A Igreja Não Substituiu Israel — Compreendendo o Papel de Israel no Plano de Deus para o Fim dos Tempos

Autor: Jeremy James, Irlanda, 7/12/2023.

Nos últimos doze anos escrevemos diversos ensaios sobre Israel e seu papel na profecia do fim dos tempos. Ao longo de todo o caminho, tentamos mostrar que o Estado de Israel foi fundado de acordo com a Lei Internacional ("Prova do Direito Legal e Moral de Israel Existir como um Estado Soberano") e que a Teologia da Substituição, que afirma que a Igreja substituiu Israel, não tem fundamento na Escritura ("A Teologia da Substituição Perverte e Rejeita o Propósito Profético de Deus para Israel").

Falamos também do aparecimento do antissemitismo "cristão" ("Israel e o Crescimento do Antissemitismo 'Cristão'" e artigo 369 no website do autor), a distinção entre o Sionismo cristão e o Sionismo bíblico ("Sionismo Bíblico ou Sionismo Cristão?"), como os cristãos podem identificar o povo judeu ("O Povo Judeu nas Profecias Referentes ao Fim dos Tempos"), a importância de Jerusalém na profecia do fim dos tempos ("A Cidade Santa: O Senhor Deus Escolheu Jerusalém para Seu Filho") e a continuidade dos compromissos que Deus fez a Israel via Abraão, Isaque, Jacó, e Davi (artigo 24 no website do autor e "O Conflito no Oriente Médio — O Senhor Não Rejeitará o Seu Povo" ).

Examinamos também o Holocausto ("Queimadura em Lugar de Formosura: Uma Visão Bíblica do Holocausto") e a terrível ameaça representada pela Sinagoga de Satanás ("Uma Compreensão Bíblica a Respeito da Sinagoga de Satanás").

Juntos, esses 12 ensaios contêm cerca de 360 páginas.

Não esperamos que nossos leitores revisem esses ensaios de modo a tratar adequadamente as questões levantadas neste ensaio atual. Tentaremos da melhor forma que pudermos fornecer informações suficientes aqui para apoiar nossos pontos e argumentos. Indicaremos também ensaios relevantes, onde for apropriado, para os leitores que desejem olhar mais profundamente uma determinada questão.

Dois artigos de pano de fundo essencias sobre este tópico

A Perspectiva de Deus a Respeito de Israel é a ÚNICA que Importa

Queremos manter este ensaio o mais curto possível, tanto para torná-lo fácil de digerir e para registrar em um local único o relato básico da perspectiva de Deus sobre Israel. É triste relatar que a maioria dos cristãos professos está totalmente ignorante da perspectiva de Deus a respeito de Israel, embora ela seja a única que importa.

Fomos motivados a escrever este ensaio por diversas afirmações infundadas feitas por Chuck Baldwin em uma carta aberta que ele enviou para um grupo de sionistas cristãos, que inclui Ralph Reed, James Dobson, Robert Jeffress, Jonathan Falwell, John Hagee, Richard Land e Jack Graham. A mensagem dele foi datada de 30/11/2023 e foi dirigida contra e é altamente crítica da interpretação deles da Escritura no que se refere a Israel no fim dos tempos e, em particular, o pedido deles por um continuado suporte dos EUA ao governo Netanyahu e sua campanha militar brutal em Gaza. O texto da mensagem do pastor Baldwin pode ser encontrado em:

https://chuckbaldwinlive.com/Articles/tabid/109/ID/4465/News-Flash-For-Ralph-Reed-James-Dobson-Robert-Jeffress-Jonathan-Falwell-John-Hagee-Richard-Land-Jack-Graham-Et-Al.aspx

A Formação do Pastor Baldwin

O perfil biográfico do pastor, publicado em seu website, inclui o seguinte:

"De 1979-1989, o Dr. Baldwin serviu como presidente em Pensacola e depois como presidente estadual da Maioria Moral na Flórida. Chuck viajava frequentemente com o Dr. Jerry Falwell para encontros e manifestações em todo o estado da Flórida, na capital Washington, e até no exterior..."

