O Príncipe Que Há de Vir

(The Coming Prince)

Sir Robert Anderson

(1841-1918)

APÊNDICE 3

Um Retrospecto e uma Resposta

"Acautelai-vos, que ninguém vos engane". Essas foram as primeiras palavras do Senhor em resposta à pergunta, "Que sinal haverá da tua vinda?" E a advertência ainda é necessária. "Não vos pertence saber os tempos ou as estações que o Pai estabeleceu pelo seu próprio poder", foi uma de suas últimas palavras antes de Sua ascensão aos céus. Se esse conhecimento foi negado aos Seus santos apóstolos e profetas, podemos ter certeza que não foi revelado a nós hoje. Nem pode um segredo que, como o Senhor declarou, "o Pai estabeleceu pelo seu próprio poder" (Atos 1:7) ser descoberto por pesquisa astronômica ou investigações da matemática mais avançada.

Mas, por outro lado, nenhum cristão que use a cabeça pode ignorar os sinais e portentos que marcam os dias em que vivemos. Quando escrevi o capítulo introdutório deste livro, não imaginei que o avanço da infidelidade ocorreria de forma tão rápida. Nos primeiros anos que se passaram desde então, o crescimento do ceticismo dentro das igrejas excedeu até as mais pessimistas previsões. Lado a lado com isso, a expansão do espiritismo e da adoração aos demônios causa consternação. Os círculos de pessoas que se dedicam às essas práticas estão sendo formados às dezenas de milhares e nos EUA a prática já foi sistematizada em uma religião, com um credo e um culto reconhecido.

Mas esses aspectos tenebrosos dos nossos tempos, embora notáveis e solenes, não são os mais significativos. Embora a apostasia predita dos últimos dias pareça estar se aproximando, ficamos alegres pelos notáveis triunfos da cruz. Não é apenas que interna e externamente o evangelho esteja sendo pregado com uma liberdade nunca antes conhecida, mas que, de um modo sem precedentes desde os dias dos apóstolos, os judeus estão vindo para a fé em Jesus Cristo. É um fato pouco conhecido que durante os últimos anos mais de 250.000 cópias do Novo Testamento em hebraico foram distribuídas entre os judeus na Europa Oriental e o resultado tem sido a conversão ao cristianismo, não de um ou dois, como no passado, mas em números grandes e crescentes. Em alguns lugares, comunidades inteiras, por meio da leitura da Palavra de Deus, aceitaram o desprezado nazareno como o verdadeiro Messias. Isso é totalmente sem paralelos desde os tempos do Pentecostes.

Então novamente, o retorno dos judeus à Palestina é um dos fatos mais estranhos dos dias atuais. Dificilmente há um país no mundo que não ofereça mais atrações para um colono, seja ele um agricultor ou um negociante; todavia, desde que O Príncipe Que Há de Vir foi escrito, mais judeus emigraram para a terra de seus pais do que retornaram com Esdras quando o decreto de Ciro trouxe a servidão ao fim. Mas ontem, a profecia que Jerusalém seria habitada "como cidades sem muros" parecia pertencer a um futuro muito remoto. As casas além das portas da cidade eram poucas em número, e ninguém se aventurava a sair delas após o cair da noite. Hoje, a existência de uma grande e crescente cidade judaica fora dos muros é um fato conhecido por qualquer turista e, ano a ano, a emigração e a construção continuam aumentando.

Se eu me aventurar a tocar na política internacional da Europa, será apenas brevemente, e em conexão com a profecia do capítulo 7 de Daniel. Já dei em detalhes minhas razões para sugerir que a interpretação "histórica" dessa visão não esgota seu significado [1] e admito com profunda convicção que toda parte dela espera seu cumprimento. Ali, como em outras partes nas Escrituras, "o grande mar" precisa certamente significar o Mediterrâneo; e uma luta terrível por supremacia no Levante parece ser o peso da porção inicial da visão. A proximidade dessa luta está agora sendo discutida em todas as capitais da Europa, e em parte alguma com maior ansiedade do que aqui neste país. Nunca realmente, desde os dias de Pitt, houve causa para essa ansiedade nacional; e a questão do equilíbrio de poder no Mediterrâneo ganhou recentemente uma proeminência e interesse maiores e mais agudos que nunca antes associados com ela.

Não observarei tópicos de um caráter mais duvidoso, mas me restringirei a estes; nem tentarei, floreando as palavras, exagerar o significado deles. Mas aqui estamos face a face com grandes fatos públicos. Por um lado, existe uma expansão da infidelidade e da adoração aos demônios, preparando o caminho para a maior apostasia inspirada por demônios dos últimos dias; e, por outro lado, existem esses movimentos espirituais e nacionais entre os judeus, que são totalmente sem precedentes durante os dezoito séculos que transcorreram desde a Diáspora. Finalmente, os gabinetes dos governos europeus estão observando ansiosamente o início de uma luta como a que a profecia nos adverte que no fim anunciará a ascensão do último grande monarca da cristandade. Tudo isso deve ser ignorado? Não há aqui o suficiente para basear, não direi a crença, mas uma profunda esperança, que o fim pode estar se aproximando? Se sua proximidade for apresentada como uma esperança, eu me alegro e regozijo nela; se for apresentada como um dogma, ou um artigo de fé, eu a repudio e a condeno profundamente.

