...

(f) "Dario, filho de Assuero, um medo, após a morte de Belsazar, 'foi feito rei sobre o reino dos caldeus'. Parece não haver espaço para esse monarca. De acordo com todas as outras autoridades, Ciro foi o sucessor imediato de Nabonido e o governante de todo o império persa.

(g) "Em 9:2 é dito que Daniel 'entendeu pelos livros' o número dos anos pelos quais, de acordo com Jeremias, Jerusalém ficaria em ruínas. A expressão usada implica que as profecias de Jeremias formavam parte de uma coleção de livros sagrados, que, apesar de ser afirmado com segurança, não estava formada em 536 AC".

(h) "Outras indicações mencionadas para mostrar que o livro não é obra de um contemporâneo, são as seguintes": Os pontos são a improbabilidade, primeiro, para um judeu rígido ter entrado na classe dos "sábios", ou que ele tenha sido admitido pelos outros sábios; segundo, a insanidade de Nabucodonosor e seu edito; terceiro, os termos absolutos em que ele e Dario reconhecem a Deus, ao mesmo tempo em que retêm sua idolatria.

Rejeito os itens (f) e (h) imediatamente, porque o próprio autor, com sua justiça habitual, recusa-se a enfatizá-los. "Eles deveriam", ele admite, "ser usados com reservas." A menção de "Dario, o medo", é talvez a maior dificuldade que confronta o estudante do livro de Daniel e o problema envolvido ainda aguarda uma solução. A rejeição desqualificada da narrativa por muitos autores eminentes apenas prova a incapacidade até dos eruditos de considerarem suspender seus julgamentos sobre as questões do tipo. A história daquele tempo é incerta e confusa demais para justificar o dogmatismo e, como o Professor Driver justamente comenta, "uma crítica cautelosa não construirá muito sobre o silêncio das inscrições, onde muitas coisas certamente permanecem para serem descobertas." Na obra recente do Sr. Sayce [3] essa cautela foi rejeitada. Ele aceita, além disso, com uma fé que é excessivamente simples, tudo o que Ciro diz de si mesmo. Era obviamente de seu interesse representar a aquisição de Babilônia como uma revolução pacífica, e não uma conquista militar. Mas o livro de Daniel não conflita com nenhuma das duas hipóteses. Sayce aqui "lê dentro dele", como é tão constantemente feito, o que o texto de modo algum diz ou implica. Não há uma palavra sobre um cerco ou captura. Belsazar foi "morto" e Dario "ocupou" o reino; mas como esses eventos ocorreram precisamos saber por outras fontes. O Professor Driver aqui admite em termos expressos "que Dario, o medo, pode provar, afinal, ter sido um personagem histórico"; [4] e isso é o suficiente para nosso propósito atual.

Os pontos restantes começo a discutir um de cada vez.

(a) Isso é colocado corretamente em primeiro lugar, por ser o mais importante. Mas sua aparente importância cresce menos e menos quanto mais de perto ele é examinado. Nossa Bíblia, seguindo a Vulgata, divide o Velho Testamento em trinta e nove livros. O cânon judaico reconhecia somente vinte e quatro. Esses livros eram classificados em três divisões — a Torá, o Neveeim e o Kethuvim (a Lei, os Profetas, e os Outros Escritos). A primeira divisão continha o Pentateuco. A segunda continha oito livros, que foram novamente classificados em dois grupos. Os quatro primeiros — Josué, Juízes, Samuel e Reis — eram chamados de "Primeiros Profetas"; e o segundo — Isaías, Jeremias, Ezequiel, e os "Doze" (isto é, os profetas menores, reconhecidos como um livro) — eram chamados de "Últimos Profetas". A terceira divisão continha onze livros — Salmos, Provérbios, Jó, Cântico dos Cânticos, Ruth, Lamentações, Eclesiastes, Ester, Daniel, Esdras e Neemias (reconhecidos como um), e Crônicas. Agora, um exame dessa lista torna uma das duas conclusões irresistíveis. Ou o cânon foi organizado sob direção divina, ou então a classificação dos livros entre a segunda e terceira divisão foi arbitrária. Se qualquer um adotar a primeira alternativa, a inclusão de Daniel no cânon é decisiva para toda a questão. Se, por outro lado, for assumido que a organização foi humana e arbitrária, o fato de Daniel estar no terceiro grupo prova — não que o livro foi considerado de reputação duvidosa, por que nesse caso ele teria sido excluído do cânon, mas que o grande exilado do Cativeiro não era considerado um "profeta".

Para o superficial isso pode parecer entregar todo o caso. Usando-se a palavra "profeta" em seu sentido mais comum, Daniel não poderia de modo algum reivindicar o título e, quanto a Mateus 24:15, ele provavelmente nunca teria sido aplicado a ele. Suas visões têm correspondentes no Novo Testamento, mas mesmo assim ninguém fala do "profeta João". De acordo com 1 Pedro 1:21, os profetas "falaram movidos pelo Espírito Santo". Isso caracterizou as palavras proferidas por Isaías, Jeremias, Ezequiel e "os Doze". Eram as palavras de Jeová pela boca dos homens que as proferiram. Os profetas colocavam-se diante do povo como testemunhas de Deus; mas a posição e o ministério de Daniel foram totalmente diferentes. "Nem demos ouvidos aos teus servos, os profetas, que em teu nome falaram" — foi sua humilde atitude. A alta crítica pode tratar como de pouca importância a distinção aqui insistida; mas a questão é como ela foi considerada pelos homens que definiram o cânon; e, no julgamento deles, sua importância era imensa. Daniel contém o registro, não das palavras da boca de Deus proferidas pelo vidente, mas as palavras que foram ditas a ele, e de sonhos e visões que lhe foram dados. As visões da última metade do seu livro lhe foram dadas após mais de sessenta anos servindo ao estado — o registro dos quais fixaram sua fama na mente do povo como um estadista e governante.

Assim, o leitor reconhecerá que a posição de Daniel no cânon é precisamente onde devemos esperar encontrá-lo. O crítico fala dele como sendo "na coleção de escritos diversos chamados Hagiógrafo, e entre os mais recentes desses, em proximidade com Ester." Mas, ao adotar isso de autores anteriores, o autor é culpado daquilo que pode ser descrito como desonestidade não intencional. Daniel vem antes de Esdras, Neemias e Crônicas em um grupo de livros que inclui os Salmos — os Salmos que eram a parte mais valorizada do cânon pelos judeus — esses Salmos, muitos dos quais eles corretamente consideraram como proféticos no sentido mais elevado e estrito possível. [5] Mas eles dizem que Daniel foi colocado "em proximidade com Ester". O que o crítico quer dizer com isso? Ele não pode querer sugerir que Ester seja considerado de baixa reputação pelos judeus, pois ele mesmo declara que esse livro veio a ser "considerado por eles como superior tanto aos escritos dos profetas e a todas as outras partes do Hagiógrafo." Com relação ao fato de Ester vir antes de Daniel, ele não pode ter negligenciado que ele está incluído no cânon com os quatro livros que o precedem — o Megilloth. Ele não pode querer implicar que os livros do Kethuvim estão organizados em ordem cronológica e, certamente não pode desejar criar um preconceito ignorante. A frase, portanto, é um enigma e a discussão sobre essa divisão pode ser dosada pelo comentário geral que (a) implica que os judeus estimavam os livros na primeira divisão de seu cânon como menos sagrados que "os profetas". Mas isso é totalmente sem fundamento. Em comum com o resto, eles eram, como Josefo nos diz, "justamente aceitos como divinos, de modo que, em vez de falar contra eles, elas estavam prontos a sofrer tortura, ou até morte." [6]

