O Aparecimento dos Tecnodeuses

Parte 2 — Manifestações Atuais da Religião Mais Influente do Mundo Ocidental: a Tecnocracia

Autor: Martin Erdmann, Forcing Change, Volume 4, Edição 10.

Leia primeiro a Parte 1: A Fusão do Transumanismo com a Espiritualidade


Nota do Editor da Forcing Change: Martin Erdmann é um teólogo baseado na Suíça; ele é autor de Building The Kingdom of God on Earth: The Churches’ Contribution to Marshal Public Support for World Order and Peace, 1919-1945 (Wipf and Stock Publishers, 2005). Sou pessoalmente devedor a Martin por seu trabalho sobre a tecnocracia.

Este artigo faz uma ponte entre o Transumanismo, a Tecnocracia, a ficção científica e a criação dos cultos científicos; ele é uma contribuição importante para a compreensão do desenvolvimento e do papel da tecno-espiritualidade.


Pessoas interligando seus cérebros para formar uma inteligência global coletiva. O ser humano vivendo bem mais de cem anos. Computadores transferindo aspectos de nossas personalidades para uma rede. Estes cenários, e muitos outros, poderão todos se tornar realidade neste século com os investimentos apropriados em tecnologia, de acordo com um relatório publicado pela Fundação Nacional de Ciências e pelo Departamento de Comércio do governo dos EUA.

Intitulado "Tecnologias Convergentes para Aumentar o Desempenho Humano: Nanotecnologia, Biotecnologia, Tecnologia da Informação e Ciência Cognitiva", esse relatório de 405 páginas poderá um dia ser lembrado como um inovador mapa da estrada para o futuro. Ele propõe um maior investimento em pesquisa na interseção desses campos. O retorno, afirmam os autores, não é apenas corpos mais saudáveis ou mentes mais eficazes. O progresso nessas áreas da tecnologia também poderá ter um papel-chave para ajudar a prevenir uma catástrofe social. A resposta para a brutalidade humana e para as novas formas de armas letais, eles sugerem, é um tipo de unidade produzida pela tecnologia. A convergência tecnológica poderá se tornar a estrutura para a convergência humana."

Esse relatório das "Tecnologias Convergentes" deriva de uma oficina realizada em Washington DC, no fim de 2001, envolvendo cientistas e líderes de tecnologias no governo, na academia e das empresas privadas. Os principais temas no seminário iam da expansão das capacidades cognitiva e de comunicação humanas até a melhoria da saúde e o fortalecimento da segurança nacional.

O relatório final, editado por Mihail Roco, assessor sênior sobre nanotecnologia na Fundação Nacional das Ciências, e por William Sims Bainbridge, diretor em exercício da Divisão de Informações e Sistemas Inteligentes da Fundação, inclui trabalhos apresentados por vários participantes, bem como uma visão geral elaborada por Roco e Bainbridge. Na visão geral, os editores argumentam que diversos avanços podem ser alcançados nos próximos vinte anos somente. Entre esses avanços estão: sensores que podem ser usados no corpo para enviar alertas sobre a saúde, robôs muito mais úteis, redes de dados invulneráveis e interfaces de banda larga diretas entre nossa mente e as máquinas.

O relatório pensa grande em suas previsões para o mundo nas próximas duas décadas e até o restante do século 21. Tomando visionários como Ray Kurzweil, ele imagina robôs tão avançados que até merecem receber direitos políticos, superfícies de edifícios que mudam automaticamente de forma e de cor para se ajustar ao clima e a possibilidade de transferir a personalidade de um indivíduo e armazená-la em um computador, o que faz a própria morte parecer ambígua.

A fusão da consciência humana com as máquinas está vinculada com outro conceito praticamente incrível: as conexões cérebro-cérebro. O relatório discute a possibilidade de "grupos locais de indivíduos avançados vinculados", bem como "uma inteligência global coletiva". Em seu artigo intitulado "Relatório Prevê o Admirável Mundo Novo". [1]. Nathan Cochrane explica como esse plano das tecnologias convergentes seria útil na unificação da consciência das massas:

"As pessoas poderão transferir suas consciências para os computadores ou para outros organismos, até mesmo no outro lado do sistema solar, ou participar de uma gigantesca 'mente de colmeia', uma rede de inteligências conectadas por meio de comunicações ultra-rápidas. 'Com o conhecimento não mais encapsulado nos indivíduos, a distinção entre os indivíduos e toda a humanidade ficaria ofuscada', diz o relatório. 'Pense na telepatia mental dos vulcanos, como mostrado na série Jornada nas Estrelas.' Talvez nos tornemos mais como uma mente de colmeia — uma única e enorme entidade inteligente'." [2].