"O Dr. Falwell convidava o pastor Baldwin para escrever artigos para seu Liberty Journal e também para comparecer ao seu programa de televisão Old Time Gospel Hour. Os esforços de Chuck em todo o estado da Flórida ajudou a registrar mais de 50.000 novos eleitores durante o período da campanha presidencial de 1980."

Ao apresentarmos nossos argumentos, não é nossa intenção questionar o desejo sincero do pastor de interpretar as Escritura conforme Deus quis e hornar Sua santa vontade. Desejamos somente mostrar que a substância do argumento dele — no que se refere a Israel no fim dos tempos — está errada e que provavelmente causará uma grande confusão entre os cristãos.

Uma Questão Negligenciada no Estudo Bíblico

Antes de questionarmos algumas afirmações específicas feitas pelo Dr. Baldwin, precisamos revisar uma questão que impacta a interpretação bíblica que é raramente mencionada, até mesmo por comentaristas bem respeitados. Se formos dar a essa questão um nome, poderíamos chamá-la de "exclusividade judaica inflexível".

Quando Deus criou a nação de Israel e a chamou para fora do Egito, Ele explicou Seu propósito ao fazer isso e o que esperava desse povo "escolhido" especial:

"Pois, que nação há tão grande, que tenha deuses tão chegados como o SENHOR nosso Deus, todas as vezes que o invocamos? E que nação há tão grande, que tenha estatutos e juízos tão justos como toda esta lei que hoje ponho perante vós?" [Deuteronômio 4:7-8].

Eles viram sinais e maravilhas extraordiários de Deus, mais evidências impressionantes de Seu cuidado providencial na forma de grande fartura, bênçãos e proteção.

Sendo uma nação separada, os israelitas começaram a ver as nações ao redor deles com desdém. Por exemplo, o contato físico com um estrangeiro era proibido, pois havia o risco de contaminação com alguma impureza. O estrangeiro poderia ter tido contato com um corpo morto e estava, portanto, contaminado. Essa contaminação passaria para o judeu que tocasse esse estrangeiro, tornando-o imundo também. Assim, a interação social entre judeus e as pessoas das outras nações era restrita a algum grau dentro da Lei, porém essa segregação social era grandemente exagerada pelos judeus.

Os pagãos tinham também muitas práticas impuras ou abomináveis (como a prostituição cultual) e eram frequentemente referenciados como "cães". Isto não era meramente um termo de desprezo, mas em certo respeito, uma descrição de sua condição espiritual. Por exemplo, os judeus eram proibidos de comer carne com sangue, enquanto que os pagãos frequentemente consumiam o sangue dos animais em seus ritos sacrificiais.

Hoje, os fiéis cristãos podem ficar pasmos pela resposta que Jesus deu à mulher siro-fenícia — uma gentia — quando ela pediu que Ele curasse sua filha:

"Mas Jesus disse-lhe: Deixa primeiro saciar os filhos; porque não convém tomar o pão dos filhos e lançá-lo aos cachorrinhos." [Marcos 7:27].

Embora Jesus tenha usado a palavra kunarion ("cachorrinhos", como cães de estimação), em vez de kyon (cães de rua), o que seria um epíteto mais severo, Ele estava, apesar disso, traçando uma clara distinção entre os judeus e os gentios.

Os "filhos" em questão eram os filhos de Israel, enquanto que os "cachorrinhos" eram os gentios. Incrivelmente, a mulher compreendeu que as bênçãos recebidas pelos judeus seriam passadas no tempo devido aos gentios. Jesus a elogiou por sua fé — como mostrado por essa preciosa compreensão — e curou a filha dela.