À medida que estudamos isso, uma dupla cautela será oportuna. Esses eventos e movimentos não são em si mesmos o cumprimento das profecias, mas meras indicações em que podemos encontrar a esperança que o tempo para o cumprimento delas está se aproximando. Qualquer um que tenha pesquisado sua Bíblia entre os estranhos, surpreendentes e solenes eventos de um século atrás precisa certamente ter concluído que a crise estava então às portas; e pode ser que uma vez mais a maré que agora parece avançar tão rapidamente venha novamente a retroceder e gerações de cristãos ainda nascerão, viverão e aguardarão na Terra. Quem se atreverá a definir um limite para a longanimidade de Deus? Esta é Sua própria explicação para o fato de aparentemente ser "tardio" em cumprir Suas promessas. (2 Pedro 3:9).

Precisamos também estar advertidos contra o erro em que os cristãos de Tessalônica caíram. A conversão deles foi descrita como uma conversão dos ídolos para servir o Deus verdadeiro e "esperar dos céus a seu Filho". A vinda do Senhor foi apresentada a eles como uma esperança prática e presente, para confortá-los e alegrá-los enquanto choraram por seus mortos. (1 Tessalonicenses 1:9,10 e 4:13-18) Mas quando o apóstolo passou a falar "acerca dos tempos e das estações" e do "dia do Senhor" (1 Tessalonicenses 5:1-3), eles interpretaram mal o ensino e, supondo que a vinda do Senhor estaria imediatamente conectada com o dia de Jeová, concluíram que aquele terrível dia estava chegando. Em ambos os pontos eles estavam totalmente enganados. Na segunda epístola o apóstolo escreveu: "Ora, irmãos, rogamo-vos, pela vinda de nosso Senhor Jesus Cristo, e pela nossa reunião com ele, que não vos movais facilmente do vosso entendimento, nem vos perturbeis, quer por espírito, quer por palavra, quer por epístola, {referindo-se, é claro, à primeira epístola} como de nós, como se o dia de Cristo estivesse já perto." [2]

"Os tempos e as estações" estão conectados com a esperança de Israel e os eventos que precederão a realização dela. (Atos 1:6-7). A esperança da igreja é inteiramente independente. Se os cristãos dos primeiros dias foram instruídos a viverem aguardando aquela "bendita esperança", quanto mais nós deveríamos! Nem uma linha da profecia precisa ser cumprida primeiro, e nem um único evento precisa ocorrer antes. Destarte, qualquer sistema de interpretação ou de doutrina que se choque com isso e assim negue o ensino dos apóstolos do nosso Senhor, fica condenado. [3]

Vamos então nos acautelar para não cairmos no erro comum de exagerar a importância dos movimentos e eventos contemporâneos, por maiores e mais solenes que sejam, e que o cristão dê ouvidos para que a contemplação dessas coisas não o leve a esquecer sua cidadania e sua esperança celestiais. A realização dessa esperança irá apenas limpar o cenário para a exibição do último grande drama da história da Terra, conforme predito na profecia.

Com o perdão da digressão, pode ser bom amplificar isso e explicar melhor o que quero dizer. Que Israel será restaurado novamente ao lugar de privilégio e de bênçãos na Terra não é uma questão de opinião, mas de fé; e ninguém que aceite as Escrituras como divinas pode questionar isso. Aqui, a linguagem dos profetas hebreus é bem explícita. Ainda mais enfático, por razão do tempo em que foi dado, é o testemunho da epístola de Paulo aos Romanos. A própria posição dessa epístola no cânon sagrado dá proeminência ao fato que os judeus tinham então sido colocados de lado. O Novo Testamento inicia relatando o nascimento de Jesus como filho de Abraão e filho de Davi, (Mateus 1:1) a semente para quem as promessas foram feitas e o herdeiro legítimo do cetro que foi confiado a Judá; e os evangelhos registram Sua morte nas mãos do Seu povo favorecido. Após os evangelhos, vem a narrativa da oferta renovada de misericórdia para aquele povo, e da rejeição da mensagem. "Primeiro para os judeus" está estampado em cada página dos Atos dos Apóstolos; e caracterizou a dispensação Pentecostal de transição, da qual esse livro é o registro. A igreja fundada em Pentecostes era essencialmente judaica. Não somente eram os gentios uma minoria, mas a posição deles era de relativa tutelagem, como mostra o registro do Concílio de Jerusalém (Atos 15; veja também 11:19) O apóstolo dos gentios, durante todo seu ministério, levou o evangelho primeiro aos judeus. "Era mister que a vós se vos pregasse primeiro a palavra de Deus", ele disse aos judeus em Antioquia (Atos 13:46; confira 17:2, 18:4) "Seja-vos, pois, notório que esta salvação de Deus é enviada aos gentios, e eles a ouvirão", foi sua palavra final a eles em Roma, quando rejeitaram seu testemunho e partiram. (Atos 28:29).

O livro seguinte no cânon é endereçado aos gentios crentes. Mas nessa mesma epístola os gentios são advertidos que "Deus não rejeitou o seu povo". Por causa da descrença os ramos foram quebrados, mas a raiz permanece, e "porque poderoso é Deus para os tornar a enxertar". "E assim todo o Israel será salvo." [4] Naquele dia o julgamento se misturará com a misericórdia, pois aquele "que tem a pá na sua mão limpará a sua eira, e ajuntará o trigo no seu celeiro, mas queimará a palha com fogo que nunca se apaga." O verdadeiro remanescente do povo da aliança se tornará o "todo Israel" dos dias das bênçãos futuras.