(b) Mas pouco precisa ser dito em resposta a isso. O cônego Driver admite que o argumento é um "que, estando só, seria arriscado enfatizar", e essa é precisamente sua posição se (a) for refutado. Se fosse uma questão da omissão do nome de Daniel de uma lista formal de profetas, tudo dito acima apresentado se aplicaria aqui com igual força; mas o leitor não deve supor que o filho de Siraque mostra qualquer lista do tipo. Os fatos são esses. O livro apócrifo de Eclesiástico, que é aqui referido, termina com uma rapsódia em louvor a "homens famosos". É realmente verdade que esse panegírico omite o nome de Daniel. Mas em qual conexão seria o nome dele incluído? Daniel foi exilado em Babilônia no início da sua juventude e nunca passou um único dia de sua longa vida entre seu povo, nunca foi abertamente associado com eles em suas lutas ou dores. O crítico, além disso, deixa de observar que o filho de Siraque também ignora não somente personagens famosos como Abel, Melquisedeque, Jó, Gideão, Sansão, mas também Esdras, que, ao contrário de Daniel, teve uma parte proeminente na vida nacional e que também deu seu nome a um dos livros do cânon. Que o leitor decida essa questão por si mesmo após ler a passagem em que os nomes de Daniel e de Esdras deveriam aparecer. [7] Se alguém é assim mentalmente constituído que a omissão leva-o a se decidir contra a autenticidade desses dois livros, nenhuma palavra minha será suficiente para influenciá-lo.

(c) A afirmação histórica com a qual o livro de Daniel inicia é declarada improvável com base em dois fundamentos; primeiro, por que "o livro dos Reis é silencioso" sobre o assunto; e, segundo, por que Jeremias 25 parece inconsistente com ele. O primeiro ponto é tornado aparentemente em erro, porque 2 Reis 24:1 diz explicitamente que nos dias de Jeoiaquim, Nabucodonosor veio contra Jerusalém, e que o rei judeu tornou-se seu vassalo. [8]

E o segundo ponto é exagerado. Jeremias 25 é silencioso sobre o assunto e isso é tudo o que pode ser dito. Agora, o peso a ser dado ao silêncio de uma testemunha ou documento em particular em qualquer questão é um problema familiar ao se lidar com evidências. Depende inteiramente das circunstâncias se ele conta ou não, por muito, por pouco, ou por nada. Sendo o livro dos Reis um registro histórico, seu silêncio aqui contaria como alguma coisa. Mas por que deveria uma advertência e uma profecia como Jeremias 25 conter o relato de um evento ocorrido alguns meses antes, um evento que ninguém em Jerusalém poderia esquecer? [9]

Uma maior discussão nessa linha é desnecessária, pois a exatidão da afirmação de Daniel pode ser estabelecida em bases que os críticos ignoram totalmente. Eu me refiro à cronologia das eras da "servidão" e das "desolações". Ambas são comumente confundidas com o "cativeiro", que foi somente em parte concorrente com elas. Essas várias eras representaram três julgamentos sucessivos sobre Judá. A cronologia delas é totalmente explicada na continuação, e uma referência à digressão (dentro desta obra), ou uma simples olhada nas tabelas que seguem, fornecerão provas absolutas e completas que a servidão começou no terceiro ano de Jeoiaquim, precisamente como diz o Livro de Daniel.

(d) Referencio no segundo título da investigação a questão filológica aqui envolvida. Ela não é em qualquer sentido uma dificuldade histórica.

(e) O leitor encontrará esse ponto tratado. O cônego Driver comenta: "Pode ser admitido como provável que Belsaruzur manteve o comando para seu pai em Babilônia;... mas é difícil pensar que isso poderia lhe dar o direito de ser citado por um contemporâneo como rei." Se Belsazar foi regente, como a narrativa indica, é difícil pensar que um cortesão falaria dele de forma diferente a de um rei. Fazer assim poderia lhe custar sua cabeça! Daniel 5:7,16,29 corrobora aqui de uma forma mais saliente porque é totalmente não planejada. Nabucodonosor tinha feito de Daniel o segundo governante no reino; por que Belsazar fez dele o terceiro governante? Presumivelmente por que ele próprio mantinha o segundo posto. Para evitar isso, os críticos, recorrendo a uma possível tradução alternativa do aramaico (conforme dada na margem da Versão Revisada); conjeturam de uma "junta de três". Mas, assumindo que as palavras usadas possam significar um triunvirato no mesmo sentido do Capítulo 6:2, a questão se esse é o significado real delas precisa ser definido recorrendo-se à história. E a história não permite nem a mais leve indicação que tal sistema de governo prevaleceu no Império Babilônio. Portanto, uma verdadeira exegese precisa decidir em favor da visão alternativa e mais natural, que Daniel deveria reinar como o terceiro, o rei ausente sendo o primeiro, e o rei regente o segundo.

No entanto, Belsazar é chamado de filho de Nabucodonosor. O leitor achará essa objeção totalmente respondida pelo Dr. Pusey (Daniel, págs. 406-408). Ele comenta que "o casamento com a família de um monarca conquistado, ou com uma linhagem substituída, era obviamente um modo de fortalecer o trono recém-conquistado, e é provável que Nabonido assim fortificasse sua reivindicação", e o Professor Driver mesmo permite (pág. 468) que possivelmente o rei possa ter se casado com uma filha de Nabucodonosor, "em cujo caso este pode ser citado como o pai de Belsazar (= avô, pelo uso hebraico)." Eu somente acrescentaria dois comentários: primeiro, os críticos se esquecem que até mesmo em sua própria vista de Daniel a existência de uma tradição é a principal prova de sua verdade; segundo, se o usurpador quisesse ser chamado de filho de Nabucodonosor, embora sem qualquer tipo de direito ao título, ninguém em Babilônia se atreveria a contestá-lo.

(g) Aqui estão as palavras de Daniel 9:2 (R. V.): "Eu, Daniel, entendi pelos livros que o número dos anos, de que falara o SENHOR ao profeta Jeremias, em que haviam de cumprir-se as desolações de Jerusalém, era de setenta anos." A profecia referida aqui é admitidamente Jeremias 25:11-12. Agora, a palavra sepher, traduzida como "livro" em Daniel 9:2, significa simplesmente um rolo. Ela pode também indicar um livro, como ocorre freqüentemente nas Escrituras, ou meramente uma carta. Veja, por exemplo, Jeremias 29:1 (a carta que Jeremias escreveu aos exilados em Babilônia), ou Isaías 37:14 (a carta de Senaqueribe ao rei Ezequias). Então, novamente, Jeremias 36:1-2, registra que no quarto ano do reinado de Jeoiaquim, o mesmo ano em que a profecia de Jeremias 25 foi dada, todas as profecias entregues até aquele tempo estavam registradas em "livros". E, em Jeremias 51:60-61 ficamos sabendo que uns dez anos mais tarde outro "livro" foi escrito e enviado a Babilônia. Onde, então, está a dificuldade? O Professor Driver, além disso, fornece uma resposta completa em sua própria crítica adotando "a suposição que em alguns casos, os escritos de Jeremias entravam em circulação por certo tempo como profecias avulsas, ou pequenos grupos de profecias". Essas profecias podem ter sido os rolos, ou "livros", citados em Daniel 9.