Como John Gill diz em seu comentário referente a Marcos 7:27:

"... 'filhos' significam os israelitas, que não eram apenas filhos de Abraão, por descendência natural, mas os filhos de Deus, a quem pertenciam a adoção, por virtude da aliança nacional feita com eles; por "cachorrinhos" estão indicados os gentios, que eram vistos assim pelos judeus..."

A dura realidade é que, em nosso estado não-regenerado, somos todos "cachorrinhos". O apóstolo Paulo descreveu nossa condição sem esperança e de separação como segue:

"Que naquele tempo estáveis sem Cristo, separados da comunidade de Israel, e estranhos às alianças da promessa, não tendo esperança, e sem Deus no mundo." [Efésios 2:12].

Somente por meio da fé no poder santificador da Cruz é que nos tornamos filhos de Deus.

A Exclusividade Judaica Inflexível

Ao longo dos séculos, desde Sinai até a construção do primeiro Templo, os judeus viram cada vez mais a separação deles das nações como uma marca de sua superioridade étnica. Em vez de testemunharem, para os estrangeiros e convidá-los para se tornarem prosélitos do Judaísmo (como o centurião Cornélio), eles os viam como réprobos incorrigíveis que certamente não poderiam aspirar aos altos padrões morais e espirituais professados pelos judeus.

Temos um exemplo surpreendente dessa exclusividade judaica "inflexível" no livro de Jonas, que foi escrito em algum ano dentro do século oitavo AC. O profeta foi chamado por Deus para levar uma mensagem ao povo de Nínive, mas emperrou diante daquela ideia. Para ele, os ninivitas eram pessoas brutais e rapaces, que mereciam ser exterminados. Jonas sabia que Deus sempre era misericordioso e que, provavelmente, iria adiar o dia de julgamento dos ninivitas, se ele fosse e pregasse para eles. Assim, ele decidiu desobecer a Deus e deixar os ninivitas entregues ao seu destino. Ele então partiu para Társis, em vez de ir para Ninive.

Depois de passar por uma punição severa, recebida de Deus, Jonas finalmente chegou a Nínive e fez conforme tinha sido instruído. Quando viu a transformação profunda que ocorreu com aquele povo, ele ficou profundamente aborrecido. Isto era exatamente o que ele temia! Ele decidiu ficar ali perto e ver se aquela expressão de arrependimento seria aceitável a Deus. As condições do tempo tornaram sua espera insuportável mas, embora ainda houvesse uma pequena possibilidade de Deus enviar Seus julgamentos sobre os ninivitas, Jonas estava decidido a aguardar e testemunhar a destruição deles.

Lembre-se que Jonas era um profeta de Deus! Além disso, por meio da incrível misericórdia de Deus — ele foi tirado de uma morte certa no ventre do grande peixe que o engoliu. Todavia, quando ficou aparente que a mesma misericórdia poderia ser estendida sobre aqueles pagãos imundos, ele ficou grandemente aborrecido. Eles não mereciam aquela misericórdia! Logicamente, Jonas nunca parou para considerar se a misericórdia que Deus demostrou para ele — livrando-o da morte certa no ventre do grande peixe — era merecida.

Jonas tinha se esquecido daquilo que Deus disse a Moisés:

"Porém ele disse: Eu farei passar toda a minha bondade por diante de ti, e proclamarei o nome do SENHOR diante de ti; e terei misericórdia de quem eu tiver misericórdia, e me compadecerei de quem eu me compadecer." [Êxodo 33:19].

A mesma atitude de Jonas estava fixada na mente da maioria dos judeus até o tempo de Cristo e além. Eles sabiam, exatamente como Jesus mais tarde confirmou, que "a salvação vem dos judeus" (João 4:22), mas tinham se esquecido que a salvação também seria estendida, no tempo devido, por meio dos judeus, aos gentios.

A atitude de Jonas dizia: "Mas os gentios não merecem!" Infelizmente, os judeus tinham escolhido negligenciar um fato importantíssimo, isto é, que eles também não mereciam!