Logicamente, os preparativos precisam ser feitos para a aclimatação confortável da humanidade a essa nova "mente de colmeia". Como Cochrane nos faz lembrar:

"O relatório diz que as capacidades estão ao nosso alcance, mas requererão um intenso esforço de relações públicas para 'preparar organizações-chave e atividades sociais para as mudanças que se tornarão possíveis pelas tecnologias convergentes' e para responder às preocupações com as questões 'éticas, jurídicas e morais'. A educação deveria ser totalmente remodelada, desde o nível da escola primária, para fazer a ponte no currículo entre os vãos das áreas de assuntos díspares." [3].

Roco e Bainbridge sugerem também que criar essa sociedade em rede poderia ter um papel vital na superação das crises sociais e políticas. "O século 21 poderá terminar em paz mundial, em prosperidade universal e na evolução para um nível mais elevado de compaixão e de realizações", eles escrevem no fim do primeiro capítulo do relatório, concluindo-o com um cenário imaginário daquilo que gostariam de ver realizado no prazo de cem anos.

"É difícil encontrar a metáfora correta para ver um século no futuro, mas pode ser que a humanidade se torne como um único sistema nervoso transcendente, um 'cérebro' interconectado com base em novas vias centrais de comunicação na sociedade."

Religiões para uma Civilização Galáctica

Em seu artigo "Religiões para uma Civilização Galáctica", o sociólogo William Sims Bainbridge incentiva a criação da novas comunidades religiosas nos EUA, que adotem algum tipo de mitologia de óvnis. Ele imagina que esses novos cultos serão úteis em estabelecer uma teocracia, com base na premissa da fé tecnológica em "progresso". O aspecto atraente da ufologia, uma vez que ela tiver sido transformada na nova religião cívica da América é, de acordo com Bainbridge, sua vantagem social e política de enfatizar o desenvolvimento tecnológico irrestrito. Comentando sobre a suposta centralidade dessa fé científica no progresso, o autor diz:

"A religião continuará a influenciar o curso do progresso e a criação de uma civilização galáctica pode depender do aparecimento de uma religião galáctica capaz de motivar a sociedade durante os séculos necessários para realizar esse grande projeto." [4].

Os cultos cientísticos são os provedores dessa nova consciência religiosa. Eles estão contribuindo com um elemento religioso essencial para a criação de um novo tecnato. Na verdade, Bainbridge sugere que as ciências sociais ampliem os esforços dos cultos cientísticos na formação dessa nova ordem teocrática:

"A monumental Encyclopedia of American Religions (Enciclopédia das Religiões Americanas), de J. Gordon Melton reporta as histórias e doutrinas de treze cultos de discos voadores: Era do Marco, Irmandade dos Sete Raios, Comunhão da Luz Estrelar, Fundação Universarium, Ministério da Sabedoria Universal, Estrela Branca, Compreensão Incorporada, Sociedade Etérea, Centro da Luz Solar, Unário, Templo da Estrela Cósmica, Círculo da Amizade Cósmica e Mensageiros dos Últimos Dias. Esses grupos misturam várias noções sobrenaturais de muitas outras tradições, mas um fio comum é a ideia que a Terra é apenas uma pequena parte de uma vasta galáxia desabitada. Alguns desses cultos, como a Sociedade Etérea, afirmam que nosso planeta é um peão em uma guerra inter-estrelar invisível e, se esse culto se tornar influente, nossa sociedade poderá investir na criação de defesas cósmicas que incidentalmente tornarão os planetas em bastiões."