Mas suponha, para facilitar o argumento, que admitamos que "os livros" devam significar os escritos sagrados até aquele período, que garantia há para afirmar que essa "coleção" não existia em 536 AC? Uma afirmação mais arbitrária nunca foi feita, até mesmo no terreno da controvérsia. Não é absolutamente incrível que os rolos da Lei não eram mantidos juntos? E, considerando-se que Daniel era um homem muito piedoso e que dispunha de extraordinários recursos e meios à sua disposição durante o reinado de Nabucodonosor, não pode "ser afirmado com segurança" que não havia outro homem na terra que pudesse ter cópias de todos os escritos sagrados? [10]

Volto-me agora para o segundo argumento do crítico, que está baseado na linguagem do livro de Daniel. Ele apela, primeiro, para o número de palavras persas que aparecem; segundo, para a presença de palavras gregas; terceiro, para o caráter do aramaico em que parte do livro foi escrito; e, por último, para o caráter do hebraico.

Por trás do argumento da presença de palavras estrangeiras está uma suposição não expressa que os judeus eram uma tribo inculta que tinha vivido até então em um monótono isolamento. Entretanto, quatro séculos antes de Daniel, a sabedoria e riqueza de Salomão eram comentadas em todo o mundo conhecido. Ele foi um naturalista, um botânico, um filósofo e um poeta. E, por que não também um lingüista? Eram todas suas conversas com suas muitas mulheres estrangeiras realizadas com a ajuda de intérpretes? Ele negociava com nações próximas e distantes, e todos sabem como o idioma é influenciado pelo comércio. Podemos duvidar que a fama de Nabucodonosor atraiu estrangeiros para Babilônia? Quais eram suas relações com as cortes estrangeiras não sabemos. Por que Daniel não pode ter sido um erudito na língua dos persas? A posição atribuída a ele sob o governo persa torna isso extremamente provável. O número de palavras persas no livro, de acordo com o Professor Driver, é "provavelmente pelo menos quinze", e aqui está o comentário dele sobre elas:

"Que essas palavras fossem encontradas em livros escritos após o Império Persa ter sido organizado e quando as influências persas prevaleciam, não é mais do que seria esperado."

Mas foi exatamente nessas circunstâncias que o livro de Daniel foi escrito. A visão do Capítulo 10 foi dada cinco anos após o domínio persa ser estabelecido e essas visões foram a base do livro. O autor sem dúvida tinha notas e registros de porções anteriores e históricas, mas é uma suposição razoável que o todo foi escrito após ele receber as visões.

Com relação ao aramaico e ao hebraico de Daniel, logicamente não posso expressar uma opinião própria. Mas minha posição não será de modo algum prejudicada por minha incompetência nesse assunto. Em primeiro lugar, não há nada de novo aqui. O crítico meramente apresenta de uma forma condensada o que os alemães propuseram; e todo o terreno já foi coberto pelo Dr. Pusey e outros que, tendo examinado com igual erudição e cuidado, chegaram a conclusões totalmente diferentes. Mas, em segundo lugar, é desnecessário; a extraordinária justiça com que o Professor Driver expressa os resultados de seu argumento me habilita a consentir com tudo o que ele diz sobre esse assunto e a rejeitar a discussão dele para a seqüela. Aqui estão as palavras dele:

"O veredito da linguagem de Daniel é assim claro. As palavras persas pressupõem um período após o Império Persa ter sido bem estabelecido; as palavras gregas exigem, o hebraico suporta, e o aramaico permite, uma data após a conquista da Palestina por Alexandre, o Grande (332 AC). Com nosso presente conhecimento isso é o tanto que a linguagem nos autoriza a afirmar definitivamente." (pág. 476).

Posso dizer isso em outras palavras? Os termos persas geram uma suposição que Daniel foi escrito após certa data. O hebraico corrobora essa suposição, o aramaico é consistente com ela, e as palavras gregas usadas estabelecem a verdade disso. Problemas precisamente similares a esse pedem decisões todos os dias em nossas cortes de justiça. A força total do caso depende do último ponto afirmado. Qualquer número de suposições argumentativas podem ser refutada; mas aqui, alega-se, temos provas que não admitem nenhuma resposta: as palavras gregas exigem uma data que destrói a autenticidade de Daniel.

O leitor acreditará que a única base em que essa superestrutura se apóia é a alegação que duas palavras gregas são encontradas na lista de instrumentos musicais apresentadas no terceiro capítulo? Em um bazar realizado certo tempo atrás em uma catedral, sob o patrocínio do bispo da diocese, foi dado o alarme que um roubo estava ocorrendo entre a companhia, e duas mulheres presentes perderam suas carteiras. Na agitação que se seguiu, as carteiras roubadas, esvaziadas de seus conteúdos, foram encontradas no bolso do bispo! A "Alta Crítica" o teria entregado à Polícia! Talvez uma desculpa seja necessária para essa digressão; mas, com toda a honestidade, certamente é oportuno investigar se esses críticos compreendem os rudimentos da ciência de pesar as evidências. A presença das duas carteiras roubadas não "exigia" a condenação do bispo. Nem deveriam a presença de duas palavras gregas decidir o destino de Daniel. [11] A questão ainda permanece, como elas foram parar ali? De acordo com o Professor Driver, ele mesmo uma autoridade hostil, a evidência do momento refutou totalmente esse argumento dos críticos. [12] Parece agora que havia colônias gregas na Palestina já nos dias de Ezequias, e que já havia comércio entre a Grécia e Canaã em um período anterior.

Mas vamos admitir, para o bem do argumento, que as palavras eram realmente gregas; e que essas palavras não eram conhecidas em Babilônia nos dias do exílio. É legítima essa inferência com base na presença delas em um livro? Embora alguns apologistas de Daniel tenham pressionado bastante a hipótese de uma revisão, tal hipótese permite uma explicação mais razoável das dificuldades desse tipo em particular. Por que deveríamos duvidar da verdade da tradição judaica que "os homens da grande sinagoga escreveram" (isto é, editaram) o livro de Daniel? E, se é verdade, então essas palavras gregas podem ser facilmente explicadas. Se na relação de instrumentos musicais, e no título dos "sábios", os editores encontraram termos que lhes eram estranhos, quão natural seria substituírem esses termos por palavras conhecidas dos judeus da Palestina? [13] Quão natural, então, escrever nomes como Nabucodonosor e Abednego do modo como se tornou usual. Esses são precisamente o tipo de mudança que eles deveriam adotar; alterações de modo algum vitais, mas apropriadas para tornar o livro mais adequado para aqueles que o estavam revisando.

O último terreno de ataque do crítico é a teologia do Livro de Daniel. Isso, ele declara, "aponta para uma época posterior do que a do exílio." Nenhuma acusação de erro é sugerida, pois o Professor Driver é cuidadoso no início em repudiar o que chama de "exageros" dos racionalistas alemães e seus imitadores ingleses. Mas a aliança deles como esses homens distorce seu julgamento e o leva a fazer afirmações produzidas por sua ignorância e pela malícia deles misturadas. Um exemplo será suficiente. "É digno de nota, também", ele diz, "que Daniel — muito ao contrário dos profetas em geral — não exiba qualquer interesse pelo bem-estar e pelas possibilidades de seus contemporâneos." Nem mesmo na controvérsia teológica poderia outra afirmação ser achada mais flagrantemente infundada e falsa. Em toda a história dos profetas, em toda a Escritura, o Capítulo 9 de Daniel não tem paralelos no honesto e apaixonado "interesse pelo bem-estar e pelas possibilidades de seus contemporâneos".