A salvação, seja em relação aos judeus ou aos gentios, é um DOM de Deus totalmente imerecido! Não há NADA que possamos fazer para merecê-la.

A Parede de Separação

Assim, quando o apóstolo Paulo disse que Cristo, por meio do Calvário, derrubou a parede de separação que existia entre os judeus e gentios (Efésios 2:14), ele estava aludindo à essa verdade incrivelmente importante. O Calvário — não a Lei — salvou os judeus justos, exatamente como o Calvário salvou os gentios justos. Somos todos salvos por meio do sangue de Cristo. Não existe absolutamente exceção alguma a isto.

Se uma pessoa viveu antes do tempo de Cristo, ou depois, é irrelevante. Não faz diferença. O Calvário salvou Abraão, Isaque e Jacó. Somos todos salvos por meio da fé. Hebreus 11 descreve isto claramente.

O que estamos chamando de "exclusividade judaica inflexível" é expresso perfeitamente no livro de Jonas. Essa "atitude de Jonas" era muito comum na terra de Israel no tempo de Cristo e dificultou grandemente a propagação do Evangelho para fora da comunidade judaica. Os próprios apóstolos ficaram surpresos quando Pedro foi até Jerusalém e reportou que o Espírito Santo tinha vindo sobre os gentios — Cornélio e sua família — exatamente como tinha vindo sobre eles, os judeus.

À luz disso, achamos que pelo menos o apóstolo Pedro tinha superado essa "atitude de Jonas", mas ela ainda perdurava nele por meio de seu profundo respeito pela Lei Mosaica. O apóstolo Paulo teve de repreendê-lo em público por evitar fazer as refeições comunitárias junto com os gentios quando judeus estavam presentes. Barnabé, também, teve a mesma atitude (Gálatas 2).

Paulo teve de batalhar com essa tendência durante todo seu ministério — a crença que os judeus eram uma classe distinta e separada de cristãos. Existem até episódios no Novo Testamento em que os judeus parecem ver a si mesmos, não apenas como uma classe separada de cristãos, mas como uma classe superior. Por exemplo, as mulheres viúvas cristãs gregas não estavam sendo tratadas com o mesmo respeito que suas correspondentes hebraicas (Atos 6).

Isto nos traz à seção na carta do pastor Baldwin — veja abaixo — onde ele cita a Escritura em suporte à sua visão que os judeus, como uma nação escolhida, cessaram de existir depois que eles rejeitaram seu Messias e foram substituídos por aquilo que ele chama de "o povo de Deus da Nova Aliança":

"Irmãos vocês deliberada e enganosamente escolheram não contar aos seus seguidores a verdade a respeito do povo de Deus da Nova Aliança. Vocês ignoram deliberadamente, ou aplicam incorretamente, a maior parte do livro de Gálatas, versos como Gálatas 3:16:"

"Ora, as promessas foram feitas a Abraão e à sua descendência. Não diz: E às descendências, como falando de muitas, mas como de uma só: E à tua descendência, que é Cristo."

"E Gálatas 3:28,29:"

"Nisto não há judeu nem grego; não há servo nem livre; não há macho nem fêmea; porque todos vós sois um em Cristo Jesus. E, se sois de Cristo, então sois descendência de Abraão, e herdeiros conforme a promessa."

"Vocês fingem que Romanos 9:6-8 não está na Bíblia:"

"Não que a palavra de Deus haja faltado, porque nem todos os que são de Israel são israelitas; nem por serem descendência de Abraão são todos filhos; mas: Em Isaque será chamada a tua descendência. Isto é, não são os filhos da carne que são filhos de Deus, mas os filhos da promessa são contados como descendência."

"O mesmo é verdadeiro para Romanos 2:28,29:"

"Porque não é judeu o que o é exteriormente, nem é circuncisão a que o é exteriormente na carne. Mas é judeu o que o é no interior, e circuncisão a que é do coração, no espírito, não na letra; cujo louvor não provém dos homens, mas de Deus."