"Outros acham que precisamos nos aperfeiçoar para que nos qualifiquemos como membros da Federação Galáctica das espécies esclarecidas e, se essa seita se tornar influente, nossa sociedade poderá investir muito na tentativa de contactar o governo galáctico. Esses cultos de discos voadores são todos pouco significativos, mas uma seita desse tipo poderá crescer em proeminência em alguma década no futuro. Precisamos de várias religiões espaciais atraentes e realmente agressivas, que atendam às necessidades emocionais de diferentes segmentos da nossa população, tirando as religiões tradicionais e os cultos retrógrados do campo." [5].

Bainbridge realizou um estudo etnográfico de cinco anos da Igreja do Processo. Seu estudo científico foi mais tarde publicado sob o título Satan’s Power. A Deviant Psychotherapy Cult (O Poder de Satanás: Um Culto de Psicoterapia Desviante). [6].

A Igreja do Processo se originou como um serviço de terapia chamado "Análise das Compulsões", após ter se separado da Cientologia. Ela objetivava a expansão do autoconhecimento para o que Bainbridge enfatiza eram indivíduos normais e inteligentes, desejosos de se moverem além do que sua sociedade de classe média educada oferecia, ou tolerava. O autor acredita que o sistema terapêutico particular deles patrocinava relações especialmente intensas entre os indivíduos, levando a uma "implosão social", ao fazer o grupo se fechar em si mesmo e se distanciar da sociedade maior.

Essa profunda intimidade estimulou os sentimentos místicos [7], armando assim o cenário para a transformação global do imaturo grupo de psicoterapia em uma seita satânica plenamente desenvolvida. À medida que a seita cresceu, ela se tornou hierarquicamente estruturada e os níveis intermediário e inferior não tinham permissão de "inventar seus próprios costumes sociais, experimentando esquemas alternativos em busca da mais alta gratificação pessoal".

"Somente os líderes tinham permissão para essas liberdades. A seita existia para o benefício de seus fundadores e, portanto, o sistema social funcionava para canalizar riqueza, poder e prazer em direção a eles." [8].

Durante o exame da Igreja do Processo, Bainbridge desenvolveu uma forte afinidade pela tendência dos cultistas de reconceitualizarem os papeis de Deus e de Satanás. Quanto a Satanás, ela é somente uma em um panteão de quatro deidades que inclui Lúcifer (deus masculino do ar), Jeová (deus feminino da terra), Cristo (deus masculino da água) e Satanás (deusa feminina do fogo). Este caso de revisionismo bíblico inspirou Bainbridge, que refestela-se em ser um grande instrutor de ensinos satânicos e um orgulhoso possuidor de uma imensa coleção de parafernália satânica. Desde então, ele encorajou os sociólogos a tomarem uma parte ativa na reconceitualização dos conceitos religiosos tradicionais. É esperança dele que essa experimentação religiosa eventualmente resultará na criação da "Igreja do Deus Galáctico".

Em New Religions, Science and Secularization ("Novas Religiões, Ciência e Secularização"), Bainbridge apresenta a seguinte recomendação:

"É tempo de se mover além da mera observação dos cultos cientísticos e usar o conhecimento que obtivemos das estratégicas de recrutamento, inovação cultural, e necessidades sociais para criar religiões melhores do que as que mundo possui atualmente. No mínimo possível, a observação precisa ser suplementada pela experimentação ativa. As religiões são criações humanas. Nossa sociedade bem conscientemente tenta melhorar todo outro tipo de instituição social, então por que não a religião? Os membros da Igreja do Processo, fundada principalmente por alunos de uma Escola de Arquitetura, referenciavam a criação de seu culto como uma engenharia religiosa, a criação consciente, sistemática e hábil de uma nova religião. Proponho que nos tornemos engenheiros religiosos." [9].

Evidentemente, Bainbridge acredita que os sociólogos deveriam exercer um papel na criação de uma nova consciência religiosa. As análises etnográficas das seitas cientísticas, como a Igreja do Processo e a Cientologia, não mais serão suficientes. O que é requerido é "a experimentação ativa".