Agora a questão aqui é: não se a doutrina do livro é verdadeira, pois isso não é disputado, mas se a verdade de um personagem avançado e definido poderia ter sido revelada em um período tão prematuro no esquema da revelação. Não é fácil fixar os princípios sobre os quais uma questão deva ser discutida. E a discussão pode ser evitada fazendo-se outra pergunta, a resposta para a qual decidirá toda a questão em disputa. Conhecemos a "visão ortodoxa" do livro de Daniel. Que alternativa o crítico propõe para nossa aceitação? Aqui ele falará por si mesmo, e as citações seguintes serão suficientes:

"Daniel, não se pode duvidar, foi uma pessoa na história, um dos exilados judeus em Babilônia, que, com seus três companheiros, foi observado por sua ferrenha aderência aos princípios de sua religião, que chegou à posição de influência na corte de Babilônia, que interpretou os sonhos de Nabucodonosor, e previu, como um vidente, algo do destino futuro dos impérios caldeu e persa." [pág. 479].

"Por outro lado, se o autor é um profeta que vivia no tempo do próprio problema, todos os aspectos do livro podem ser consistentemente explicados. Ele vive na época em que manifesta um interesse e quais são as necessidades que suas consolações têm de tratar. Ele não escreve após as perseguições terem terminado (em cujo caso suas profecias seriam sem sentido), mas no início delas, quando a mensagem de encorajamento teria um valor para os judeus tementes a Deus no tempo da provação. Assim, ele profere predições genuínas; e o advento da era messiânica segue imediatamente o fim de Antíoco, exatamente como a Isaías ou Miquéias seguiu-se de perto a queda do Império Assírio: em ambos os casos o futuro é abreviado." [pág. 478].

A primeira dessas citações refere-se ao próprio Daniel, a segunda ao suposto autor do livro que leva seu nome. Na primeira, passamos por um momento fora da névoa e da nuvem da mera teoria e argumento para a luz clara do fato. "Não se pode duvidar", ou, em outras palavras, é absolutamente certo, que Daniel não somente "foi uma pessoa histórica", mas um "vidente" — isto é, um profeta. Mas fazendo uma especulação arriscada, vamos conjeturar a existência de outro profeta nos dias de Antíoco — um profeta real, pois ele "profere predições genuínas" para o encorajamento dos "judeus tementes a Deus no tempo da provação."

Agora, a posição do cético é em certo sentido impregnável. Ele é como um jurado obstinado que põe suas costas contra a parede e se recusa a crer nas evidências. Mas marque o que envolve essa contemporização sugerida. Como já observado, Daniel não tinha pretensões ao manto de um profeta no sentido em que Jeremias e Ezequiel o vestiram. Ele próprio não reivindicava o título (veja o Capítulo 9:10). Além disso, ele passou sua vida em esplêndido isolamento na corte de Babilônia, enquanto os dois outros profetas eram figuras centrais entre seu povo — um no meio das dificuldades em Jerusalém, o outro entre os exilados. Portanto, não seria estranho se o nome de Daniel e sua fama não estivessem na memória popular. Mas aqui somos solicitados a acreditar que outro profeta, elevado dentro dos tempos históricos, cuja "mensagem de encorajamento" precisa ter estado nos lábios de todos durante a nobre luta dos Macabeus, passou em branco pela memória da nação. O historiador dessa luta não pode ter sido removido dele por mais de uma única geração, porém ele ignora a existência dele, embora se refira em termos bem claros ao Daniel do Cativeiro. [14] A voz do profeta tinha estado silenciosa por séculos; com que impetuoso e apaixonado entusiasmo a nação não teria saudado o aparecimento de um vidente nesse tempo! E quando a questão daquela luta feroz colocou o selo da verdade em suas palavras, sua fama teria ofuscado a dos antigos profetas dos dias anteriores. Mas de fato nem um vestígio sequer de sua fama ou de seu nome sobreviveram. Nenhum autor, sacro ou secular, parece ter ouvido falar dele. Nenhuma tradição dele permaneceu. Já houve uma idéia mais insustentável do que esta?

Nenhuma contemporização assim entre fé e descrença é possível. De ambas as alternativas não há escape. Ou o livro de Daniel é aquilo que afirma ser, ou é totalmente inútil. "Tudo precisa ser verdadeiro ou tudo é uma impostura." É ocioso falar dele como sendo a obra de algum profeta de uma época posterior. A data dele é a dos anos do exílio em Babilônia, ou então é uma fraude literária, fabricada após o tempo de Antíoco Epifânio. Mas como então poderia ele vir a ser citado em Macabeus — citado, não incidentalmente, mas em uma das passagens mais solenes e chocantes de todo o livro, as últimas palavras do velho Matatias? E, como poderia ele vir a ser incluído no cânon? Os críticos falam muito da posição do livro no cânon: como explicam o fato de ele ter sido incluído ali afinal?

É razoavelmente certo que as duas primeiras divisões do cânon foram definidas pela Grande Sinagoga muito antes dos dias dos Macabeus e que essa finalização foi obra do Grande Sinédrio, não após o segundo século antes de Cristo. No entanto, somos solicitados a supor que esse grande colegiado, composto pelos homens mais sábios e eruditos da nação, teria aceitado uma fraude literária de data moderna, ou poderia ter sido enganado por ela. Essa é uma das hipóteses mais loucas e temerárias imaginável. Esse argumento também não seria sensivelmente enfraquecido se os críticos insistissem que o cânon possa ainda ter estado aberto por cem anos após a morte de Antíoco. [15] Se ele foi assim mantido aberto, o fato seria outra prova que o mais ciumento e vigilante cuidado deve ter sido exercido continuamente. A presença do livro de Daniel no cânon judaico é um fator mais forte que toda a crítica dos críticos.

Milhares existem que amam o livro de Daniel, mas mesmo assim temem enfrentar essa crítica destrutiva para que sua fé não ceda sob sua influência. E, ainda assim, isto é tudo que ela tem para apresentar, conforme formulado por um de seus melhores expoentes. De todos esses argumentos hostis não há um que não possa ser refutado a qualquer momento pela descoberta de mais inscrições. Na presença de algum recém-encontrado cilindro das ainda inexploradas ruínas de Babilônia, [16] toda essa teoria sobre improbabilidades e picuinhas sobre palavras podem ser silenciadas em um único dia. Assim sendo, é óbvio para qualquer um em que a faculdade de julgar não esteja em falta que os críticos exageram a importância de suas críticas. Mesmo se tudo o que dizem fosse verdadeiro e relevante, isso deveria nos levar somente a suspender nosso julgamento. Mas os críticos são especialistas e é proverbial que os especialistas são maus juízes. Aqui é possível para alguém que não possa posar como teólogo ou erudito encontrar-se com eles em mais do que termos iguais. Com eles é suficiente que a evidência de certo tipo aponte em uma direção. Mas aqueles em que a faculdade de julgamento está desenvolvida pararão e perguntarão: "O que é dito pelo outro lado?" e "A decisão proposta se harmoniza com todos os fatos?" Questões desse tipo, porém, não existem para os críticos. Se eles alguma vez se apresentaram ao Professor Driver, é lamentável que ele tenha deixado de levá-los em conta quando declarou os resultados gerais de sua investigação. E, se ignorados por um autor tão disposto a chegar à verdade, eles não precisam ser procurados nos escritos dos céticos e dos apóstatas.