Esse remanescente foi tipificado pelos "homens da Galiléia" que estiveram em torno de Jesus Cristo no Monte das Oliveiras quando "ele foi elevado às alturas, e uma nuvem o recebeu, ocultando-o a seus olhos". E estando com os olhos fitos no céu, enquanto ele subia, dois mensageiros angelicais apareceram para renovar a promessa feita por Deus séculos antes por meio do profeta Zacarias:

"Esse Jesus, que dentre vós foi recebido em cima no céu, há de vir assim como para o céu o vistes ir." (Atos 1:1-19).

"E naquele dia estarão os seus pés sobre o monte das Oliveiras, que está defronte de Jerusalém para o oriente; e o monte das Oliveiras será fendido pelo meio, para o oriente e para o ocidente, e haverá um vale muito grande; e metade do monte se apartará para o norte, e a outra metade dele para o sul." (Zacarias 14:4).

Uma rápida olhada na profecia será suficiente para mostrar que o evento do qual ela fala é inteiramente diferente da vinda em 1 Tessalonicenses. É o mesmo Senhor Jesus, que está vindo para Sua igreja desta dispensação e vindo para seu povo terreno reunido em Jerusalém em uma dispensação por vir; mas de outra maneira essas "vindas" não têm absolutamente nada em comum. A última manifestação — Seu retorno ao Monte das Oliveiras — é um evento tão definitivamente localizado quando foi Sua ascensão daquele mesmo Monte das Oliveiras; e seu propósito declarado é para trazer libertação ao Seu povo na hora de extremo perigo. Sua vinda anterior não terá nenhuma relação com localidade. Por todo o mundo, onde quer que Seus mortos tenham sido colocados para dormir, "a trombeta de Deus" os chamará de volta à vida, em "corpos espirituais" como o Seu próprio; e onde quer que "santos" vivos forem encontrados, eles serão "transformados em um momento, em um piscar de olhos", e todos seremos pegos juntamente nas nuvens para encontrá-lo nos ares. Embora os céticos profanos ridicularizem tudo isto, e os céticos religiosos o ignorem, o crente lembra que seu Senhor foi assim levado aos céus; e quando considera a promessa, maravilhado, é levado à adoração, é não à descrença.

E este evento, que é a esperança apropriada para a igreja, é tão independente da cronologia, quanto da geografia. É com o cumprimento da esperança de Israel que os "tempos e estações" têm a ver, e os sinais e portentos que pertencem a eles. A manifestação pública do Senhor ao mundo é ainda outro evento distinto de ambos. Nosso Deus Jeová virá com todos os Seus santos (Zacarias 14:5) o Senhor Jesus será revelado como labareda de fogo, tomando vingança. [5] Que intervalo de tempo separará esses estágios sucessivos do "segundo advento" não podemos saber. É um segredo não revelado. Tudo o que nos interessa é "manejar corretamente a palavra da verdade" para marcar que eles são em todos os respeitos distintos. [6]

Uso a expressão "segundo advento" meramente como uma concessão à teologia popular, pois ela não tem garantia nas Escrituras. Seria melhor descartá-la totalmente, pois é causa de muita confusão do pensamento e não um pequeno erro positivo. É um termo puramente teológico, e pertence adequadamente à grande e final vinda para julgar o mundo. Mas enquanto muitos se recusam a acreditar que haverá qualquer revelação de Cristo para Seu povo sobre a Terra até a data inicial da grande crise, o estudante mais cuidadoso das Escrituras encontra ali a mais clara prova que haverá uma "vinda" antes da era popularmente chamada de "milênio". Aqui novamente existem aqueles que, embora claramente reconhecendo um "avento pré-milenista" deixam de observar a diferença, tão claramente marcada nas Escrituras, entre a vinda para a igreja da atual dispensação, a vinda para o povo terreal em Jerusalém, e a vinda para destruir o iníquo e estabelecer o reino.

Mas, pode ser dito, não é a expressão justificada pelo verso de encerramento do capítulo 9 de Hebreus? Respondo que é apenas o leitor superficial da passagem que pode usá-la assim. "Aparecerá segunda vez, sem pecado, aos que o esperam para salvação." E as palavras são tomadas como se fossem equivalentes ao "Seu segundo aparecimento", "o aparecimento" sendo o sinônimo reconhecido para "a vinda". Mas isso é simplesmente aproveitar-se da linguagem da nossa tradução. A palavra realmente empregada é totalmente diferente. É uma palavra geral, e é a mesma usada com referência à Sua manifestação para Seus discípulos após a ressurreição. [7] Além disso, o artigo definido precisa ser omitido:

"E, como aos homens está ordenado morrerem uma vez, vindo depois disso o juízo, assim também Cristo, oferecendo-se uma vez para tirar os pecados de muitos, aparecerá segunda vez, sem pecado, aos que o esperam para salvação." (Hebreus 9:27-28).

A afirmação não é profética, mas doutrinária; e a doutrina em questão não é o Advento, mas o sacerdócio. Não é a predição de um evento a ser realizado por aqueles que estarão vivos no tempo do fim, mas a declaração de uma verdade e de um fato a serem realizados para todo crente, independente da dispensação em que ele viva.

Portanto, não se pode apelar para a passagem em suporte ao dogma que nunca novamente, exceto uma vez, Cristo aparecerá para Seu povo na Terra. E, como a expressão "segundo advento" está tão intimamente conectada com esse dogma, seria bom que todos os estudantes inteligentes das Escrituras se unissem para descartá-la. A vinda de Cristo é a esperança de Seu povo em todas as épocas.