Trabalhando nessa capacidade, os cientistas sociais cessariam de ser observadores. Em vez disso, eles se tornariam os promulgadores ativos dos diferentes cultos cientísticos que constituem a tecnocracia. Esta última se tornará a única religião civil aceitável na América, provavelmente chamada, em deferência a Henri Saint-Simon, de "Novo Cristianismo". Bainbridge elabora um pouco mais:

"Os sociólogos da religião estão entre os eruditos acadêmicos mais éticos e idealistas, e não há razão por que eles não devem aplicar seu conhecimento na criação de novas religiões. O mundo precisa delas. Temos papeis a exercer como consultores para as novas religiões existentes, ajudando-as a solucionar os problemas que nossa pesquisa permitiu que compreendêssemos. Entretanto, também precisamos estar preparados para lançar novos cultos de nossa própria invenção, uma tarefa que admito que é arriscada para o próprio bem-estar da pessoa e absurda aos olhos daqueles que se recusam a admitir que todas as religiões são criações humanas. Mas, é muito melhor que engenheiros religiosos honestos assumam a tarefa da criação de novas religiões para o bem do progresso humano do que deixar a tarefa para malucos e espertalhões ávidos por riquezas." [10].

Em essência, a proposta de Bainbridge para os cientistas sociais se tornarem engenheiros da religião meramente reitera o conceito tecnocrático do "Novo Cristianismo", de Saint-Simon e da sociocracia, de August Comte. Aparentemente, a noção de um "Novo Cristianismo" não morreu com Saint-Simon, em 1825. Os cultos cientísticos modernos, cujos esforços de engenharia religiosa estão sendo cada vez mais ampliados pelas ciências sociais tecnocráticas, propõem um "Novo Cristianismo" deles próprios. Muitos cultos cientísticos derivam seu "Novo Cristianismo" da ficção científica.

Ficção Científica

William Sims Bainbridge acha que o gênero literário da ficção científica é a fonte mais promissora para a teologia "edificante" da nova religião galáctica:

"Os novos cultos tendem a não serem muito criativos; eles extraem suas práticas e doutrinas de outros grupos e tradições. Se eles devem receber visões galácticas, a melhor fonte provavelmente é a ficção científica. Não somente a ficção científica oferece grandes imagens de civilizações galácticas e noções específicas de como alcançá-las, mas está encharcada pelas ideias ocultistas e pseudocientíficas que poderiam bem servir às necessidades das pessoas, se forem empacotadas em novas igrejas." [11].

Embora a ficção científica venere a ciência e apresente cosmovisões que são ostensivamente seculares, o gênero ainda promove conceitos religiosos. Bainbridge observa a contínua preocupação do gênero ficção científica com a religião.

"A religião é um tópico comum na ficção científica e os autores do gênero consideram a religião a partir de várias perspectivas. Em The Gods of Mars e The Master Minds of Mars, Edgar Rice Burroughs critica severamente a religião por escravizar os fieis — por assassinar o espírito científico, bem como por oferecer sacrifícios humanos. Algumas vezes, a religião tem sido vista com mais simpatia, embora em conflito com a ciência, como um corretivo humano para os excessos da tecnologia fora de controle. Exemplos incluem A Canticle for Leibowitz, de Walter M. Miller e The Quest for Saint Aquin, de Anthony Boucher. Ainda outras histórias têm sido ensaios em teologia e teodiceia para uma sociedade científica, como por exemplo The Star, de Arthur C. Clarke e A Case of Conscience, de James Blish. [12].

A partir do ponto de vista de Bainbridge, a ficção científica fornece um rico repositório para o fornecimento de mitos social e culturalmente apropriados:

"Mais relevantes para aqueles que podem querer inventar uma Igreja do Deus Galáctico são as histórias que esquematizam religiões recém-inventadas, seitas que poderiam na verdade vir a existir e, se forem bem-sucedidas, moldar a política pública rumo à ciência e à tecnologia." [13].

Bainbridge vê os mitos como potenciais profecias de autocumprimento. Ele afirma que quando essas histórias se incorporam dentro da consciência humana, elas dão partida a si mesmas. Supostamente, a aprovação tangível deste mito resultará na criação de uma Igreja do Deus Galáctico. Essa nova ordem teocrática presidirá sobre a civilização galáctica emergente, que tem sido o sonho dos futuristas há anos.