Até aqui tenho lidado com suposições, inferências e argumentos. Negar que eles tenham relevância seria desonesto e fútil. Pode ser reconhecido que se o livro de Daniel tivesse sido trazido à luz dentro da era cristã, eles seriam suficientes para barrar sua admissão ao cânon. Mas, para o cristão, o livro é confirmado pelo próprio Senhor Jesus Cristo; e na presença desse único fato, a força dessas críticas é dissipada como a névoa diante do sol. A própria predição à qual os racionalistas mais fazem objeção, Ele citou naquele discurso que é a chave para todas as profecias ainda não cumpridas (Mateus 24); e se fosse provado que Daniel é uma fraude, aquele que temos como Senhor ficaria desacreditado.

Um argumento como esse os racionalistas da Escola Alemã desprezam. Para eles, a menção de Daniel no livro de Ezequiel não conta nada, embora, de acordo com seus próprios cânons, ela deveria pesar mais que a evidência negativa que eles citam. Daniel não é mencionado pelos outros profetas; portanto, eles argumentam, Daniel é um mito. Três vezes as profecias de Ezequiel falam dele; portanto, eles inferem, algum outro Daniel está em vista. O argumento deles é baseado no silêncio dos livros sacros e seculares dos judeus. Um homem tão eminente quanto o Daniel do exílio não teria, eles dizem, sido assim ignorado. Apesar disso, eles conjeturam a carreira de outro Daniel de eminência igual, ou até maior, cuja existência foi esquecida! Não é fácil lidar com esse tipo de casuísmo. Mas há um argumento, pelo menos, que eles não podem roubar de nós.

Eles se livraram do segundo e do sétimo capítulos, e a visão de fechamento do livro, mas a grande profecia central das Setenta Semanas permanece; e isso permite prova da autoridade divina do livro de Daniel, que não pode ser destruída. Que eles fixem a data do livro onde quiserem, eles deixam de explicar isso. A partir de um evento histórico definitivamente registrado — o edito para a reconstrução de Jerusalém, para outro evento histórico definitivamente registrado — a manifestação pública do Messias, o comprimento do período intermediário foi predito; e com uma precisão absoluta até ao próprio dia em que a predição foi cumprida.

Este livro foi escrito para elucidar essa profecia e o resultado constitui minha contribuição pessoal à controvérsia, possa eu ser perdoado por explicar os passos pelos quais ela foi alcançada. A visão refere-se às setenta semanas de anos, mas tratarei aqui somente com as sessenta e nove "semanas" do verso 25. Aqui estão as palavras:

"Sabe e entende: desde a saída da ordem para restaurar, e para edificar a Jerusalém, até ao Messias, o Príncipe, haverá sete semanas, e sessenta e duas semanas; as ruas e o muro se reedificarão, mas em tempos angustiosos." [17]

Agora, é um fato inquestionável que Jerusalém foi reconstruída por Neemias com a permissão de um edito emitido por Artaxerxes (Longimano), no ano vigésimo do seu reinado. Portanto, apesar das dúvidas que a controvérsia lança sobre tudo, a conclusão é óbvia e irresistível que esse foi o início do período profético. Mas a data do mês era nisã e o ano sagrado dos judeus começava com as fases da lua pascal. Apelei, portanto, para o Astrônomo Real, o falecido Sir George Airy, para calcular para mim a posição da lua em março no ano em questão, e assim me certifiquei da data requerida — 14 de março de 445 AC.

Isto posto, uma única questão permanecia. De qual tipo de ano a era consiste? A resposta a isso é definitiva e clara. Que é o antigo ano de 360 dias é claramente provado de duas formas. Primeiro, por que, de acordo com Daniel e Apocalipse, três anos e meio proféticos são iguais a 1.260 dias; e, segundo, por que pode ser provado que os setenta anos das "Desolações" foram desse caráter; e a conexão entre o período das "Desolações" e a era das "semanas" é um dos poucos fatos universalmente admitidos nessa controvérsia. As "Desolações" começaram em 10 de tebete de 589 AC (um dia que por vinte e quatro séculos tem sido lembrado pelos judeus com um jejum), e terminaram no dia 24 de quisleu, de 520 AC.

Tendo assim definido o ponto inicial de origem das "semanas" e a forma do ano em que elas são compostas, nada resta senão calcular a duração da era. Seu ponto final pode assim com certeza ser determinado. Agora, 483 anos (69x7) de 360 dias contêm 173.880 dias. E um período de 173.880 dias, começando em 14 de março de 445 AC terminou naquele domingo na semana da crucificação, quando, pela primeira e única vez em Seu ministério, o Senhor Jesus Cristo, em cumprimento à profecia de Zacarias, entrou publicamente em Jerusalém e fez seu título de Messias ser proclamado abertamente por "toda a multidão de discípulos" [Lucas 19].

Não preciso discutir mais essa questão aqui. Nos capítulos seguintes todas as questões incidentais envolvidas estão totalmente tratadas e toda objeção respondida. [18] É suficiente repetir que na presença de fatos e números assim detalhados nenhuma mera negação da crença é possível. Essas precisam ser explicadas de algum outro modo. "Há um ponto além do qual a descrença é impossível e a mente, ao recusar a verdade, precisa refugiar-se em uma crença errônea que é pura credulidade."


Não foi até após as páginas precedentes estarem impressas que Daniel, escrito pelo arquidiácono Farrar, chegou às minhas mãos. Algumas desculpas são devidas, talvez, ao Professor Driver por incluir essa obra junto com a sua, mas o The Expositor's Bible será lido por muitos para quem The Introduction é um livro desconhecido. Ambos os autores concordam em impugnar a autenticidade do livro de Daniel; mas as posições relativas deles são amplamente diferentes, e não menos diferentes são seus argumentos e métodos. O erudito cristão escreve para eruditos, desejoso apenas de elucidar a verdade. O teólogo popular repete as extravagâncias do ceticismo alemão para o esclarecimento de um público mais facilmente iludível. À medida que nos voltamos de um livro para outro, somos lembrados da diferença entre o julgamento de um criminoso quando a cargo de um oficial da justiça responsável da Coroa, e quando promovido por um promotor privado vingativo. Em um caso o objetivo do advogado é unicamente ajudar a corte a chegar a um justo veredito, no outro, devemos estar preparados para ouvir afirmações temerárias e talvez até inescrupulosas.