As Quatro Passagens em Geral

Examinaremos essas quatro passagens da Escritura, uma de cada vez, e veremos se elas estão realmente dizendo aquilo que o pastor Baldwin afirma. De fato, quase não deveria ser necessário examinar cada uma delas individualmente, pois deve estar aparente, à luz de nossa discussão até aqui, que elas estão todas expressando, e estão fundamentadas na mesma verdade, isto é, que a salvação dos judeus e gentios, como indivíduos, está baseada totalmente na fé deles em Cristo. Quando ele se refere a Abraão, Isaque, Jacó e seus descendentes — a nação de Israel — ele quer que o leitor compreenda que os judeus não são salvos por virtude de sua identidade étnica e que os conversos judeus ao Cristianismo não são uma classe separada de cristãos.

Ele está falando da exclusividade judaica inflexível, a visão mantida por muitos judeus convertidos ao Cristianismo ao tempo que, como membros do "povo escolhido", eles eram de algum modo especiais. Eles deixavam de ver que os gentios que se convertiam ao Cristianismo também eram "povo escolhido" — sendo membros da Ecclesia, os "chamados para fora":

"Ninguém pode vir a mim, se o Pai que me enviou o não trouxer; e eu o ressuscitarei no último dia." [João 6:44].

"Ainda tenho outras ovelhas que não são deste aprisco; também me convém agregar estas, e elas ouvirão a minha voz, e haverá um rebanho e um Pastor." [João 10:16].

"Mas vós sois a geração eleita, o sacerdócio real, a nação santa, o povo adquirido, para que anuncieis as virtudes daquele que vos chamou das trevas para a sua maravilhosa luz." [1 Pedro 2:9].

Os fariseus tinham distorcido a Palavra de Deus e ensinavam que todos os descendentes de Abraão (por meio de Isaque e Jacó) eram salvos com base nisso somente. Esta era uma forma extrema de exclusividade judaica inflexível! Por meio dessas passagens, Paulo queria que seus leitores judeus vissem que os fariseus estavam errados, que a fé tinha SEMPRE sido a base da salvação e que eles teriam de rever a compreensão da salvação deles sob a Antiga Aliança.

Isto é tratado diretamente na Epístola aos Hebreus, que diz:

"Mas com quem se indignou por quarenta anos? Não foi porventura com os que pecaram, cujos corpos caíram no deserto? E a quem jurou que não entrariam no seu repouso, senão aos que foram desobedientes? E vemos que não puderam entrar por causa da sua incredulidade." [Hebreus 3:17-19].

Nada disso afetava as promessas feitas por Deus para a nação de Israel. Os filhos de Israel não tinham sido substituídos pela Igreja (a Ecclesia, ou "os chamados para fora"). Enquanto eles continuassem a existir como nação, essas promessas irrevogáveis permaneceriam. Jesus disse que o Israel nacional continuaria a existir como uma nação, mas que, como uma nação, eles se voltariam para o Senhor e aceitariam Cristo como Messias somente quando "os tempos dos gentios" se completassem (Lucas 21:24) ["O Povo Judeu nas Profecias Referentes ao Fim dos Tempos"]. Os judeus individuais podem aceitar Cristo a qualquer tempo, mas a nação como um todo somente fará isso quando esse julgamento severo de Deus tiver sido executado até o fim.

As Quatro Passagens Individualmente

Examinaremos agora cada uma das quatro passagens individualmente.

Passagem 1:

"Ora, as promessas foram feitas a Abraão e à sua descendência. Não diz: E às descendências, como falando de muitas, mas como de uma só: E à tua descendência, que é Cristo." [Gálatas 3:16].

Presumivelmente, o pastor Baldwin interpreta que este verso significa que as promessas feitas a Abraão, Isaque e Jacó realmente têm a intenção de se aplicar a Jesus e a Ele somente. Assim, as promessas não têm aplicação continuada para Israel após o nascimento de Jesus.