Entretanto, esses "mitos social e culturalmente apropriados" são puramente cientísticos em caráter. Isto é, eles exaltam o imperialismo epistemológico do cientismo. Todavia, como eles apresentam afirmações metafísicas (por exemplo, transcendência, união mística, fisicalismo, etc.) os mitos cientísticos da ficção científica ainda se qualificam como religiões. Essas religiões são desenvolvidas de acordo com as exigências sociológicas daqueles que estão procurando remodelar o ambiente religioso-cultural dominante. Os engenheiros religiosos de Bainbridge procurariam condicionar efetivamente a mente pública a aceitar uma forma tecnocrática de governança. O mesmo objetivo está sendo perseguido por um grupo de progenitores de um futuro pós-humano dirigido pela tecnologia: os transumanistas.

William Sims Bainbridge é um dos mais influentes proponentes do Transumanismo, descrito por Katherine Hayles como uma ideologia que "promove a geração de formas 'geneticamente enriquecidas' de seres 'pós-humanos'." [14] De acordo com Hayles:

"... nesse ser pós-humano, não existem diferenças essenciais, ou demarcações absolutas, entre a existência corporal e a simulação computacional, entre mecanismo cibernético e organismo biológico, entre tecnologia robótica e objetivos humanos." [15].

Como Hayles torna abundantemente claro, a condição "pós-humana" é a transformação do homem em uma máquina. Este poderia ser o resultado objetivado da evolução autodirigida, um objetivo que os transumanistas compartilham com os maçons. Na verdade, as similaridades entre o Transumanismo e a Maçonaria são numerosas demais para serem ignoradas. Em seu livro The Meaning of Masonry (O Significado da Maçonaria), W. L. Wilmshurst fornece um resumo das mais elevadas aspirações dos seus irmãos na Arte:

"Isto — a evolução do homem em um super-homem — sempre foi o propósito dos antigos Mistérios, e o real propósito da Maçonaria moderna não são os aspectos sociais e filantrópicos para os quais tanta atenção é dada, mas a aceleração da evolução espiritual daqueles que aspiram aperfeiçoar sua própria natureza e transformá-la em uma qualidade divina. E esta é a ciência definitiva, uma arte real, que é possível para cada um nós colocar em prática; enquanto que ingressar na Arte por qualquer outro propósito do que estudar e seguir esta ciência é interpretar incorretamente seu significado. " [16].

Por exemplo, o cientista de robótica britânico Kevin Warwick renunciou candidamente à sua humanidade. "— Nasci humano, porém isto foi um acidente do destino — uma mera condição do tempo e do espaço." [17].

Isto gera uma questão perturbadora. Se a condição humana foi algum tipo de acidente biológico, então qual é o destinho evolucionário final da humanidade? Bart Kosko, um professor de engenharia elétrica, revela o destino final no mapa evolucionário:

"A biologia não é destino; ela nunca foi mais do que uma tendência. Ela foi apenas o primeiro modo sujo e rápido da natureza efetuar cálculos computacionais com carne. Os microcircuitos é que são o destino." [18].

O Transumanismo advoga a entronização de uma elite. Essa elite pós-humana é chamada de classe "GenRich". De acordo com o transumanista Lee Silver, o fim deste século testemunhará a ascendência da elite "GenRich".

"Todos os aspectos da economia, da mídia, da indústria do entretenimento e da indústria do conhecimento serão controlados pelos membros da classe GenRich... Os naturais trabalharão como provedores de serviço de baixa remuneração ou como mão-de-obra..." [19].

Em sua literatura promocional, os transumanistas livremente afirmam sua "habilidade e direito de planejar e escolher suas próprias vidas". [20]. Este é o plano deles para enganar os incautos. O Transumanismo é totalitário em sua essência. Somente para um pequeno grupo de "cientistas pós-humanos" (elitistas culturais e econômicos) a "total liberdade" é concedida. O objetivo deles é claro: de modo a dominar a humanidade, eles querem refazer a criação, incluindo o homem, para atender aos seus próprios propósitos.

O questionamento de C. S. Lewis precisa ser repetido. Ele escreveu: "A natureza humana será a última parte a se render ao Homem. A batalha então estará vencida... Mas quem, precisamente, a terá vencido?” [21].

Considerando-se todas as probabilidades, é bastante duvidoso que o Transumanismo finalmente será bem-sucedido em seus objetivos declarados de superar a fragilidade humana e alcançar o paraíso na Terra. Na verdade, visto de uma perspectiva pré-milenista, os cristãos sabem que o oposto exato acontecerá. A Bíblia chama o período de sete anos que precederá a Segunda Vinda de Cristo de "Grande Tribulação".