Aqui, precisamos distinguir entre a Alta Crítica, conforme legitimamente usada pelos eruditos cristãos no interesse da verdade, e o movimento racionalista, que leva esse nome. Se esse movimento leva à descrença, é em obediência à lei que filhote de peixe peixinho é. Ela é em si mesma filha do ceticismo. Seu suposto fundador partiu com o plano deliberado de eliminar Deus da Bíblia. A partir do ponto de vista dos céticos, as teorias de Eichhorn eram inadequadas, e De Wette e outros as melhoraram. Mas o intento e o objetivo são os mesmos. A Bíblia precisa ser explicada, e o cristianismo também, com base nos princípios naturais. Os milagres, portanto, tinham de ser desconsiderados, e profecia é o maior milagre de todos. No caso da maioria das Escrituras Messiânicas, o ceticismo que ela definiu como uma neblina noturna sobre a Alemanha tornou a tarefa bem fácil; mas Daniel era uma dificuldade. Passagens como o capítulo 53 de Isaías poderiam ser colocadas de lado, mas o infiel não pode fazer nada com as visões de Daniel. O livro se destaca como uma testemunha para Deus, e por meios justos ou desonrosos ele precisa ser silenciado. E um método somente de realizar isso é possível. Os conspiradores organizaram-se para provar que ele foi escrito após os eventos que ele se propõe a predizer. A evidência que eles conseguiram ajuntar é a de um tipo que não serviria para condenar um ladrão conhecido por um pequeno furto — a maior parte dela na verdade já foi descartada; mas qualquer tipo de evidência será suficiente em um tribunal enviesado, e desde o início o livro de Daniel estava condenado.

O livro do Dr. Farrar reproduz cada pedacinho dessa evidência em sua forma mais sem disfarce e crua. Duas contribuições originais para a controvérsia são limitadas à retórica que esconde a fraqueza dos argumentos falaciosos e o dogmatismo com que ele algumas vezes rejeita os resultados confirmados pelo julgamento de autoridades da mais alta eminência. Dois exemplos típicos serão suficientes. O primeiro relaciona-se à questão da pura erudição. Referindo-se ao quinto capítulo de Daniel, ele escreve:

"Aqueles que tentam vindicar a exatidão do autor... pensam que melhoram o caso frisando que Daniel foi feito "o terceiro governante no reino' — Nabonido sendo o primeiro, e Belsazar o segundo! Infelizmente para a precária hipótese deles, a tradução 'terceiro governante' parece ser totalmente indefensável. Ela significa 'uma junta de três'.

"Totalmente indefensável!" Em vista da decisão da Companhia de Revisores do Antigo Testamento sobre esse ponto, a frase indica extraordinária falta de atenção ou intolerável arrogância. E tenho autoridade para dizer que os revisores deram à questão total consideração, e que foi somente na última revisão que a tradução alternativa "governar como um dos três" foi admitida na margem. Em nenhuma ocasião foi contemplado aceitá-la no texto. [19]

A tradução correta do Cap. 5:29 é admitidamente "o terceiro no governo" do reino; mas as autoridades diferem quanto aos versos 7 e 16. O Professor Driver me diz que, em sua opinião, a tradução absolutamente literal é "governar como a terceira parte no reino", ou parafraseando ligeiramente as palavras, "governar como um dos três" (como na margem da R. V.). O Professor Kirkpatrick, de Cambridge, me indicou o Kautzsch´s Die Heilige schrift des alten Testaments, representante da mais recente e melhor erudição alemã, e sua tradução do verso 8 é "terceiro governante no reino", com a nota, "isto é, ou um dos três sobre todo o reino (compare 6:3), ou como o terceiro, ao lado do rei e da mãe do rei." E o grão-rabino (cuja cortesia comigo aqui desejo agradecer) escreve:

"Não posso absolutamente encontrar falta com a tradução das palavras 'a terceira parte do reino, 'pois ele segue aqui dois dos nossos comentaristas hebreus de grande reputação, Rashi e Ibn Ezra. Por outro lado, outros de nossos comentaristas, como Saadia, Jachja, etc., traduzem a passagem como 'ele será o terceiro governante no reino.' Essa tradução parece estar mais rigidamente de acordo com o significado literal das palavras, conforme mostrado pelo Dr. Winer em sua Grammatik des Chaldaismus. Ela também recebe confirmação da notável descoberta de Sir Henry Rawlinson, segundo a qual Belsazar era o filho mais velho do rei Nabonido, e associado com ele no governo, de modo que a próxima pessoa em honra seria o terceiro."

É perfeitamente claro, portanto, que a afirmação do Dr. Farrar é injustificável. Ela deve ser atribuída à falta de conhecimento, ou a falta de isenção?

Novamente, referenciando a terceira visão do profeta, o arcediago Farrar escreve:

"A tentativa de referenciar à profecia das setenta semanas principal ou diretamente à vinda e morte de Cristo... somente pode ser suportada por imensas manipulações, e por hipóteses tão grosseiramente impossíveis que tornariam a profecia praticamente sem sentido tanto para Daniel quanto para qualquer leitor subseqüente." (pág. 287).

Não é fácil lidar com esse tipo de afirmação com o respeito convencional. Nenhum homem honesto pode negar que, se o Capítulo 9 de Daniel é uma profecia ou uma fraude, as bênçãos especificadas no verso 24 são messiânicas. Aqui, todos os expositores cristãos concordam. E, embora as visões de alguns deles sejam marcadas por surpreendentes excentricidades, até o mais selvagem deles contrastará favoravelmente com a exegese de Kuenen, que, em todo seu rude absurdo, o arcediago Farrar adota. [20]

As opiniões do Professor Driver merecem o mais alto peso dentro da esfera em que ele é uma alta autoridade. [21] Mas tenho me aventurado a sugerir que sua eminência, como um acadêmico empresta peso indevido aos seus ditos nos tópicos gerais envolvidos, e que compartilha na proverbial incapacidade dos especialistas de lidarem com uma massa de evidências aparentemente conflitantes. O tom e a maneira como sua investigação é conduzida mostra uma prontidão para reconsiderar sua posição na luz de quaisquer novas descobertas futuras. Em contraste com isso não há reservas nas denúncias do Dr. Farrar. Para ele se retratar é impossível, não importa o que o futuro possa revelar. Mas revisar o livro dele não é meu objetivo. Os únicos pontos sérios na acusação a Daniel já foram observados. O tratado dele, entretanto, gera uma questão geral de importância transcendente, e é a isso que em conclusão desejo me referir.

Para ele, o livro de Daniel é uma mera ficção, diferindo de outra ficção do mesmo tipo em razão de suas múltiplas imprecisões e erros. Sua história é uma lenda tola. Seus milagres são fábulas sem fundamento. Ele é, em cada uma de suas partes, a obra da imaginação. "Ficção confessada" (pág. 43), ele o chama, por que é um romance tão óbvio que a acusação de fraude é devida unicamente à estupidez da igreja cristã em se equivocar com relação ao objetivo e propósito do "santo e talentoso judeu" (pág. 119) que o escreveu.

Esses são os resultados de suas críticas. Que ação tomaremos com relação a elas? Com tristeza, mas com deliberado propósito, não rasgaremos o livro de Daniel de seu lugar no cânon sagrado? De modo algum!

"Esses resultados", o Dr. Farrar exclama, "não são de modo algum depreciativos à preciosidade deste Apocalipse do Antigo Testamento. Nenhuma palavra minha pode exagerar o valor que associo a essa parte das nossas Escrituras Canônicas... Seu lugar de direito no cânon é indisputável e dificilmente há um único livro do Velho Testamento que possa ser feito mais ricamente lucrativo para "ensinar, para redargüir, para corrigir, para instruir em justiça para que o homem de Deus seja perfeito, e perfeitamente instruído para toda a boa obra." (pág. 4).

Essa não é uma afirmação isolada que a caridade poderia atribuir à falta de pensar. Como as palavras são usadas repetidamente em louvor ao livro [22] Daniel não é nada mais que uma novela religiosa e, apesar disso, "dificilmente há um único livro do Velho Testamento" de maior valor!