As promessas em questão, para o qual Paulo está se referindo, são aquelas feitas em Gênesis 22:17-18:

"Que deveras te abençoarei, e grandissimamente multiplicarei a tua descendência como as estrelas dos céus, e como a areia que está na praia do mar; e a tua descendência possuirá a porta dos seus inimigos. E em tua descendência serão benditas todas as nações da terra; porquanto obedeceste à minha voz."

É manifestamente óbvio que as promessas feitas em Gênesis 22 estavam fundamentadas na chegada final de um descendente (a "semente") que iria permitir que elas fossem cumpridas, como era a intenção de Deus. Este é o ponto que Paulo estava apresentando. Ele não estava dizendo que Israel cessaria de existir como uma nação aos olhos de Deus após o nascimento de Jesus (artigo 24 no website do autor e "O Conflito no Oriente Médio — O Senhor Não Rejeitará o Seu Povo").

Passagem 2:

"Nisto não há judeu nem grego; não há servo nem livre; não há macho nem fêmea; porque todos vós sois um em Cristo Jesus. E, se sois de Cristo, então sois descendência de Abraão, e herdeiros conforme a promessa." [Gálatas 3:28-29].

Os proponentes da Teologia da Substituição gostam muito desta passagem e a citam frequentemente. Eles consideram que ela significa que todos os convertidos ao Cristianismo são filhos de Abraão, espiritualmente falando, e se apropriam, ou herdam as promessas feitas a Abraão como se eles fossem judeus étnicos. Essa interpretação oblitera a distinção entre judeus e gentios e nega à nação de Israel qualquer papel adicional no plano profético de Deus. A Igreja torna-se o novo Israel e se apropria de todas as promessas feitas para Abraão, Isaque e Jacó.

Uma leitura com senso comum da passagem mostrará que essa interpretação não pode de forma alguma ser correta. Se fosse correta, então não haveria distinção de gênero entre os cristãos! Paulo está simplesmente lidando com o problema que já discutimos, isto é a exclusividade judaica inflexível. Ele está dizendo que, espiritualmente falando, não existem "judeus étnicos" como tais na Igreja, somente judeus convertidos ao Cristianismo. Todos os membros da Igreja, o corpo de Cristo, têm uma posição idêntica diante de Deus.

Ao dizer isto, ele não está afirmando que a nação de Israel tinha cessado de existir aos olhos de Deus, ou que ela não tinha papel adicional no plano profético de Deus [artigo 24 no website do autor e "O Conflito no Oriente Médio — O Senhor Não Rejeitará o Seu Povo").

Passagem 3:

"Não que a palavra de Deus haja faltado, porque nem todos os que são de Israel são israelitas; nem por serem descendência de Abraão são todos filhos; mas: Em Isaque será chamada a tua descendência. Isto é, não são os filhos da carne que são filhos de Deus, mas os filhos da promessa são contados como descendência." [Romans 9:6-8].

Com relação a esta passagem, gostaríamos de referenciar mais uma vez um comentário que fizemos anteriormente (reproduzido abaixo).

A salvação, seja em relação aos judeus ou aos gentios, é um DOM de Deus totalmente imerecido! Não há NADA que possamos fazer para merecê-la.

Assim, quando o apóstolo Paulo disse que Cristo, por meio do Calvário, derrubou a parede de separação que existia entre os judeus e gentios (Efésios 2:14), ele estava aludindo à essa verdade incrivelmente importante. O Calvário — não a Lei — salvou os judeus justos, exatamente como o Calvário salvou os gentios justos. Somos todos salvos por meio do sangue de Cristo. Não existe absolutamente exceção alguma a isto.

Se uma pessoa viveu antes do tempo de Cristo, ou depois, é irrelevante. Não faz diferença. O Calvário salvou Abraão, Isaque e Jacó. Somos todos salvos por meio da fé. Hebreus 11 descreve isto claramente.