A única crítica adversa que vi ao Príncipe Que Há de Vir apareceu nas edições finais de The Approaching End of the Age. Sentimentos de estima e de amizade pelo autor influenciaram minha observação dessa obra, mas nenhuma consideração desse tipo o restringiram de responder às minhas críticas; e o fato que um autor tão capaz e tão amargamente hostil não tenha se aventurado a questionar em um único ponto as conclusões principais aqui estabelecidas é uma prova notável de que elas são irrefutáveis.

O Dr. Grattan Guinness reclama que não fiz nenhuma tentativa de "responder" ao seu livro. Minha única referência a ele foi feita incidentalmente em uma nota no Apêndice; e quando ele lida com a "realização primária e parcial das profecias" tomei a liberdade de elogiá-lo. Por que então deveria eu "responder" a um tratado que valorizo e adoto? Estas páginas dão prova do quão completamente aceito a interpretação histórica das profecias; [8] e se alguém perguntar por que então não lhe dei maior proeminência, lembro da resposta de Tiago quando os apóstolos foram acusados de negligenciarem em seus ensinos os escritos de Moisés. "Moisés tem em cada cidade quem o pregue." O que era necessário, portanto, para o equilíbrio da doutrina ser mantido, era que eles ensinassem a graça. Em uma base similar, a tarefa que aqui me propus a tratar é o cumprimento das profecias. Mas não tenho controvérsia alguma com aqueles que usam todos seus talentos para desenvolver a interpretação "histórica" delas. Minha discussão é somente com os homens que praticamente negam a autoria divina da palavra sagrada, afirmando que a compreensão que têm dela é o limite de sua abrangência, e esgota seu significado. O Príncipe Que Há de Vir é uma resposta esmagadora para o sistema que se a atreve a escrever "Cumprido" na página profética. "A questão real em discussão aqui", repito, "é o caráter e o valor da Bíblia". O Dr. Guinness afirma que as visões do Apocalipse já se cumpriram nos eventos da era cristã. Eu testo isso fazendo uma referência à visão do capítulo 6. Já foi cumprido, como na verdade ele se atreve a dizer que sim? A questão é vital, pois se essa visão ainda está esperando seu cumprimento, assim também todas as profecias que a seguem. Que o próprio leitor decida essa questão depois de estudar os versos de encerramento do capítulo, terminando com estas palavras "Porque É VINDO O GRANDE DIA DA SUA IRA; e quem poderá subsistir?"

Os antigos profetas hebreus foram inspirados por Deus para descreverem os terrores do "grande dia da Sua ira", o Espírito Santo aqui reproduz as mesmas palavras (confira Isaías 13:9-10 e Joel 2:31; 3:15; veja também Sofonias 1:14-15) A Bíblia não contém advertências mais terríveis com a mesma solenidade e clareza. Mas, exatamente como um advogado escreve "Expirado" em um estatuto cujo propósito já foi satisfeito, assim esses homens querem nos ensinar a escrever "Cumprido" nas páginas sagradas. Eles nos dizem que, na verdade, a visão não significava nada mais que prever a vitória de Constantino sobre as hordas pagãs. [9] Falar assim é vir perigosamente perto da advertência a respeito do pecado de "tirar as palavras do livro desta profecia". Mas quando nossos pensamentos se voltam para esses mestres, somos restritos lembrando sua piedade e zelo pois "o louvor deles está em todas as igrejas". Vamos então banir de nossas mentes todas as idéias dos homens e adotar o sistema que eles advogam e suportam. Não se deve apelar a nomes famosos aqui. Nomes tão honrados, e cem vezes mais numerosos, podem ser citados em defesa de alguns dos erros mais crassos que corrompem a fé da cristandade. Qual será então nosso julgamento para um sistema de interpretação que blasfema assim do Deus da verdade, representando as mais horríveis advertências das Escrituras como exageros e pouco longes da falsidade?

Se for dito que os eventos de quinze séculos atrás, ou de alguma outra época na dispensação cristã, estiveram dentro da abrangência da profecia, podemos considerar a sugestão com base em seus méritos, mas quando os ouvimos dizerem que a profecia foi assim cumprida, não podemos manter nenhum diálogo com esse ensino. Seria tratar as Escrituras com pouca seriedade. Mais do que isso, ele se choca com a grande carta de verdade do cristianismo. Se o dia da ira chegou, o dia da graça já está no passado, e o evangelho da graça não é mais uma mensagem de Deus à humanidade. Supor que o dia da ira possa ser um episódio na dispensação da graça é revelar ignorância da graça e zombar da ira divina. A graça de Deus neste dia de graça supera a imaginação humana; Sua ira no dia da ira não será menos divina. A abertura do sexto selo anuncia a chegada desse dia terrível; as visões do sétimo selo revelam seus terrores indizíveis. Mas, ficamos sabemos, o derramamento das taças, "as sete últimas pragas, porque nelas é consumada a ira de Deus" (Apocalipse 15:1) está agora sendo cumprido. O pecador, portanto, pode se confortar com o conhecimento que a ira divina é apenas um trovão de palco que, em um mundo pragmático e com tanta coisa para fazer, pode ser seguramente ignorada! [10]

Chamei a atenção para a afirmação do Dr. Guinness que "Desde a então próxima ordem para restaurar e reedificar Jerusalém até a vinda do Messias, o Príncipe haveria setenta semanas"; e acrescentei: "Este é um típico exemplo da falta de firmeza da escola histórica em lidar com as Escrituras." Desse, e de alguns outros erros que observei, a única defesa que ele oferece é que "expressões não estritamente corretas, porém perfeitamente legítimas, na forma de elipses, são empregadas por questões de brevidade." Como se obtém brevidade escrevendo "setenta" em vez de sessenta e nove" eu não posso imaginar. A afirmação é pura perversão das Escrituras, feita de forma inconsciente, sem dúvida, para se adequar ás exigências de um falso sistema de interpretação. A profecia declara claramente o período "até o Messias, o Príncipe", como sessenta e nove semanas, deixando uma septuagésima semana para ser contada após o período especificado; mas o sistema do Dr. Guinness não pode explicar de forma sensata a septuagésima semana, de modo que, inconscientemente, repito, ele evita a dificuldade fazendo uma leitura errada da passagem. Insistir que a interpretação dele está correta e explica os últimos sete anos do período profético e sua interpretação da visão é algo que já está refutado e exposto.