A questão aqui não é a autenticidade de Daniel, mas o caráter e valor das Escrituras Sagradas. Os eruditos cristãos cujas pesquisas os levaram a rejeitar qualquer porção do cânon estão acostumados a dizer que, ao fazerem isso, aumentam a autoridade, e expandem o valor, do resto. Mas o arcediago de Westminster, ao impugnar o livro de Daniel, toma a oportunidade para degradar e lançar desprezo sobre a Bíblia como um todo.

O bispo Wescott declara que nenhum escrito no Velho Testamento teve uma participação tão grande do desenvolvimento do cristianismo quanto o livro de Daniel. [23] Ou, para citar uma testemunha hostil, o Professor Bevan escreve:

"No Novo Testamento, Daniel é mencionado somente uma vez, mas a influência do livro é aparente quase em toda a parte." [24] "Existem alguns poucos livros, diz Hengstenberg, "cuja autoridade divina é tão completamente estabelecida pelo testemunho do Novo Testamento e, em particular pelo nosso próprio Senhor, como o livro de Daniel."

Exatamente com a névoa e a tempestade podem ocultar a rocha sólida da vista, assim essa verdade pode ser obscurecida pelo casuísmo e retórica; mas quando esses se dissipam ela fica clara e simples. Em toda essa controvérsia um resultado da rejeição do livro de Daniel é totalmente negligenciado ou deliberadamente escondido. Se "o Apocalipse do Velho Testamento" for banido do cânon, o Apocalipse do Novo Testamento precisa compartilhar de sua exclusão. As visões de João estão tão inseparavelmente interligadas com as visões do grande profeta do exílio, que elas permanecem ou caem juntas. Esse resultado a crítica tem o direito de desprezar. Mas o pregador não pode de modo algum ignorá-lo. E isso traz à proeminência o fato, tão habitualmente esquecido, que a Alta Crítica reivindica uma posição que não pode de modo algum lhe ser concedida. Seu verdadeiro lugar não é na cadeira de julgamento, mas no banco das testemunhas. O teólogo cristão precisa levar em conta o muito que a crítica não pode observar sem abandonar inteiramente sua legítima esfera e função.

Ninguém cede a essa posição mais livremente quando isso se ajusta aos seus propósitos do que o arcediago Farrar. Ele evita o testemunho do capítulo 24 de Mateus recusando-se a acreditar que nosso Senhor alguma vez falou as palavras atribuídas a ele. Mas isso solapa o cristianismo; porque, repito, o cristianismo depende da encarnação e, se os evangelhos não são inspirados, a encarnação é um mito. Qual é a resposta para isso? Cito aqui as palavras dele:

"Mas nossa crença na encarnação e nos milagres de Cristo, repousa em evidências que, após repetidos exames, são para nós massacrantes. Além de todas as questões de verificação pessoal, ou do testemunho interior do Espírito, podemos mostrar que essas evidências são suportadas, não somente pelos registros existentes, mas por miríades de testemunhos externos e independentes."

Isso merece a atenção mais atenta, não simplesmente por causa de sua influência na questão em discussão, mas como uma amostra do raciocínio do autor nessa extraordinária contribuição para nossa literatura teológica. Aqui está o argumento cristão:

"O Nazareno foi admitidamente o filho de Maria. Os judeus declararam que Ele era o filho de José; o cristão O adora como o Filho de Deus. Dizia-se que o fundador de Roma era uma criança gerada divinamente de uma virgem vestal. E, nos antigos mistérios babilônios, uma paternidade similar era atribuída ao filho martirizado de Semíramis, a proclamada Rainha dos Céus. Que base temos então para distingüir o nascimento milagroso em Belém dessas e de outras lendas similares do mundo antigo? O ponto para a ressurreição é uma transparente evasão da questão. Apelar para o testemunho humano é profunda tolice. Neste ponto estamos cara a cara com aquilo para o qual nenhum consenso de mero testemunho humano poderia emprestar até uma probabilidade a priori." [25]

Sobre o que, então, baseamos nossa crença do grande fato central do sistema cristão? Aqui o dilema é inexorável: para depreciar os evangelhos, como esse autor faz, é admitir que o fundamento da nossa fé seja apenas uma lenda galiléia. De modo algum, o Dr. Farrar nos diz; temos não somente "verificação pessoal, e o Testemunho Interior do Espírito, mas temos também miríades de outras testemunhas externas e independentes.". Nenhum cristão ignorará o testemunho do Espírito. Mas a questão aqui, lembre-se, é uma questão de fato. Todo o sistema cristão depende da verdade do último verso do primeiro capítulo de Mateus — não vou citá-lo aqui. Como então pode o Espírito Santo me conceder o conhecimento do fato ali afirmado, senão pela Palavra escrita? Acredito no fato por que aceito o registro da Escritura proveniente da boca de Deus, uma revelação autorizada dos céus. Mas falar de verificação pessoal, ou apelar para algum instinto transcendental, ou a dez milhares de testemunhas externas, é divorciar as palavras dos pensamentos e passar para fora da esfera da afirmação inteligente e do bom senso. [26].

- R. A.

Notas de Rodapé do Prefácio da Quinta Edição

[1] An Introduction to the Literature of the Old Testament, S. R. Driver, D. D., Régio Professor de Hebraico e Cônego do Colégio Christ Church, da Universidade de Oxford, Terceira edição. (T & T Clark, 1892) Desejo aqui reconhecer a cortesia do Professor Driver em responder às várias consultas que me aventurei a lhe dirigir.

[2] De acordo com o plano da obra, Capítulo 11 inicia com uma sinopse do conteúdo de Daniel, junto com notas exegéticas. Com essas notas, não estou preocupado, embora elas pareçam destinadas a preparar o leitor para o que vem em seguida. Eu as dispenso com dois comentários. Primeiro, em suas críticas sobre o Cap. 9:24-27, ele ignora o esquema de interpretação que segui, embora ele seja adotado por alguns autores de maior eminência do que vários citados por ele, e os quatro pontos que enumera contra a "comumente compreendida" interpretação messiânica são amplamente tratados nestas páginas. Segundo, os comentários dele sobre o Capítulo 11, que "dificilmente pode ser legítimo, em uma descrição contínua, sem aparente mudança de assunto, referencia parte para o tipo e parte para o antítipo", dispõe com extraordinária credulidade de um cônego da interpretação profética aceita quase universalmente dos dias dos Pais pós-apostólicos até a hora presente!

[3] The Higher Criticism and the Verdicts of the Monuments, do Rev. A. H. Sayce.

[4] Página 479, nota. Mas o apelo do autor no item (f) para "todas as outras autoridades" dificilmente é justa, pois Daniel é o único historiador contemporâneo, e a exploração das ruínas de Babilônia ainda está para ser concluída. Com relação ao item (h) pouco precisa ser dito. O Professor Driver candidamente reconhece que "existem boas razões para supor que a licantropia de Nabucodonosor está baseada em um fato." Nenhum estudante da natureza humana encontrará algo estranho na ação registrada desses reis pagãos quando confrontados com provas da presença e do poder de Deus. Vemos sua contraparte todos os dias na conduta dos homens ímpios quando os eventos que eles consideram como julgamentos divinos caem sobre suas cabeças. Além disso, ninguém acostumado a lidar com evidências aceitaria a sugestão que a história de Daniel se tornar um "caldeu" seria inventada por um judeu treinado sob o ritual rígido dos dias pós-exílio. A sugestão que Daniel teria sua admissão recusada no colégio dos sábios diante da ordem do grande rei para que ele fosse admitido realmente não merece resposta.