Os judeus étnicos não são salvos por que são descendentes de Abraão. Isto nunca tinha sido o caso. Todos os judeus no tempo do Velho Testamento eram salvos por meio da fé. Como exatamente a fé deles era avaliada por Deus, dado que o Messias ainda não tinha vindo, não é algo que possamos dizer com certeza, embora Hebreus 11 dê alguma orientação neste sentido.

Esta passagem, Romanos 9:6-8, não pode ser tomada para significar que a Igreja substituiu a nação de Israel, ou que a nação de Israel não mais tinha um papel profético distinto no plano de Deus para a humanidade (artigo 24 no website do autor e "O Conflito no Oriente Médio — O Senhor Não Rejeitará o Seu Povo").

Passagem 4:

"Porque não é judeu o que o é exteriormente, nem é circuncisão a que o é exteriormente na carne. Mas é judeu o que o é no interior, e circuncisão a que é do coração, no espírito, não na letra; cujo louvor não provém dos homens, mas de Deus." [Romanos 2:28-29].

Esta passagem é outra favorita dos proponentes da Teologia da Substituição, que a citam frequentemente com um ar de triunfo. É como se eles estivessem dizendo: "Agora, refute isto — se puder!" Mas, mais uma vez, Paulo está reiterando o ponto que já apresentamos, isto é, que todos os judeus, até o tempo de Abraão, foram salvos pela fé somente. Os sinais exteriores da etnicidade deles — circuncisão, linhagem, rituais — por si mesmos não eram um fator determinante.

Recusando-se em Princípio a Permitir um Papel Profético para Israel

Um dos argumentos mais extraordinários contra o reconhecimento continuado por Deus da nação de Israel foi apresentado para mim por um jovem pastor calvinista. Ele disse que, como isso dava a Israel um papel na profecia que ainda precisa ser cumprido, isso diminui a grandiosidade de Cristo. Aparentemente toda a profecia precisa referenciar a Cristo. Da forma como ele disse, a pessoa que acredita no papel futuro de Israel está permitindo que sua "escatologia" limite sua "Cristologia".

Os seminaristas hoje estão tão fortemente doutrinados pela Teologia da Substituição que, mesmo com um coração sincero e um desejo genuíno de honrar a Palavra de Deus, eles acham excessivamente difícil escapar das restrições impostas sobre eles por seus professores de Teologia.

O pastor comete o mesmo erro quando diz:

"TODAS as profecias do Antigo Testamento relacionadas com a nação de Israel foram cumpridas. Todas, até a última delas. O Israel nacional — ou, mas fatualmente, o remanescente do Israel nacional nas tribos de Judá e Benjamim, incluindo a cidade de Jerusalém e o templo judaico — foram aniquilados por Deus, usando o exército romano como Seu instrumento de justiça — no ano 70 da era cristã. Os assírios já tinham destruído as dez tribos do norte cerca de setecentos anos antes."

Esta afirmação rejeita furiosamente os inúmeros versos — tanto no Velho e no Novo Testamento — que falam de Israel como uma nação no fim dos tempos!

Como uma leitura simples da Palavra de Deus fornece muitas referências específicas a Israel como uma nação no fim dos tempos — o tempo da angústia de Jacó, Jerusalém como uma pedra pesada de carregar ["A Cidade Santa: O Senhor Deus Escolheu Jerusalém para Seu Filho"], a chegada do Anticristo, a reconstrução do Templo, as duas testemunhas no livro do Apocalipse ["A Missão das Duas Testemunhas no Livro do Apocalipse"], o testemunho surpreendente nos capítulos 12-14 do livro de Zacarias e muitas, muitas mais — é difícil acreditar que uma atitude como esta ainda persista.

Estranhamente, esta é uma forma moderna de exclusividade inflexível, somente que desta vez, o cristão é quem está pasmo diante da possibilidade que uma nação de apóstatas obstinados deva encontrar a salvação.