Quando a linguagem das Escrituras é tratada de forma tão livre por esse autor, ninguém precisa se surpreender se minhas palavras são maltratadas em suas mãos. Ele é incapaz de agir de forma deliberadamente desonesta, porém seu hábito inveterado de imprecisão o levou a fazer uma leitura errada de O Príncipe Que Há de Vir em quase todos os pontos aos quais ele se refere. [11]

O fato é, ele conhece somente duas escolas da interpretação profética, a futurista e a sua própria e, portanto, parece incapaz de compreender um livro que é todo ele um protesto contra a estreiteza do primeiro e a mistura de estreiteza com loucura do outro. Mas suas referências pessoais são indignas do autor e do assunto. Passo a lidar com os únicos pontos em que suas críticas são de qualquer interresse ou importância geral; isto é, a predita divisão do território romano e as relações entre o Anticristo e a igreja apóstata.

Minha afirmação foi: "A divisão do território romano em dez reinos ainda não ocorreu. Que ele foi particionado é uma questão simples da história e de fato; que ele já foi dividido em dez é um mero conceito dos autores dessa escola."

"Uma afirmação extraordinariamente descuidada", diz o Dr. Guinness; porém temos apenas de virar a página para obtermos a partir de sua própria pena a clara admissão da verdade dessa afirmação. Precisa ser trazido à mente, ele diz: que os dez reinos devem ser procurados "somente no território a oeste da Grécia". E, se estamos preparados para aceitar essa teoria, encontraremos, após fazer grandes concessões às fronteiras, que nesta, que é profeticamente a porção menos importante do território romano, "o número dos reinos da comunidade européia tem, como regra, sido na média de dez." O Dr. Guinness apresenta uma dúzia de listas — e nos diz que tem cem mais em reserva — para provar que, com instabilidade e vagueza ou, para citar suas palavras, "entre crescentes e quase incontáveis flutuações, os reinos da Europa moderna têm desde seu nascimento até o dia presente sido sempre aproximadamente dez em média." "Aproximadamente dez em média", marca, embora a profecia especifique dez com uma definição que se torna absoluta por sua menção de um décimo primeiro surgindo e subjugando três reinos. E "Europa moderna" também! O zelo pela causa protestante parece cegar esses homens para os ensinos mais claros das Escrituras. Jerusalém, e não Roma, é o centro das profecias divinas e dos acertos de Deus com Seu povo; e a tentativa de explicar as visões de Daniel com base em um sistema que ignora a cidade e o povo de Daniel viola os próprios rudimentos do ensino profético. Esse extravagante cânon de interpretação, que lê "Europa moderna" em vez de a terra profética é, repito, "um mero conceito dos autores dessa escola". Primeiro eles minimizam e mexem com a linguagem da profecia, e então exageram e distorcem os fatos da história para se adequarem à sua leitura distorcida dela. "Podem eles", o Dr. Guinness exige de nós, "alterar ou acrescentar nessa lista de dez dos grandes reinos que agora ocupam a esfera da antiga Roma? — Itália, Áustria, Suíça, França, Alemanha, Inglaterra, Holanda, Bélgica, Espanha, Portugal. Dez, e não mais! Dez, e não menos!" Respondo, Sim, podemos alterá-la e fazer-lhe acréscimos. A lista inclui territórios que nunca estiveram na "esfera da antiga Roma", e omite totalmente quase a metade do território romano.

Isto é bastante ruim, mas não é tudo. Se aceitarmos suas afirmações e buscarmos interpretar o capítulo 13 do Apocalipse de acordo com elas, ele muda imediatamente sua base e protesta contra nossa numeração de "nações protestantes" entre os dez chifres. Elas estão "cronologicamente fora da questão", ele nos diz. Aqui está a linguagem dessa visão sobre o Anticristo. "E foi-lhe permitido fazer guerra aos santos, e vencê-los; e deu-se-lhe poder sobre toda a tribo, e língua, e nação. E adoraram-na todos os que habitam sobre a terra, esses cujos nomes não estão escritos no livro da vida do Cordeiro que foi morto desde a fundação do mundo." (Apocalipse 13:7-8) O que significam essas claras e solenes palavras? Nada, ele nos diz, mas que "em toda a Idade das Trevas" e "antes da ascensão do Protestantismo", a religião católica romana prevalecia na porção ocidental do território romano. Isso, ele declara, "é o cumprimento da predição". Ele chama isso de "explicar" as Escrituras!

Chego agora ao último ponto. "Nossos críticos afirmam", escreve o Dr. Guinness, "que a Babilônia segue sua carreira e é destruída pelos dez chifres, que então concordam em dar seu poder ao Anticristo, a besta. Isto é, eles ensinam que o reinado do Anticristo seguirá a destruição de Babilônia pelos dez chifres."

