O Anticristo

Autor: Arthur W. Pink

CAPÍTULO 12

O Anticristo em Apocalipse 13

No capítulo 13 do Apocalipse duas bestas são descritas. A primeira representa o líder final do último grande império antes do estabelecimento do Reino Milenar de nosso Senhor. A segunda besta é denominada em outras passagens de "Falso Profeta". Há uma diferença de opinião sobre qual dessas bestas representa o Anticristo. No Apêndice do nosso livro The Redeemer's Return, em que este assunto é discutido e do qual aqui transcreveremos livremente, afirmamos que a opinião estava quase que igualmente dividida. Mas, durante os últimos cinco anos, fizemos uma investigação muito mais ampla e descobrimos que a grande maioria daqueles que escreveram sobre o assunto considera a primeira besta como o Anticristo e que somente alguns poucos — praticamente todos os quais pertencem a uma determinada escola — favorecem a visão alternativa. Entretanto, os escritos desses poucos tiveram uma ampla circulação e exerceram uma considerável influência sobre os estudantes das profecias, de modo que este nosso tratado sobre o Anticristo ficaria incompleto e deixaria alguns de nossos leitores desapontados se não disséssemos algo sobre o assunto. Não é no espírito de controvérsia que agora apresentamos nossas próprias razões para acreditarmos que a primeira besta de Ap. 13 é que é o Anticristo.

O livro do Apocalipse torna conhecido o fato que existe uma Trindade do Mal. Cada uma dessas três pessoas malignas entra em vista em Ap. 13. Primeiro, há a "besta" (v. 2). Segundo, há o "dragão" (v. 2). Terceiro, há "outra besta" (v. 11). O fato que sobre essa besta se diz: "e falava como um dragão" (v. 11) indica imediatamente sua natureza e caráter satânicos, pois a boca fala aquilo que está no coração. A natureza demoníaca de cada uma dessas pessoas malignas aparece claramente em Ap. 16:13-14, em que lemos: "E da boca do dragão, e da boca da besta, e da boca do falso profeta vi sair três espíritos imundos, semelhantes a rãs. Porque são espíritos de demônios, que fazem prodígios; os quais vão ao encontro dos reis da terra e de todo o mundo, para os congregar para a batalha, naquele grande dia do Deus Todo-Poderoso." Depois, em Ap. 19:19-20, somos informados: "... E a besta foi presa, e com ela o falso profeta, que diante dela fizera os sinais, com que enganou os que receberam o sinal da besta, e adoraram a sua imagem. Estes dois foram lançados vivos no lago de fogo que arde com enxofre." Finalmente, em 20:10, lemos: "E o diabo, que os enganava, foi lançado no lago de fogo e enxofre, onde está a besta e o falso profeta; e de dia e de noite serão atormentados para todo o sempre."

As escrituras acima estabelecem de forma clara o fato que há uma Trindade do Mal. Agora, certamente não são necessários argumentos para provar que esses três personagens malignos estão em oposição e são antíteses das três pessoas na Divindade. O Diabo se opõe a Deus, o Pai — "Vós tendes por pai ao diabo, e quereis satisfazer os desejos de vosso pai..." (Jo. 8:44, etc.) O Anticristo se apresenta em oposição ao Filho de Deus — seu próprio título indica isto. A terceira pessoa maligna se apresenta em oposição ao Espírito Santo. Se este for o caso, então nossa tarefa presente está grandemente simplificada; é uma simples questão de observar o que está separadamente predito a respeito das duas bestas em Ap. 13 para entender qual delas está em oposição a Cristo e qual está em oposição ao Espírito Santo.

Agora, existem somente dois argumentos plausíveis que foram apresentados para apoiar a ideia que a segunda besta de Ap. 13 é que é o Anticristo, mas tanto quanto estejamos cientes, ninguém tentou demonstrar que a primeira besta represente a terceira pessoa na Trindade do Mal! Todavia, ela precisaria representar, se a segunda besta for o Anticristo! Isto é inegavelmente claro a partir de Ap. 16:13-14 e 19:19-20. O primeiro argumento usado é tirado da linguagem de 13:11, que, a respeito da segunda besta diz: "tinha dois chifres semelhantes aos de um cordeiro; e falava como o dragão." Os expoentes desse argumento dizem que é o Anticristo quem está em vista aqui, imitando o Cordeiro de Deus. Pessoalmente, estamos admirados que tal afirmação tenha sido feita com seriedade. É difícil imaginar um tiro tão longe assim do alvo, considerando que não somente é dito que essa besta com dois chifres era "como o cordeiro", mas no mesmo livro do Apocalipse, o cordeiro é retratado com "sete chifres" (veja Ap. 5:6). Mas, se essa segunda besta, o Falso Profeta, é o oponente do Espírito de Deus, então os dois chifres têm um significado pertinente, pois dois é o número das testemunhas e, exatamente como Cristo declarou que o Espírito de Deus "testificará de mim" (Jo. 15:26), assim a terceira pessoa na Trindade do Mal testificará da primeira besta — veja Ap. 13:12,14,16. Em segundo lugar, a primeira besta de Ap. 13 é apresentada como líder político, enquanto que a segunda é vista como líder religiosa. Mas, se isto não for um erro ruim, certamente precisa ser modificado. É a primeira besta, não a segunda, que é adorada (v. 12)! Tendo assim observado rapidamente as duas principais objeções que foram trazidas contra a posição, estamos prestes a definir e defender, apresentaremos agora alguns dos muitos argumentos do outro lado.