O Filho Pródigo

A Parábola do Filho Pródigo nos diz muito sobre esse relacionamento tenso. O filho bom está horrorizado que o pai dê as boas-vindas ao filho descaradamente desobediente e egoísta voltar para a família. Veja como ele se comportou! Ele certamente não merece ser trazido de volta ao seio amoroso do meu pai. O filho bom estava profundamente afligido por exclusividade inflexível.

Hoje os papéis estão invertidos ("Israel e o Crescimento do Antissemitismo 'Cristão'" e artigo 369 no website do autor). O cristão sempre habitou no seio amoroso de seu Pai. Ele tem sido zeloso e obediente, fazendo tudo que seu Pai pediu. Então, um dia, esse judeu desobediente, fedido e imundo aparece na porta. Ele trouxe grande vergonha à família e desgraçou-se em anos horríveis demais para relatar. Todavia, nosso Pai pretende dar as boas-vindas a ele como um filho que se perdeu há muito tempo. Isto é absurdo!

Bem, caro leitor, acostume-se com isto, pois a Palavra de Deus diz que é exatamente o que acontecerá. Quando, em alguma data futura, eles forem pegos no meio da Grande Tribulação, o remanenscente justo que existir no meio da nação de Israel invocará em um momento de grande angústia seu maravilhoso Messias e dirá, exatamente como Jesus predisse: "Bendito o que vem em nome do Senhor." [Mateus 23:39]).

O livro de Zacarias nos diz que somente um terço da nação de Israel se arrependerá e aceitará Jesus Cristo de Nazaré como seu Messias. Os dois terços restantes perecerão. A etnicidade deles não os salvará.

A Carta de Chuck Baldwin

Em geral, a rejeição do pastor Baldwin do Sionismo Bíblico está entre a mais extrema que já vimos. Ele está correto, em nossa opinião, quando afirma que sua audiência "sionista cristã" está seguindo uma agenda que não é bíblica (artigo 138 no website do autor e "Sionismo Bíblico ou Sionismo Cristão?"). A Palavra de Deus pede que oremos pela paz de Jerusalém (Salmos 122:6). E paz significa paz, não a matança sem sentido de civis inocentes. O que o governo Netanyahu está fazendo em Gaza — matando milhares de mulheres e crianças — é verdadeiramente horrível. Nos outros aspectos, porém, o pastor está grandemente enganado em sua exegese da Palavra de Deus.

Conclusão

Enquanto os cristãos continuarem a alegorizar grandes porções da Palavra de Deus, cobrindo todas as referências a Israel após o ano 70 em uma referência à Igreja ou a Cristo, e fingindo que todas as profecias relacionadas a Israel como nação foram cumpridas, seja em Cristo ou na história antiga, o verdadeiro significado da profecia do fim dos tempos será perdido, ou grandemente obscurecido.

A crença no papel de Israel como nação na profecia do fim dos tempos não diminui Cristo nem um pouco! Ao contrário, ela mostra exatamente o quanto nosso Redentor alcançou no Calvário e o quão completamente Ele removerá toda a iniquidade da Terra. Ele destruirá a Sinagoga de Satanás ("Uma Compreensão Bíblica a Respeito da Sinagoga de Satanás"). e libertará o remanescente justo da nação de Israel arrependida — do poder do Malingo ("O Conflito no Oriente Médio — O Senhor Não Rejeitará o Seu Povo").

Louvado seja o nome do Senhor. Grande é Sua misericórdia!

"E ele lhes disse: Ó néscios, e tardos de coração para crer tudo o que os profetas disseram!" [Lucas 24:25].

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Autor: Jeremy James, artigo 371 em http://www.zephaniah.eu
Data da publicação: 25/1/2024
A Espada do Espírito: https://www.espada.eti.br/Apocalipse/igreja-x-israel.htm