A base dessa afirmação precisa ser buscada pelas próprias lucubrações do autor, pois nada que a explique pode ser encontrada nas páginas que ele critica; e um comentário similar aplica-se às suas referências ao Príncipe Que Há de Vir nos parágrafos que seguem. Não farei alusão a elas em detalhe, mas em algumas frases destruo a posição que ele está procurando defender.

Chegamos agora ao capítulo 17 do Apocalipse. O argumento dele é este. A oitava cabeça da besta precisa ser uma dinastia; a besta carrega a mulher; a mulher é a Igreja de Roma. Portanto, a dinastia simbolizada pela oitava cabeça precisa ter durado tanto quanto a Igreja de Roma; e assim a interpretação protestante está definida "em uma base que não deve ser removida."

Realmente não vale muito a pena fazer uma pausa para mostrar a falta de base de algumas das suposições aqui implícitas. Para facilitar o argumento, vamos aceitá-las todas, e o que vêm delas? Em primeiro lugar, o Dr. Guinness está incorrivelmente envolvido na falácia transparente da qual eu o adverti neste livro. A mulher é destruída pela ação da besta. Como então ele vai separar o papa da igreja apóstata da qual ele é a cabeça e que, de acordo como a "interpretação protestante", cessaria de ser a igreja apóstata se ele não fosse mais considerado como a cabeça?

O historicista precisa aqui fazer uma escolha entre a mulher e a besta. Elas são distintas em toda a visão, e estão em direto antagonismo no fim. Se a prostituta representa a Igreja de Roma, o sistema dele não explica nada da besta; ele ignora completamente a figura mais importante na profecia, e o orgulhoso "fundamento" da assim-chamada "interpretação protestante" desaparece no ar. Ou, se ele buscar refúgio no outro chifre do dilema, e afirmar que a besta simboliza a igreja apóstata, a prostituta ainda precisa ser explicada. Além disso, ele se esquece que a besta aparece nas visões de Daniel em relação a Jerusalém e a Judá. Portanto, suponha que admitamos tudo o que ele diz. Qual seria o resultado? A mera argumentação que "as profecias divinas florescem e germinam realizações ao longo de muitas épocas" (cito novamente as palavras de Lord Bacon) é mais completa, e mais clara do que seus críticos podem admitir, ou os fatos da história garantirão. A verdade ainda se destaca claramente que "a altura ou plenitude delas" pertence a uma época por vir, quando Judá será mais uma vez reunido na Terra Prometida, e a luz da profecia, que agora está tênue sobre Roma, será novamente enfocada sobre Jerusalém.

A popularidade do sistema histórico reside, sem dúvida, no apelo que faz ao "espírito protestante". Mas certamente podemos permitir sermos sensatos e justos em nossa acusação à Igreja de Roma. Quem pode deixar de perceber o crescimento de um movimento anticristão que pode em breve nos levar a saudar o romanista devoto como um aliado? Com esses, a Bíblia, embora negligenciada, ainda é considerada sagrada como a palavra inspirada de Deus; e nosso Senhor divino é reverenciado e adorado, apesar de a verdade de Sua divindade ser obscurecida pelo erro e pela superstição. Apelo aqui para a Carta de Encíclica do papa, de 18 de novembro de 1893, sobre o estudo das Escrituras Sagradas. O seguinte é um excerto:

"Desejamos fervorosamente que um maior número de fiéis passe a defender os escritos sagrados, e se dedique a eles com constância; acima de tudo, desejamos que aqueles que foram admitidos nas Ordens Sagradas pela graça de Deus apliquem-se todos os dias a zelosamente ler, meditar, e explicar as Escrituras. Nada pode ser mais adequado para o bem deles. Além da excelência desse conhecimento e a obediência devida à palavra de Deus, outro motivo nos impele a acreditar que o estudo das Escrituras deve ser recomendado. Esse motivo é a abundância de vantagens que vêm com ele, e dos quais temos a garantia nas palavras dos Escritos Sagrados: 'Toda a Escritura é divinamente inspirada, e proveitosa para ensinar, para redargüir, para corrigir, para instruir em justiça; para que o homem de Deus seja perfeito, e perfeitamente instruído para toda a boa obra.' É com esse plano que Deus deu ao homem as Escrituras, os exemplos de nosso Senhor Jesus Cristo e de Seus apóstolos o mostra. O próprio Jesus estava habituado a recorrer aos Escritos Sagrados em testemunho de Sua missão divina."

Certamente há aqui, pelo menos em algum sentido, a base para uma fé comum, que poderá, com relação aos cristãos individuais, ser reconhecida como um laço de irmandade, mas um abismo intransponível nos separa do crescente número de assim-chamados protestantes que negam a divindade de Cristo e a inspiração das Escrituras. Estes têm seu verdadeiro lugar no grande exército da infidelidade que irá no fim se agrupar em torno do estandarte do Anticristo.