Em primeiro lugar, considerar o Anticristo como limitado ao aspecto religioso e divorciado do político parece para nós que deixa de lado inteiramente um elemento essencial e fundamental de seu caráter e carreira. O Anticristo afirmará ser o verdadeiro Cristo, o Cristo de Deus. Portanto, ele se apresentará aos judeus como seu longamente aguardado Messias — que foi predito pelos profetas do Velho Testamento. Diante da cristandade apóstata, entregue por Deus para acreditar na Mentira, ele posará como Cristo em seu retorno. Portanto, não precisamos predizer, como um corolário inevitável, que o falso cristo dará início a um falso milênio e que governará um falso reino messiânico? Que esta conclusão é totalmente apoiada pela Escritura mostraremos em um momento.

Por que (da perspectiva humana) quando nosso Senhor tabernaculou entre os homens, os judeus O rejeitaram como seu Messias? Não foi porque deixou de atender às expectativas que tomaria o governo sobre Seus ombros e portaria o cetro real assim que se apresentasse diante deles? Não foi por que eles esperavam que o Messias restaurasse o reino a Israel? Portanto, não é razoável supor que quando o Anticristo se apresentar a eles, terá em suas mãos grande poder temporal e governará sobre um vasto império terreal? Parece certo que sim. Felizmente, não somos deixados livres para fazer deduções e conclusões lógicas. Temos um "assim diz o Senhor" em que confiar. Em Dn. 11:36 — uma escritura sobre a qual todos concordam com relação à sua aplicação — o Anticristo é expressamente chamado de "rei que fará conforme a sua vontade". Aqui, então, está a prova inequívoca que o Anticristo exercerá poder político e governamental. Ele será um rei e, portanto, estará no comando de um reino.

Em segundo lugar, se o Anticristo for a perfeita falsificação do verdadeiro Cristo, se ele imitar o reino milenar de Cristo, conforme apresentado nas profecias do Velho Testamento — pois é evidente que ele não imitará o Cristo "sofredor" do primeiro advento — então segue-se necessariamente que ele cumprirá o papel de rei, isto é, reinará como um Rei dos reis, uma paródia de Satanás para o Filho do homem assentado sobre o trono da sua glória. Que o Anticristo também será o líder do mundo religioso, que exigirá e receberá honras divinas, é igualmente verdadeiro. Exatamente como no Milênio o Senhor Jesus será "sacerdote sobre seu trono" (Zc. 6:13), assim o Anticristo combinará em sua pessoa a liderança dos reinos político e religioso — veja nossas observações sobre Ez. 21:25-26 no Cap. 9. Além disso, exatamente como o Filho do Homem será o líder do quinto império mundial (Dn. 2:44), assim o Homem do Pecado será o líder do quarto império restaurado (Dn. 2:40).

Em terceiro lugar, fazer o Anticristo e o "falso profeta" a mesma pessoa nos coloca em uma dificuldade para a qual parece não haver solução. Em Ap. 19:20, lemos: "E a besta foi presa, e com ela o falso profeta, que diante dela fizera os sinais, com que enganou os que receberam o sinal da besta, e adoraram a sua imagem. Estes dois foram lançados vivos no lago de fogo que arde com enxofre." Se o Falso Profeta é o Anticristo, então quem é a "besta" que é lançada com ele no lago de fogo? A besta aqui não pode ser o Império Romano (as pessoas nele), pois nenhum membro do gênero humano (como tal) será lançado no lago de fogo antes do fim do Milênio (veja Ap. 20). Que a "besta" é uma entidade separada, outro indivíduo que não o Falso Profeta é também claro a partir de Ap. 20:10: "E o diabo, que os enganava, foi lançado no lago de fogo e enxofre, onde está a besta e o falso profeta; e de dia e de noite serão atormentados para todo o sempre." Nesta última escritura citada, cada uma das três pessoas na Trindade do Mal é especificamente mencionada e, se a besta não for o Anticristo, o Filho da Perdição, a segunda pessoa na Trindade do Mal, quem é ele?