Por exemplo, no evangelho de Mateus, lemos:

"Porque haverá então grande aflição, como nunca houve desde o princípio do mundo até agora, nem tampouco há de haver. E, se aqueles dias não fossem abreviados, nenhuma carne se salvaria; mas por causa dos escolhidos serão abreviados aqueles dias. Então, se alguém vos disser: Eis que o Cristo está aqui, ou ali, não lhe deis crédito; porque surgirão falsos cristos e falsos profetas, e farão tão grandes sinais e prodígios que, se possível fora, enganariam até os escolhidos. Eis que eu vo-lo tenho predito." [Mateus 24:21-25].

No passado, os utópicos de todos os matizes abraçaram buscas similares àquelas encontradas na Tecnocracia e no Transumanismo. Como Jean B. Quant observa: "Esta secularização da tradição pós-milenista no fim do século 19 e início do século 20 atravessou as linhas que dividiam a teologia e a ciência social, o clero e os intelectuais." [22].

Cem anos atrás, a tecnologia exerceu um papel bem grande em ajudar a desenvolver a busca do homem pelos ideais utópicos. Referindo-se aos clérigos e intelectuais do fim do século 19 e início do século 20, Quant declarou:

"Os desenvolvimentos tecnológicos foram particularmente significativos para acelerar a chegada da nova era. O progresso do homem rumo ao reino de Deus tinha até então sido lenta porque o desenvolvimento do indivíduo e a solidariedade social sempre foram vistos como dois objetivos mutuamente exclusivos." [23].

Quant sugere que "os que acreditavam nessa utopia mundana pertenciam à corrente dominante."

"E esses pós-milenistas modernos emprestaram ao pensamento de reforma muito de seu otimismo, seu perfeccionismo, e sua fé na capacidade da irmandade, unida ao moderno espírito científico, para vencer todos os males do mundo." [24].

Um grande contingente de evangélicos contemporâneos adotou alguns aspectos dos ideais tecnocráticos do Transumanismo e é atraído por suas motivações. Eles adotam a crença que os cristãos são "a continuação da encarnação de Cristo no mundo". O novo foco deles está em uma herança terreal para a igreja. Em termos concretos, isso significa que os cristãos foram chamados para levar a humanidade para um novo estágio de sua existência. Por meio do trabalho individual dos cristãos, todos os males na sociedade serão lentamente vencidos, até que não existam mais. Somente após o Reino de Deus ter sido estabelecido na Terra por meio dos esforços humanos, eles acreditam, é que a Segunda Vinda de Cristo ocorrerá.

Os evangélicos que buscam esses e similares objetivos são chamados de dominionistas (seguidores da Teologia do Domínio). Eles pertencem a um conglomerado diverso de movimentos, cobrindo todo o espectro teológico do evangelicalismo, indo desde os carismáticos Filhos de Deus Manifestos até os Reconstrucionistas Neopuritanos. Emergindo desses enclaves peculiares das comunidades religiosas há um mito que poderá ser o "Novo Cristianismo" da sociocrática "Igreja de Deus Galáctico" de Bainbridge. O novo paradigma cientístico propõe aquilo que pode ser chamado de uma "exoteologia". Seraphim Rose explica:

"Os 'teólogos' protestantes e católicos romanos contemporâneos — que se tornaram acostumados a seguir tudo aquilo que a 'ciência' pareça estar promovendo — especulam por sua vez no novo reino da 'exoteologia' (a 'teologia do espaço sideral') com relação a qual natureza as raças 'extraterrestres' podem ter (veja a revista Time de 24 de abril de 1978). Dificilmente se pode negar que o mito que está por trás da ficção científica tenha uma poderosa fascinação até mesmo entre muitos homens cultos do nosso tempo." [25].

Em sua avaliação final da ficção científica, Rose conclui que esse gênero ostensivamente "científico e não-religioso" é, na verdade, "o principal propagador (em uma forma secular) da 'nova consciência religiosa' que está gradualmente suplantando o cristianismo bíblico. [26].