Meu protesto é feito não em defesa do papado, mas da Bíblia. Se alguém puder apontar para uma única passagem das Escrituras que se relacione com o Anticristo, seja no Velho ou no Novo Testamento, que possa, sem reduzir o significado das palavras, encontrar seu cumprimento no papado, farei uma retratação pública e reconhecerei meu erro. Considere 2 Tessalonicenses 2:3-4 como um exemplo do restante. "O homem do pecado, o filho da perdição, o qual se opõe, e se levanta contra tudo o que se chama Deus, ou se adora; de sorte que se assentará, como Deus, no templo de Deus, querendo parecer Deus." Isto significa meramente que em certas ocasiões o assento do papa na Basílica de São Pedro está elevado acima do nível do altar em que "a hóstia consagrada" é colocada! Essas afirmações — Não me preocupo com os nomes que podem ser citados em suporte a elas — são um insulto à nossa inteligência e um absurdo contra palavra de Deus. [12]

Então, novamente, é dito no verso 9, que a vinda do "iníquo" será "segundo a eficácia de Satanás, com todo o poder, e sinais e prodígios de mentira." Essas palavras são explicadas pela visão da besta no capítulo 13 do Apocalipse, que diz: "o dragão deu-lhe o seu poder, e o seu trono, e grande poderio." E temos da boca de nosso próprio Senhor a advertência, que os "grandes sinais e prodígios" que serão realizados por poder satânico, serão tais que "se possível fora, enganariam até os escolhidos" (Mateus 24:24). Em outras palavras, o terrível e misterioso poder de Satanás será derramado sobre a cristandade com um efeito tão terrível, que a cabeça das pessoas ficará profundamente confusa. O agnosticismo e a infidelidade capitularão na presença da prova massacrante que poderes sobrenaturais estão em operação. Se a fé, dada por Deus, vai resistir ao teste, é somente por que é impossível que Deus permita que seus próprios eleitos pereçam.

Quando exigimos o significado de tudo isso, recebemos a resposta: "Papado". Mas onde, perguntamos, estão os grandes sinais e prodígios do sistema papal? E, em resposta, ouvimos a respeito dos chapéus, dos paramentos e todos os artifícios bem-conhecidos do sacerdócio católico, que constituem seus especiais recursos de trabalho. Como se houvesse alguma coisa nestes para enganar os eleitos de Deus! Para tomar o terreno baixo do mero protestantismo, é notório que aqui na Inglaterra ninguém se deixa envolver pelos laços de Roma, exceto aqueles que já se tornaram enfraquecidos e corrompidos pelo sacerdotalismo e pela superstição dentro da comunhão que eles abandonam. E não é menos notório que, nos países católico-romanos, a maioria dos homens mantém em relação a ele uma benevolência ou uma indiferença e desdém. Lembrando, ainda mais, que os seguidores da besta estarão condenados irremediavelmente à destruição eterna, prosseguimos para perguntar se esse deve ser o destino de todo católico romano. De modo algum, temos certeza, pois, a despeito dos erros da Igreja Romanista, alguns dentro de seu aprisco estão reconhecidamente entre o número dos "eleitos de Deus".

A que conclusão, então, devemos chegar? Devemos aceitar como um cânon de interpretação que as Escrituras nunca significam aquilo que dizem? Devemos aceitar que a linguagem é muito livre e não confiável para ser praticamente falsa? Repudiamos a sugestão profana e, adotando a única alternativa possível, afirmamos enfaticamente que todas essas solenes palavras ainda aguardam cumprimento. Em outras palavras, estamos presos à conclusão que O ANTICRISTO AINDA ESTÁ POR VIR.

Notas de Rodapé do Apêndice 2

[1] Estivesse eu escrevendo agora esta nota à luz dos eventos atuais, deveria especificar a França em lugar da Alemanha, e deveria aludir aos esforços feitos pela Rússia para obter uma base naval no Mediterrâneo.

[2] 2 Tessalonicenses 2:1-2, "O dia de Cristo" na Versão Autorizada é uma tradução errônea.

[3] Veja 1 Coríntios 11:26: "Porque todas as vezes que comerdes este pão e beberdes este cálice anunciais a morte do Senhor, até que venha." Nenhum passado, exceto a cruz; nenhum futuro, exceto a vinda. Separar o crente da Vinda é um absurdo tão grande sobre o cristianismo quanto separá-lo da cruz.

[4] Romanos 11; veja os versos 1,2,9,12,15-26. Observe que "todo o Israel" não é igual a "todos os israelitas", pois no grego não há essa ambigüidade que há no inglês ou no português; e as aparentes contradições no capítulo são explicadas pelo fato que "rejeitou" dos versos 1 e 2 é uma palavra totalmente diferente de "rejeição" do verso 15 e a "queda" do verso 11 da "queda" do verso 12.

[5] 2 Tessalonicenses 1:7,8. Os "anjos do seu poder" da profecia são, presumo, os "santos" de Zacarias 14:5

[6] Entre o primeiro destes e o segundo, não há dúvida que haverá um período intermediário pelo menos tão longo quanto aquele que transcorreu entre Sua vinda a Belém e Sua manifestação a Israel em Seu primeiro advento, e provavelmente um período muito mais prolongado. Se o intervalo entre o segundo e o terceiro será medido em dias ou anos, não temos a menor condição de saber. A única indicação certa de sua duração é que o Anticristo, cujo poder será quebrado por um, será na verdade destruído pelo outro.

Estou aqui assumindo que todos os eventos que ainda serão cumpridos ocorrerão em um período de tempo relativamente curto. Mas desejo me guardar da idéia que afirmo isso. Rejeito da forma mais enfática a idéia, agora tão comum, que estudantes de astronomia e matemáticos solucionaram o mistério que Deus manteve expressamente em Seu próprio poder. Poderia um estudante do Antigo Testamento ter sonhado que aproximadamente dois mil anos transcorreriam entre os sofrimentos de Cristo e Seu retorno em glória? Teriam os cristãos primitivos tolerado essa sugestão? E, se outros mil anos ainda tiverem de transcorrer antes de a igreja ser tirada deste mundo, ou se mil anos devam transcorrer entre esse evento e a vinda ao Monte das Oliveiras, nem uma única palavra da Escrituras estaria sendo quebrada. Como já disse: "é somente enquanto a profecia se enquadra dentro das setenta semanas que ela aparece dentro do intervalo da cronologia humana." Muito é feito das supostas eras de 1.260 e 2.520 anos. Mas mesmo se pudéssemos certamente fixar a data inicial de qualquer era, a questão permaneceria se elas não podem ser períodos místicos, como os 480 anos de 1 Reis 6:1.