Em quarto lugar, aquilo que está predito sobre a primeira besta em Ap. 13 se harmoniza muito melhor com aquilo que é revelado em outros lugares sobre o Anticristo, do que aquilo que é dito aqui sobre a segunda besta. Como prova da nossa afirmação, apresentamos o seguinte:

Pontos de Semelhança Entre a Primeira Besta de Ap. 13 e o Homem do Pecado de 2 Ts. 2:

  1. A primeira besta recebe seu poder, autoridade e grande poderio do Dragão — veja Ap. 13:2. Confira agora 2 Ts 2:9: "A esse cuja vinda é segundo a eficácia de Satanás, com todo o poder, e sinais e prodígios de mentira."

  2. Todo o mundo se maravilhará após a primeira besta — Ap. 13:2. Confira 2 Ts. 2:11-12: "E por isso Deus lhes enviará a operação do erro, para que creiam a mentira; para que sejam julgados todos os que não creram a verdade, antes tiveram prazer na iniquidade.", etc.

  3. A primeira besta é "adorada" — Ap. 13:4, Confira 2 Ts. 2:4: "O qual se opõe, e se levanta contra tudo o que se chama Deus, ou se adora; de sorte que se assentará, como Deus, no templo de Deus, querendo parecer Deus."

  4. A primeira besta tem uma boca: "E foi-lhe dada uma boca, para proferir grandes coisas e blasfêmias; e deu-se-lhe poder para agir por quarenta e dois meses" (Ap. 13:5). Compare com 2 Ts. 2:4: "O qual se opõe, e se levanta contra tudo o que se chama Deus, ou se adora; de sorte que se assentará, como Deus, no templo de Deus, querendo parecer Deus." Observe também que Ap. 13:5 diz o seguinte acerca da primeira besta: "E foi-lhe dada uma boca, para proferir grandes coisas e blasfêmias." Não é esta uma das principais marcas características do Anticristo?

  5. A primeira besta faz guerra contra os santos — Ap. 13:7. Confira 2 Ts. 2:4: "O qual se opõe, e se levanta contra tudo o que se chama Deus, ou se adora; de sorte que se assentará, como Deus, no templo de Deus, querendo parecer Deus." Isto é, ele procurará exterminar e erradicar tudo que leve o nome de Deus na terra.

A partir desses pontos de analogia, é evidente que a primeira besta de Ap. 13 e o Homem do Pecado de 2 Ts. 2 são a mesma pessoa.

Em quinto lugar, que a segunda besta não é o Homem do Pecado aparece do fato que a segunda besta faz todos adorarem a primeira besta (Ap. 13:12), enquanto que o Homem do Pecado exalta a si mesmo (2 Ts. 2:4) e compare Dn. 11:36: "E este rei fará conforme a sua vontade, e levantar-se-á, e engrandecer-se-á sobre todo deus; e contra o Deus dos deuses falará coisas espantosas, e será próspero, até que a ira se complete; porque aquilo que está determinado será feito." Como já indicamos, existem várias coisas que mostram claramente que a segunda besta é a terceira pessoa na Trindade do Mal, isto é, aquele que é a paródia satânica do Espírito Santo. O ponto que agora está diante de nós fornece confirmação adicional. Não há nada em Ap. 13, nem em parte alguma, que mostre que essa segunda besta seja adorada; em vez disso, ela direciona a adoração para a primeira besta. Portanto, ela não pode ser o pseudocristo, pois o Senhor Jesus repetidamente recebeu adoração (veja particularmente o Evangelho de Mateus) e será adorado em Seu retorno. Mas, essa segunda besta, que direciona a adoração para longe de si mesma, imita precisamente o Espírito Santo nesse sentido, pois em nenhuma parte do Novo Testamento a terceira pessoa da Santa Trindade é apresentado com um objeto distinto de adoração; em vez disso, Ele glorifica a Cristo (Jo. 16:14) levando nossos corações para Aquele que nos amou se entregou a Si mesmo por nós.

Os estudantes de assuntos proféticos em geral reconhecem que nosso Senhor se referiu ao Anticristo quando disse: "Eu vim em nome de meu Pai, e não me aceitais; se outro vier em seu próprio nome, a esse aceitareis." (Jo. 5:43). Se aquele mencionado aqui que "virá em seu próprio nome" é o Anticristo, então é certo que a segunda besta de Ap. 13 não pode ser o Anticristo, pois ela não vem em "seu próprio nome". Ao contrário, a segunda besta vem em nome da primeira besta, como é claro a partir de Ap. 13:12-15. Exatamente como o Espírito Santo — a terceira pessoa na Santa Trindade "não fala de si mesmo" (Jo. 16:13), mas está aqui para glorificar a Cristo, assim também a segunda besta, a terceira pessoa na Trindade do Mal, procurará glorificar a primeira besta, o Anticristo.