[5] Como os Salmos vinham antes no Kethuvim, deram seu nome ao todo; como exemplo, quando nosso Senhor falou da "Lei de Moisés, e nos Profetas e nos Salmos" (Lucas 24:44), ele queria dizer todas as Escrituras.

[6] Against Apio, 1.8

[7] Essa seção do Eclesiástico inicia com o Cap. 44, mas a passagem aqui em questão é Cap. 49:6-16.

[8] Possivelmente o crítico quer questionar se Jerusalém foi realmente capturada, isto é, invadida, nesta ocasião. Admito que assumi isso nestas páginas. Mas as Escrituras em nenhuma parte dizem isso. Levando tudo em conta, podemos apenas ser forçados a dizer que Nabucodonosor veio contra Jerusalém e a sitiou, e que, de algum modo, Jeoiaquim caiu em suas mãos e foi colocado em grilhões para ser transportado para Babilônia, porém que Nabucodonosor mudou de idéia e o deixou como um rei vassalo na Judéia. Ele pode ter saído e ido até o rei caldeu, como seu filho e sucessor também fez (2 Reis 24:12); e é muito provável que a ação de Joaquim nesse aspecto foi sugerida pela leniência mostrada por Nabucodonosor em relação a seu pai.

[9] As palavras "como hoje se vê", no verso 18, parecem ser uma alusão à completa subjugação da Judéia. De acordo com o verso 19, o Egito foi o próximo a cair diante de Nabucodonosor, e o capítulo 42:2 registra a vitória de Nabucodonosor sobre o exército egípcio neste mesmo ano.

[10] A sugestão do Professor Bevan neste ponto é, em minha opinião, indefensável. Mas eu me refiro a ela para mostrar como um expoente avançado da Alta Crítica pode se desfazer de (g). Commentary on Daniel, pág. 146. Não tenho nenhuma dúvida que se Levítico estivesse antes de Daniel, como bem poderia estar, era a lei dos anos sabáticos que ele tinha em vista e não 26:18, etc.

[11] Falo de duas palavras gregas somente, pois kitharos é praticamente abandonada. O Dr. Pusey nega que essas palavras sejam de origem grega (Daniel, págs. 27-30). O Dr. Driver diz que no quinto século AC, "as artes e invenções da vida civilizada fluíram então do oriente para a Grécia, e não da Grécia para o oriente." Mas certamente a figura que ele usa aqui distorce seu julgamento. As influências da civilização não "fluem" no sentido em que a água corre. Há e sempre precisa haver uma troca; e as artes e invenções levadas de um país para o outro carregam seus nomes consigo. Estou compelido a passar por essas questões filológicas assim rapidamente, mas o leitor as encontrará discutidas por Pusey e outros. O Dr. Pusey comenta, "As palavras aramaicas, bem como as arianas se ajustam à sua idade real" e "o hebreu dele é exatamente o que alguém esperaria da época em que ele viveu." (pág. 578).

[12] Higher Criticism and the Monuments, págs. 424 e 494.

[13] Sobre o assunto, veja o artigo do bispo de Durham no Smith Bible Dictionary.

[14] 1 Macabeus 2:60; veja também o cap. 1:54. O Primeiro Livro dos Macabeus é uma história da mais alta reputação, e sua exatidão é universalmente reconhecida.

[15] O Sinédrio, embora disperso durante a revolta dos Macabeus, foi reconstituído quando ela terminou. Veja os artigos do Dr. Ginsburg "Sanhedrin" e "Synagogue" na Ciclopaedia de Kitto.

[16] As ruínas de Borsippa estão praticamente inexploradas, e considerando-se o caráter das inscrições encontradas em outros sítios caldeus, podemos esperar obter daqui para frente registros completos do governo da capital.

[17] Sigo a leitura marginal da R. V., que foi a leitura adotada pela Companhia Americana.

[18] Veja os caps. 5-10.

[19] Como aceitei isso como uma questão de teste, eu a tenho investigado de perto.

[20] O capítulo dele sobre as Setenta Semanas provoca esta exclamação: É a isso que a teologia inglesa chegou! Não faço alusão a besteiras vulgares como chamar Gabriel de "arcanjo" (pág. 275), ou confundir a era da Servidão com a das Desolações (pág. 289), mas ao estilo e ao espírito da digressão como um todo. Em "imensa manipulação" e "hipóteses grosseiras impossíveis" nenhum tratado inglês recente pode se comparar com ele.

[21] Faço alusão à tentativa dele de fixar uma data do livro pelo caráter do seu hebraico e aramaico. Isso, além do mais, é um ponto em que os eruditos diferem. Já citei a opinião do Dr. Pusey. O Professor Cheyne diz: "A partir do hebraico do livro de Daniel nenhuma inferência importante com relação à sua data pode ser seguramente definida." (Encyc. Brit., "Daniel", pág. 804); e uma das maiores autoridades na Inglaterra, que tem sido citada a favor de fixar uma data posterior para Daniel, escreve, em resposta a uma consulta que lhe encaminhei: "Sou agora da opinião que é uma tarefa muito difícil definir a época de qualquer porção desse livro com base em sua linguagem. Não acho, portanto, que meu nome deva continuar sendo citado nessa disputa.".

[22] Veja ex. gr. págs. 36, 37, 90, 118, 125.

[23] Smith's Bible Dictionary, "Daniel".

[24] Com. Daniel, pág. 15.

[25] A Doubter's Doubts, pág. 76.

[26] O Professor Driver tem desde então chamado minha atenção para uma nota nos "Adendos" da terceira edição de sua Introdução, qualificando suas admissões em relação a Belsazar. Ele também me informou que o Professor Sayce é a "mais alta autoridade em assiriologia" ali referenciada. Isso nos permite descontar sua retratação. Ao escrever sobre (e) no prefácio acima, tive diante de mim as páginas 524-9 do Higher Criticism and the Monuments, e fiquei impressionado pela força das objeções ali apresentadas contra a história de Daniel e Belsazar. Grande foi minha mudança repentina de sentimentos quando descobri que o argumento do Professor Sayce depende de sua leitura imperfeita da tábua dos Anais de Ciro. Essa tábua admitidamente refere-se a Belsazar como "o filho do rei"; mas quando registra a morte dele na captura de Babilônia, o Professor Sayce lê "esposa do rei" em vez de "filho do rei" e prossegue argumentando que, como Belsazar não é mencionado na passagem, não poderia estar em Babilônia naquele tempo! Que as "tábuas de contrato" sejam datadas com referência ao reinado do rei, e não do regente, é precisamente o que devemos esperar.

Tratei completamente a questão de Belsazar em meu livro Daniel in the Critics' Den, ao qual peço que o leitor referencie para ter uma resposta mais completa para o livro do Dr. Farrar. Tendo considerado o testemunho da tábua dos anais, essa questão pode ser vista como resolvida. E se, ao escrever aquela obra, eu tivesse diante de mim aquilo que o Rev. J. Urquhart traz à luz sobre Dario, o medo, em seu Inspiration and Accuracy of Holy Scripture, eu deveria ter considerado que essa, a única dificuldade restante na controvérsia sobre Daniel, não é mais uma questão séria.

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Data da publicação: 23/2/2005
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