Contaminada pelo ocultismo e pelas sugestões de uma espiritualidade pagã emergente, a propagação da tecnocracia pela ficção científica pode estar facilitando uma mudança de paradigma no pensamento religioso. Logicamente, uma exoteologia requer um Cristo exoteológico. A ficção científica já está pavimentando o caminho para um novo messias cientístico.

A tecnocracia se infiltrou em praticamente todos os segmentos da sociedade ocidental. Em vez de se oporem vigorosamente às maquinações místicas, elitistas e totalitárias dessa religião rival, os evangélicos, em grande parte, estão dispostos a minimizarem a sutil intrusão dos tecnocratas em seu território eclesiástico. Eles se orgulham de serem a vanguarda de um futuro utópico, eufemisticamente chamado de "Reino de Deus na Terra". O que está faltando em seu pensamento é a percepção crítica que enquanto o Transumanismo visa à perfeição pós-humana por meio da tecnologia, ele ignora a verdadeira natureza da "perfeição" moral (a santificação progressiva) em sua rebelião contra Deus.

A transformação que os cristãos deveriam buscar não é a melhoria física ou psicológica encontrada na ciência, na razão ou na tecnologia, mas, em vez disso, na obra transformadora encontrada somente no poder sobrenatural de Deus por meio de Seu Espírito. Mas todos nós, com rosto descoberto, refletindo como um espelho a glória do Senhor, somos transformados de glória em glória na mesma imagem, como pelo Espírito do Senhor. [2 Coríntios 3:18].

Romanos 12:1-2 diz: "Rogo-vos, pois, irmãos, pela compaixão de Deus, que apresenteis os vossos corpos em sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é o vosso culto racional. E não sede conformados com este mundo, mas sede transformados pela renovação do vosso entendimento, para que experimenteis qual seja a boa, agradável, e perfeita vontade de Deus."

Este é o tipo final de transformação, e o único tipo que pode ser verdadeiramente obtido com a ajuda de Deus neste mundo. O objetivo é o alcance da perfeita humanidade nos céus, após o julgamento, não o alcance da total perfeição tecnológica na Terra, como um ser quase-divino.

"Mas a nossa cidade está nos céus, de onde também esperamos o Salvador, o Senhor Jesus Cristo, que transformará o nosso corpo abatido, para ser conforme o seu corpo glorioso, segundo o seu eficaz poder de sujeitar também a si todas as coisas." [Filipenses 3:30-21].

Notas Finais

1) Nathan Cochrane, "US Report Foretells of Brave New Worls", 23 de julho de 2002; http://www.smh.com.au/articles/2002/07/20/1026898931815.html.

2) Ibidem.

3) Ibidem.

4) William Sims Bainbridge, Religions for a Galactic Civilization, Eugene M. Emme, Science Fiction and Space Futures (San Diego: American Astronautical Society, 1982) págs. 187-201. Trabalho apresentado no Simpósio Décimo Nono Memorial Goddard, da Sociedade Aeronáutica Americana, Pentagon City, Virginia, 26-27 de março de 1981.

5) Ibidem.

6) William Sims Bainbridge, Social Construction From Within: Satan’s Process, in James T. Richardson, Joel Best, and David G. Bromley, eds., The Satanism Scare (New York: Aldine de Gruyter, 1991) págs. 297-310; William Sims Bainbridge, Satan’s Power: A Deviant Psychotherapy Cult (University of California Press, 1978).

7) Ibidem, pág. 56.

8) Ibidem, pág. 169.

9) William Sims Bainbridge, New Religions, Science, and Secularization, em Religion and the Social Order, Volume 3A, 1993, págs. 277-292.

10) Ibidem.

11) William Sims Bainbridge, Religions for a Galactic Civilization.

12) Ibidem.

13) Ibidem.

14) Citado em C. Christopher Hood, "The Techno Sapiens Are Coming", Christianity Today, 19 de dezembro de 2003.

15) Ibidem.

16) W. L. Wilmshurst, The Meaning of Masonry (New York, Gramercy, 1980), pág. 47.

17) Citado em C. Christopher Hood, "The Techno Sapiens Are Coming", Christianity Today, 19 de dezembro de 2003.

18) Ibidem.

19) Ibidem.

20) Nick Bostrom, The Transhumanism FAQ, #11.