Se for objetado que a segunda besta é representada operando milagres (Ap. 13:13-14) e que o Homem do Pecado também virá "com todo o poder, e sinais e prodígios de mentira" (2 Ts. 2:9), de modo que a segunda besta precisa ser o Anticristo, a resposta é que o poder de operar milagres é comum em cada pessoa na Trindade do Mal. Exatamente como Deus o Pai, Deus o Filho, e Deus o Espírito Santo cada um realizam milagres, assim também o Dragão, a Besta e o Falso Profeta operam milagres (veja as provas em Ap. 16:13-14). Três coisas são ditas em conexão com a segunda besta que correspondem de perto com a obra do Espírito Santo. Primeiro, ela "faz fogo descer do céu à terra, à vista dos homens" (Ap. 13:13); confira Atos 2:1-4. Segundo, "foi-lhe concedido que desse espírito à imagem da besta" (Ap. 13:15), confira Jo. 3:6 — "nascido do Espírito". Terceiro, "faz que a todos, pequenos e grandes, ricos e pobres, livres e servos, lhes seja posto um sinal na sua mão direita, ou nas suas testas." (Ap. 13:16), confira Ef. 4:30: "E não entristeçais o Espírito Santo de Deus, no qual estais selados para o dia da redenção."

Finalmente, a segunda besta é claramente subordinada à primeira. Mas, será se os judeus receberiam como Messias e rei alguém que fosse vassalo de um romano? Não foi exatamente por esta razão que os judeus rejeitaram o Senhor Jesus, isto é, porque Ele era um súdito de César e porque se recusou a libertar os judeus do jugo romano?

Em sexto lugar, como vimos, em Dn. 11:36, o Anticristo é chamado de "rei" e, se é um rei, então precisa possuir um reino, e pode haver qualquer dúvida sobre a identidade desse reino? O reino do Anticristo será o mesmo que Satanás ofereceu em vão a Cristo, isto é, "todos os reinos do mundo, e a glória deles" (Mt. 4:8). Que o reino do Anticristo será muito maior do que a Palestina parece claro em Dn. 11:40-42: "E, no fim do tempo, o rei do sul lutará com ele, e o rei do norte se levantará contra ele com carros, e com cavaleiros, e com muitos navios; e entrará nas suas terras e as inundará, e passará. E entrará na terra gloriosa, e muitos países cairão, mas da sua mão escaparão estes: Edom e Moabe, e os chefes dos filhos de Amom. E estenderá a sua mão contra os países, e a terra do Egito não escapará." A partir desta escritura é também claro que o Anticristo será o líder de um grande exército e, portanto, precisará ser um governante político, bem como um chefe religioso.

Em sétimo lugar, há uma concordância geral entre os estudantes das profecias que pertencem à Escola Futurista, que o cavaleiro assentado sobre os quatro cavalos em Ap. 6 é o Anticristo. Se este for o caso, então temos prova adicional que o Anticristo e o líder do Império Romano restaurado são a mesma pessoa. Isto pode ser visto comparando-se três escrituras. Em Ap. 6:8, a respeito do cavaleiro assentado sobre o cavalo amarelo, lemos: "tinha por nome Morte e o inferno o seguia" Em Is. 28:18, aqueles que estiverem em Jerusalém durante o período da Tribulação são tratados por Jeová como segue: "E a vossa aliança com a morte se anulará; e o vosso acordo com o inferno não subsistirá; e, quando o dilúvio do açoite passar, então sereis por ele pisados." Que aliança pode ser esta, senão aquela mencionada em Dn. 9:27, em que lemos que o príncipe romano (o líder do Império Romano restaurado) confirmará a aliança com muitos por sete anos? Agora, inverta a ordem dessas três passagens e o que aprendemos? Em Dn. 9:27 aprendemos que o príncipe do Império Romano fará um pacto com os judeus. Em Is. 28:18, esse pacto é chamado de aliança com a morte e acordo com o inferno. Finalmente, em Ap. 6:8, o cavaleiro assentado sobre o cavalo amarelo (que é geralmente admitido como sendo o Anticristo) é chamado de "Morte e Inferno". Portanto, de qualquer ângulo que abordemos o assunto, podemos ver que o Anticristo será o líder do quarto reino mundial.

Anterior | Índice | Próximo


Data da publicação: 20/9/2010
Revisão: http://www.TextoExato.com
A Espada do Espírito: https://www.espada.eti.br/anticisto-cp12.asp