[7] Ela ocorre quatro vezes em 1 Coríntios 15:5-8.

[8] Veja, por exemplo, o Cap. 9 e o Apêndice 1, Nota C.

[9] Veja especialmente a citação de Dean Alford.

[10] É somente em razão de sua quase inconcebível tolice que esse ensino pode escapar da acusação de ser vulgar.

[11] Por exemplo, ele se torna veemente em denunciar minha afirmação que "todos os intérpretes cristãos concordam" em reconhecer um parêntesis na visão profética das bestas de Daniel. Sem dúvida, ele lê a passagem como se eu tivesse ali falado da queda do Império Romano, e não da sua "ascensão"; pois a afirmação é indisputavelmente verdadeira, e ele mesmo está entre os "intérpretes cristãos" que a endossam. Aqui está outro exemplo. Com referência à questão dos dez reinos, ele diz: "O Dr. Anderson e outros autores futuristas... ensinam — (1) que os dez chifres ainda não apareceram; (2) que quando aparecerem, cinco serão encontrados no território grego, e somente cinco no romano, e isso quando finalmente desenvolvidos; (3) após um intervalo de 1.400 anos dos quais a profecia não toma qualquer conhecimento, (4) eles durarão por três anos e meio." (pág. 737).

Numerei essas frases para me permitir lembrar rapidamente ao leitor inteligente que, exceto o ponto 1, tudo aqui atribuído a mim está em total oposição a algumas das afirmações mais claras em meu livro. Da mesma forma, ele atribui a mim a invenção que a carreira do Anticristo será limitada a três anos e meio. Algumas vezes fico imaginando se ele realmente leu O Príncipe Que Há de Vir! Uma palavra sobre seus comentários negativos sobre o título do meu livro. Estou ciente, é claro, que no hebraico de Daniel 9:26, não há o artigo, mas não estou enganado pela inferência que ele tira dessa omissão. Tivesse o artigo sido usado, o príncipe referenciado teria claramente sido "Messias, o Príncipe", do verso 25. No inglês/português o artigo não tem essa forma e, portanto, é inserido corretamente, como os tradutores e revisores reconheceram. O Dr. Tregelles aqui comenta: "É dito aqui que essa destruição será provocada por certo povo, não pelo príncipe que virá, mas pelo seu povo; isso nos remete, acredito, aos romanos, pois foram os últimos possuidores do poder gentio não dividido; eles fizeram a destruição muitas épocas atrás. O príncipe que virá é o último líder do poder romano, a pessoa a respeito de quem Daniel tinha recebido tantas instruções anteriores." Tal é a proeminência desse grande líder que aqui é citado junto com nosso próprio Senhor nessa profecia, e o povo do império romano é descrito como sendo "o povo dele". No entanto, o Dr. Guinness acredita que a referência é a Tito! Realmente já passou o tempo de discutir esse tipo de sugestão.

Posso aqui comentar que a tradução de Daniel 9:27 na Versão Revisada descarta a idéia fantasiosa que é o Messias quem fez a aliança de sete anos com os judeus. Fazer cessar o sacrifício não é um incidente no meio da "semana", mas uma violação ao tratado "na metade da semana".

[12] A referência ao templo é explicada por Daniel 9:27, 12:11 e Mateus 24:15. Esses mestres nos pedem para acreditar que embora a Igreja de Roma seja a besta e a prostituta e tudo o que é corrupto e infame no cristianismo apóstata, o grande santuário central dessa apostasia, a Basílica de São Pedro, é reconhecida por Deus como sendo o Templo de Deus. O sacrifício da missa eles denunciam como idólatra e blasfemo, mas mesmo assim devemos supor que as Escrituras Sagradas refiram-se a ela como representando tudo o que é divino sobre a Terra! As palavras sagradas admitem somente um significado, isto é, que o Anticristo, afirmando ser ele mesmo divino, suprimirá toda a adoração a qualquer outro deus.

Tais são as extravagâncias e puerilidades de interpretação e de previsão que estragam os escritos desses intérpretes, que homens tenham vindo a considerar essas visões, que devem inspirar reverência e temor, como "assuntos principais de ridículo" — a especialidade dos místicos e dos modistas. Quão grande é a necessidade, então, de um esforço unido e sustentado para resgatar o estudo do desprezo em que caiu! Cada uma das escolas de interpretação reconhecidas tem verdades que as escolas rivais negam. Um novo tempo iniciaria se os cristãos se voltassem de todas essas escolas — a Preterista, a Histórica e a Futurista — e aprendessem a ler as profecias como lêem qualquer outra parte das Escrituras: como sendo a palavra Daquele que é, que era, e que há de vir, nosso Deus Jeová, para quem o presente, o passado e o futuro são apenas um "eterno presente".

Fim de "O Príncipe Que Há de Vir"

Traduzido a partir do original em http://philologos.org/online.htm

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Data da publicação: 3/8/2005
Revisão: http://www.TextoExato.com
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