21) C. S. Lewis, The Abolition of Man (HarperCollins, 2001), págs. 76-78.

22) Jean B. Quant, "Religion and Social Thought: The Secularization of Postmillennialism", American Quarterly, Volume 25, No. 4 (outubro de 1973), pág. 390-409.

23) Ibidem.

24) Ibidem.

25) Seraphim Rose, Orthodoxy and the Religions of the Future (Saint Herman of Alaska Brotherhood, 1975/1996), pág. 74.

26) Ibidem, pág. 77.


Declaração Transumanista

(Conforme publicada na página da Humanity+, em http://humanityplus.org/learn/transhumanist-declaration/.)

1) A Humanidade será profundamente modificada pela tecnologia no futuro. Prevemos a viabilidade de ampliar o potencial humano, superando o envelhecimento, as limitações cognitivas, o sofrimento involuntário e nosso confinamento ao planeta Terra.

2) Acreditamos que o potencial da humanidade em grande parte ainda não foi alcançado. Existem cenários possíveis que levam a condições humanas maravilhosas, avançadas e extremamente compensadoras.

3) Reconhecemos que a humanidade está diante de sérios riscos, especialmente se as novas tecnologias forem usadas de forma incorreta. Existem cenários realistas possíveis que levam à perda da maior parte ou até de tudo aquilo que valorizamos. Alguns desses cenários são drásticos, outros são sutis. Embora todo o progresso seja mudança, nem toda mudança é progresso.

4) Esforços em pesquisa precisam ser feitos para permitir a compreensão dessas possibilidades. Precisamos deliberar cuidadosamente como melhor reduzir os riscos e acelerar as aplicações benéficas. Também precisamos de foros em que as pessoas possam discutir de forma construtiva o que deve ser feito e uma ordem social em que as decisões responsáveis possam ser implementadas.

5) A redução dos riscos existenciais e o desenvolvimento de meios para a preservação da vida e da saúde, o alívio do grave sofrimento e a melhoria da presciência e da sabedoria humanas devem ser buscados como prioridades urgentes e receber pesado financiamento.

6) A criação de políticas deve ser guiada por uma visão moral inclusiva e responsável, considerando seriamente as oportunidades e os riscos, respeitando a autonomia e os direitos individuais e mostrando solidariedade e preocupação pelos interesses e dignidade de todos os povos em todo o mundo. Também precisamos considerar nossas responsabilidades morais com relação às gerações futuras.

7) Advogamos o bem-estar de todos os seres capazes de sentir sensações e emoções, incluindo seres humanos, animais não-humanos e qualquer intelecto artificial futuro, formas de vida modificadas, ou outras inteligências que os avanços tecnológicos e científicos possam fazer surgir.

8) Favorecemos que os indivíduos tenham a permissão de fazer amplas escolhas pessoais sobre como conduzirão suas vidas. Isto inclui o uso de técnicas que possam ser desenvolvidas para ajudar a memória, a concentração e a energia mental, as terapias de prolongamento da vida, tecnologias para escolhas reprodutivas, procedimentos criônicos e muitas outras tecnologias possíveis para a modificação e aprimoramento do ser humano.

A Declaração Transumanista foi originalmente redigida em 1998 por um grupo internacional de autores: Doug Baily, Anders Sandberg, Gustavo Alves, Max More, Holger Wagner, Natasha Vita-More, Eugene Leitl, Bernie Staring, David Pearce, Bill Fantegrossi, den Otter, Ralf Fletcher, Kathryn Aegis, Tom Morrow, Alexander Chislenko, Lee Daniel Crocker, Darren Reynolds, Keith Elis, Thom Quinn, Mikhail Sverdlov, Arjen Kamphuis, Shane Spaulding, and Nick Bostrom. Esta Declaração Transumanista foi modificada ao longo dos anos por vários autores e organizações. Ela foi adotada pelos membros da Associação Transumanista Mundial em 2002 e pela diretoria da Humanity+, em março de 2009.


Autor: Martin Erdmann, http://www.forcingchange.org, Volume 4, Edição 10.
Data da publicação: 9/5/2011
Revisão: http://www.TextoExato.com
A Espada do Espírito: https://www.espada.eti.br/tecnodeuses-2.asp